A CRIANÇA, QUAL É ESSA FERIDA?
Fala-se com imensa frequência da "criança ferida", da nossa criança, ou de se ser como uma criança. Mas ninguém quer ver de onde nasce a criança ferida de onde provém a ferida. A ferida da criança não é igual a do menino e da menina...Não! E o pior é que é a menina que se torna mãe que vai fazer reflectir sobre o homem e a mulher essa ferida/cisão do seu ser logo a partida e o grito ao nascer: "É Um Menino!"
A Ferida fulcral, inicial, é a ferida da Mulher, da mulher cindida, da Mãe ferida, da mãe mal tratada, abusada e desrespeitada pela máquina social que faz da mulher mal nasce um ser destituído de identidade e educada para servir a comunidade. Perfeitamente descriminada em relação ao irmão ao menino a quem a mãe privilegia e trata obviamente com esmero. Toda a mulher à partida nasce com o destino traçado...ou é a procriadora ou o objecto sexual e as suas variantes mais civilizadas, em que se torna objecto de prazer visual ou virtual, moda, publicidade, consumo/sexismo...e não me falem das mulheres "privilegiadas", medicas e advogadas e educadas, inteligentes e bem nascidas, as filhas do papá, as bem casadas ou primeiras damas ou camas ou lá o que forem...porque todas elas sofrem de discriminação e violência e abuso em casa e no trabalho.
A grande ferida da mulher anulada na sua essência e destituída da sua integridade é a grande ferida deste mundo: uma mãe não amada e uma criança rejeitada cria todos os ódios e lutas, todos os excessos, fundamentalismos e crimes e guerras. Esta é a realidade que ninguém quer ver e que os homens até os mais bem intencionados fazem por branquear e negam aludindo a uma igualdade que não existe nem tem que existir porque é a diferença que faz toda a diferença e não a "igualdade" com o macho das mulheres macho da nossa cultura.
rosaleonorpedro
Flor Del Sur
Marcou aqui meu sentir. Tenho uma percepção muito minha desta "criança ferida" como se o espírito da mulher ao nascer fosse mutilado. Ao firmar-se na carne das entranhas já sentisse o ambiente hostil a sua espera e desde as primeiras experiências neste mundo fosse privado de seu alimento vital. Sugando no seio da mãe já toda dor que ele sofreu , sentindo do olhar do pai o desprezo e decepção por ela ser uma fêmea e não o macho superior. E assim aquela criança espiritual tão poderosa , com toda a potência de magia , sabedoria , memória cósmica que vem impressa no DNA míticondrial da mãe e transmitida aos descendentes. Uma ferida que incidida na criança espiritual da mulher que passa a conviver com este ferimento , e fica cada dia mais profundo por todas as violências que cercam e aprisionam a mulher no seu corpo , na sua sexualidade , na psique, na alma. E muitas vezes para sobreviver , a mulher esconde de si mesma esta ferida , como os leprosos e suas chagas.
Estou num processo de expor ao sol da consciência minhas feridas e se não puder curar algumas , vou cicatrizar, amar a pelo enrugada e marcada . E percebo que estou me bendizendo e cada momento de reflexão honesta , nua e crua , a cada escrita em liberdade estou a fazer meus próprios medicamentos e ser a curandeira de mim ♡
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