O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, julho 12, 2020

OS HOMENS MACHISTAS

Uma imagem e um exemplo de um machista...exaltado por um amor doentio e submisso .. 

"Elogio para a mulher rude.

Homens machistas, que somos como 96 por cento da população masculina, nos incomodam com mulheres de caráter áspero, duro, decidido. Temos palavras degradantes para designá-las: harpias, bruxas, viragos, marimachos. Na verdade, temos medo de vocês e não vemos a hora de fazê-los pagar muito caro o seu desafio ao poder masculino que até recentemente tínhamos detido sem questionamentos. A esses machistas incorrigíveis que somos, machistas ancestrais por cultura e por herança, nos incomodam instintivamente essas feras que em vez de se submeter à nossa vontade, atacam e se defendem.
A fêmea com que sonhamos, um sonho moldado por séculos de prepotência e por genes de feras (ainda desumanos), consiste em um casal jovem e mansa, doce e submissa, sempre com um sorriso de condescendência na boca. Uma mulher bonita que não discuta, que seja simpática e diga frases amáveis, que jamais reclame, que abra a boca somente para ser correta, elogiar nossos atos e comemorar bobeira. Que use as mãos para a carícia, para ter a casa impecável, fazer bons pratos, servir bem os drinks e acomodar as flores em vasos. Este ideal, que as revistas de moda nos confirmam, pode ser identificado com uma espécie de modelito das que saem na televisão, no final dos noticiários, sempre a um milímetro de ficar na bola, com curvas incríveis (te mandam beijos e abraços, Mesmo que não te conheçam), sempre à tua inteira disposição, na aparência como se nos dissessem ′′ não mais você me avisa e eu abro-lhe as pernas ", sempre como dispostas a um desabafo de líquidos seminais, entre gritos ridículos do homem ( não delas, que exigem mais tempo, e ficam a meias).
Os machistas jovens e velhos colocam-nos em xeque estas novas mulheres, as mulheres de verdade, as que não se submetem e protestam, e por isso continuamos sonhando, antes, com meninas perfeitas que o dêem fácil e não coloquem problema. Porque estas mulheres novas exigem, pedem, dão, metem-se, chateiam, contradizem, falam, e só se despem se lhes der a vontade. Estas mulheres novas não se deixam dar ordens, nem podemos deixá-las plantadas, ou jogadas, ou encurraladas, em silêncio, e se possível em papéis subordinados e em posts subalternos. As mulheres novas estudam mais, sabem mais, têm mais disciplina, mais iniciativa, e talvez por isso mesmo lhes fique mais difícil conseguir casal, pois todos os machistas os tememos.
Mas essas novas mulheres, se você consegue amarrar e colocar o burro machista sob controle que carregamos dentro, são os melhores casais. Nem temos que mantê-las, pois elas não permitiriam porque sabem que essa foi sempre a origem do nosso domínio. Elas já não se deixam manter, que é outra maneira de comprá-las, pois sabem que aí - e na força bruta - tem localizado o poder de nós os machos por milênios. Se as chegarmos a conhecer, se conseguirmos suportar que nos corrijam, que nos refutem as ideias, nos apontem os erros que não queremos ver e nos desinfletem a vaidade a ponta de alfinetes, vamos perceber que essa nova paridade é agradável, porque volta possível uma relação entre iguais, na qual ninguém manda nem é mandado. Como trabalham tanto quanto nós (ou mais) então elas também se declaram fartas à noite, e de mau humor, e o mais grave, sem vontade de cozinhar. No começo nos dará raiva, já não as veremos tão boas e abnegadas quanto as nossas mães santas, mas são melhores, precisamente porque são menos santas (as santas santificam) e têm todo o direito de não ser.
Eles envelhecem, como nós, e já não têm pele nem seios de vinte anos (olhemos para o peito também nós, e os pés, bochechas, os poucos cabelos), os hormônios dão-lhes ciclos de euforia e mau gênio, mas são sábias para viver e viver e Para amar, e se alguma vez na vida for preciso um conselho sensato (é preciso sempre, diariamente), ou uma estratégia útil no trabalho, ou uma manobra acertada para serem mais felizes, elas vão te dar, não as peladitas de Pele e peitos perfeitas, mesmo que estas sejam a delícia com que sonhamos, um sonho que quando se realiza já nem sabemos o que fazer com tudo isso.
Ainda somos bichinhos, os homens machistas, e é inútil pedir que deixemos de olhar para as mocinhas perfeitas. Os olhos vão atrás delas, atrás das curvas, pois carregamos por dentro um programa tozudo que rumo lá nos impulsiona, como autómatas. Mas se conseguirmos usar também essa herança recente, o córtex cerebral, se somos mais sensatos e racionais, se nos tornarmos mais humanos e menos primitivos, vamos perceber que essas mulheres novas, essas mulheres bravas que exigem, trabalham, produzem, fodem e Protestam, são as mais desafiadoras, e por isso mesmo as mais estimulantes, as mais divertidas, as únicas com quem se pode estabelecer um relacionamento duradouro, pois é baseada em algo mais do que em abracitos e beijos, ou em coitos precipitados seguidos de tristeza: nos dão ideias, amizade, paixões e curiosidade sobre o que vale a pena, sede de vida longa e de conhecimento."

(Desconheço o autor)

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