Fui ver o filme Colette.
Fui porque se tratava da vida de uma escritora que marcou uma geração de mulheres e porque gostava de gatos e tendo conhecido as agruras da vida como todas as mulheres naquele tempo - século passado - em que elas eram dependentes e viviam sem nenhuma autonomia, inteiramente sujeitas aos maridos, ela conseguiu libertar-se e afirmar-se por conta própria e sem medos dos preconceitos do "socialmente correcto" que é hoje imposto de forma subtil as mulheres em nome das pseudo liberdades...
No caso dela e sendo o seu marido um "bon vivant" ele era como quase todos os homens dentro do Sistema um usurpador (abusador nato) e explorador dos dons da mulher, fosse por dote, fosse pelos direitos adquiridos que o casamento lhe outorgava na sua posse sobre as mulheres. Dela ele usou não só os dons da escrita, mas da inspiração e da vitalidade, servindo-se do seu ser genuíno e autêntico - uma mulher indomável - que ele amava...dizia, mas sobretudo usava. E era no seu nome que publicava os livros que ela escrevia para se vangloriar e valorizar socialmente, o que infelizmente de uma maneira ou de outra não é muito diferente dos tempos actuais. Embora de formas aparentemente diferente e sem essa total dependência dos maridos e pais, as mulheres de hoje podem escrever com o seu nome, mas sempre sobre os homens...No seu caso, ela escrevia dela como mulher e os seus sentidos e sentimentos, emoções e experiências de vida e com isso deu um novo olhar as mulheres jovens da sua época.
As mulheres de hoje, olhando bem, continuam na mesma presas e sujeitas aos maridos embora a questão seja diferente: elas trabalham e ganham os seus ordenados, mas senão forem dependentes economicamente deles são-no sexual e emocionalmente, como é o caso das mulheres ditas emancipadas, tal como são dependentes ao nível das ideias e ideologias e tirando as feministas que pensando de alguma forma como mulheres, sendo marxistas e pouco femininas, não tem nada a ver com as características desta mulher indomável e selvagem que se afirmava pela sua vontade, interioridade e sensualidade, tão bem expressas nestas palavras:.
"Moi, c'est mon corps qui pense. Il est plus intelligent que mon cerveau. Il ressent plus finement, plus complètement que mon cerveau. [...] Toute ma peau a une âme."
La retraite sentimentale, Sidonie- Gabrielle Colette
Não vou falar do filme, deixo apenas um texto biográfico sobre a autora.
rlp
Não vou falar do filme, deixo apenas um texto biográfico sobre a autora.
rlp
COLETTE, começou como escritora, mas "Foi actriz de music hall , envolveu-se na resistência antinazi, fez um ballet para a Ópera de Paris, colaborou com Maurice Ravel, tornou-se uma escritora de renome, mas Sidonie- -Gabrielle
Colette (1873-1954) foi, acima de tudo, uma mulher muito à frente do seu tempo.
Colette (1873-1954) foi, acima de tudo, uma mulher muito à frente do seu tempo.
"OS NOSSOS PERFEITOS COMPANHEIROS NUNCA TÊM MENOS DE QUATRO PATAS." - COLETTE
A controvérsia acompanhou-a, desde que, aos 27 anos, publicou o primeiro livro - Claudine à l'École - respondendo ao desafio que lhe fora lançado pelo marido para escrever sobre as suas recordações de infância e juventude. Colette acedeu, mas a série Claudine (pelo menos quatro livros) seria assinada por 'Willy', a alcunha do marido, Henry Gauthier-Villars.
Terão sido, aliás, as aventuras extraconjugais de 'Willy' e a depressão que elas lhe provocaram que levaram a jovem Colette a livrar-se para sempre do papel de mulher submissa e de... esposa traída, que trocou por uma vida de liberdade. Esta, na Paris do início do século XX, conduzia directamente ao escândalo. A lista dos seus amantes - homens e mulheres, reais ou presumidos - é extensa e vai desde Josephine Baker (com quem se terá cruzado nos tempos em que mostrava os seus espectáculos no Moulin Rouge ou no Bataclan) a Maurice Goudeket, que acabaria por ser o seu terceiro e último marido. O escândalo terá dado frutos. Simone de Beauvoir reivindica a importância do seu exemplo na libertação do "segundo sexo". Para lá do escândalo, estava a escrita. Os seus livros (para os quais aproveita muitos episódios autobiográficos) contam histórias de relações amorosas num estilo poderoso e aproveitando uma capacidade de observação aperfeiçoada ao longo dos anos. No fim, era respeitada e até admirada e pertencia à Academia Goncourt. Em Dezembro de 1954, quando é atribuído o prémio a Os Mandarins, de Simone de Beauvoir, o júri do Goncourt ainda estava de luto pela morte de Colette, quatro meses antes. Celebrava-se uma passagem de testemunho. " D.N.
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