Psicologia e Comportamento
“Os homens querem uma mulher que não existe”
“Os homens querem uma mulher que não existe”
por Arnaldo Jabor
Por Revista Pazes
-fevereiro 17, 2022
Está na moda – muitas mulheres ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pêlos pubianos nos salões de beleza. Ficam penduradas em paus-de-arara e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, a vereda indicativa de um desejo inofensivo e não mais as agressivas florestas que podem nos assustar. Parecem uns bigodinhos verticais que (oh, céus!…) me fazem pensar em… Hitler.
Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas… e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível.
Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de “objetos”, produziu mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer.
A concorrência é grande para um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão…) Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos.
Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.
O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: “Venham… eu estou sempre pronta, sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!…”
Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam como imaginam que os homens as querem.
Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior, de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.
A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
Mas, que nos prometem essas mulheres virtuais? Um orgasmo infinito? Elas figuram ser odaliscas de um paraíso de mercado, último andar de uma torre que os homens atingiriam depois de suas Ferraris, seus Armanis, ouros e sucesso; elas são o coroamento de um narcisismo yuppie, são as 11 mil virgens de um paraíso para executivos. E o problema continua: como abordar mulheres que parecem paisagens?
Outro dia vi a modelo Daniela Cicarelli na TV. Vocês já viram essa moça? É a coisa mais linda do mundo, tem uma esfuziante simpatia, risonha, democrática, perfeita, a imensa boca rósea, os “olhos de esmeralda nadando em leite” (quem escreveu isso?), cabelos de ouro seco, seios bíblicos, como uma imensa flor de prazeres.
Olho-a de minha solidão e me pergunto: “Onde está a Daniela no meio desses tesouros perfeitos? Onde está ela?” Ela deve ficar perplexa diante da própria beleza, aprisionada em seu destino de sedutora, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo. Daniela é tão linda que tenho vontade de dizer: “Seja feia…”
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me vender satisfação.
É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças existem, realmente. Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos.
Nas revistas, são tão perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si mesmas. Mas, na verdade, elas querem amar e ser amadas, embora tenham de ralar nos haréns virtuais inventados pelos machos.
Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém quer ser real hoje em dia – foi uma decepção quando a Tiazinha se revelou ótima dona de casa na Casa dos Artistas, limpando tudo numa faxina compulsiva.
Leia também: “Apaixone-se por um grande homem!” Texto de Arnaldo Jabor
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica, elas ficam mais inatingíveis no mundo real.
Por isso, com a crise econômica, o grande sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma ilusão.
Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres que não existam… O anúncio tinha o slogan em baixo: “She needs no food nor stupid conversation.” Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade.
A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece “libertar” as mulheres. Ilusão à toa. A “libertação da mulher” numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro.
A liberdade de mercado produziu um estranho e falso “mercado da liberdade”. É isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?
-fevereiro 17, 2022
Está na moda – muitas mulheres ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pêlos pubianos nos salões de beleza. Ficam penduradas em paus-de-arara e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, a vereda indicativa de um desejo inofensivo e não mais as agressivas florestas que podem nos assustar. Parecem uns bigodinhos verticais que (oh, céus!…) me fazem pensar em… Hitler.
Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas… e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível.
Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de “objetos”, produziu mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer.
A concorrência é grande para um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão…) Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos.
Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.
O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: “Venham… eu estou sempre pronta, sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!…”
Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam como imaginam que os homens as querem.
Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior, de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.
A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
Mas, que nos prometem essas mulheres virtuais? Um orgasmo infinito? Elas figuram ser odaliscas de um paraíso de mercado, último andar de uma torre que os homens atingiriam depois de suas Ferraris, seus Armanis, ouros e sucesso; elas são o coroamento de um narcisismo yuppie, são as 11 mil virgens de um paraíso para executivos. E o problema continua: como abordar mulheres que parecem paisagens?
Outro dia vi a modelo Daniela Cicarelli na TV. Vocês já viram essa moça? É a coisa mais linda do mundo, tem uma esfuziante simpatia, risonha, democrática, perfeita, a imensa boca rósea, os “olhos de esmeralda nadando em leite” (quem escreveu isso?), cabelos de ouro seco, seios bíblicos, como uma imensa flor de prazeres.
Olho-a de minha solidão e me pergunto: “Onde está a Daniela no meio desses tesouros perfeitos? Onde está ela?” Ela deve ficar perplexa diante da própria beleza, aprisionada em seu destino de sedutora, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo. Daniela é tão linda que tenho vontade de dizer: “Seja feia…”
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me vender satisfação.
É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças existem, realmente. Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos.
Nas revistas, são tão perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si mesmas. Mas, na verdade, elas querem amar e ser amadas, embora tenham de ralar nos haréns virtuais inventados pelos machos.
Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém quer ser real hoje em dia – foi uma decepção quando a Tiazinha se revelou ótima dona de casa na Casa dos Artistas, limpando tudo numa faxina compulsiva.
Leia também: “Apaixone-se por um grande homem!” Texto de Arnaldo Jabor
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica, elas ficam mais inatingíveis no mundo real.
Por isso, com a crise econômica, o grande sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma ilusão.
Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres que não existam… O anúncio tinha o slogan em baixo: “She needs no food nor stupid conversation.” Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade.
A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece “libertar” as mulheres. Ilusão à toa. A “libertação da mulher” numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro.
A liberdade de mercado produziu um estranho e falso “mercado da liberdade”. É isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?
2 comentários:
Eu estava pensando sobre isso, eu saí das redes sociais, minha proposta com dança e autoconhecimento sempre me trouxe poucas alunas, eu sempre ficava insatisfeita e não vendia a imagem que as mulheres queriam comprar, já que sempre busquei a essência, a beleza, o estudo. Me afastei com a gestação, porque também não queria usar esse momento para me promover, porque tenho percebido que ser mãe aqui no Brasil serve também pra você dizer que é forte, está se transformando ou sei lá mas o quê por esses tempos nova era. Eu me deprimo quando entro no Instagram, me sinto mal, me pergunto se é no fundo inveja, já que as mulheres estão por aí "tomando" certos lugares. Há as de sempre como esse texto, só corpo, muitas, me dá enjôo, e as do " sagrado feminino", o qual não tive muito sucesso com minhas propostas de olhar pra dentro, eu vejo novamente corpo, conversas sobre sexualidade, mulher selvagem ...eu já não sei mais em que pé estou, talvez com minha causa perdida como sempre...mas ontem li que Maria Madalena era uma sacerdotisa sexual, fiquei com raiva, senti que era uma ofensa a figura da discípula... por aqui as mulheres batem muita foto nuas, selvagem e nuas, misturando com Maria Madalena e outras coisas nova era. Mas para mim só vejo o corpo sempre como forma de sermos vistas, para ser acessado, tanto para os homens que não sei se diferenciam as "deusas livres" das que só usam o corpo mesmo, ou mesmo as mulheres que sentem atraídas tbm pela aparência. E o tempo todo se fala de cura do feminino...
Rosa, nesse período de depressão que enfrento, eu larguei muita coisa. Quase desisti da escola, e quis até me auto internar, eu sou muito boa em produção musical mas eu deixei isso de lado porque isso não dava dinheiro, e estou ficando cada dia mais velha e sem emprego, decidi virar essas strippers virtuais por um tempo mas a humilhação de estar ali me fez desistir. Nunca nem quis ficar nua ou algo assim, o único dinheiro que eu tenho pegaram pra eles ( o meu pai, um patriarca evangélico e minha mãe, também evangélica) que abominam a idéia de uma autonomia financeira feminina
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