O movimento de retorno
"É precisamente através dos primeiros sinais de envelhecimento, de perda ou de tragédia pessoal que a dimensão espiritual tradicionalmente entra na vida das pessoas. Isto significa que o seu propósito interior só emerge quando o seu propósito exterior cai por terra e a concha do ego começa a abrir-se. Tais acontecimentos representam o início do movimento de retorno rumo à dissolução da forma.
Na maior parte das culturas antigas, deve ter existido uma compreensão intuitiva deste processo, pelo que as pessoas mais velhas eram muito respeitadas e veneradas. Eram repositórios de sabedoria e forneciam a dimensão de profundidade, sem a qual nenhuma civilização pode sobreviver durante muito tempo. Na nossa civilização, que se identifica totalmente com o exterior e ignora a dimensão interior do espírito, a palavra «velho» tem sobretudo conotações negativas. Equivale à palavra «inútil», por isso quase consideramos um insulto referirmo-nos a alguém como velho.
Para evitar a palavra, usamos eufemismos como «idoso» e «ancião». A «avó» dos povos indígenas da América do Norte é uma figura com grande dignidade. A «avozinha» atual é, na melhor das hipóteses, «querida». Por que razão são os velhos considerados inúteis? Porque, na velhice, a ênfase muda do fazer para o Ser, e a nossa civilização, perdida no fazer, desconhece o Ser. Pergunta: Ser? O que é que se faz com isso?
No novo mundo, a velhice será universalmente reconhecida e altamente reconhecida e altamente valorizada como uma fase propícia ao florescimento da consciência. Para aqueles que continuam perdidos nas circunstâncias exteriores da vida, constituirá um momento tardio de regresso a casa, quando despertam para o seu propósito interior. Para muitos outros, representará uma intensificação e um culminar do processo de despertar."
Eckhart Tolle (Um Novo Mundo, pág. 231)
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