PEÇO QUE ME LEIAM COM ATENÇÃO E SEM PRECIPITAÇÕES…
LI AS BRUMAS DE AVALON ENTRE 1984 a 1990 e chorei do fundo do coração uma memória sentida e senti a urgência de um resgate do verdadeiro feminino e mais tarde quando comecei a escrever e publiquei o meu primeiro livro de poemas sobre a Deusa em mim - muitas destas mulheres que hoje me leem ainda não eram nascidas ou teriam no máximo 10 a 15 anos - e vislumbrava a Magia do Sagrado Feminino, fui olhada de soslaio e desacreditada até pelas amigas que se riam de mim. ou ridicularizada pelas mais intelectuais. Com o Blog Mulheres & Deusas em 2001 comecei esta luta de trazer informação fidedigna para esse universo apelando a uma Nova Consciência do Ser Mulher. Não havia mulheres em Portugal interessadas ou sequer abertas para a temática e apenas alguns ecos e apoio que me vinham do Brasil. Sei que tal como esta escritora havia mais mulheres escritoras e pioneiras da Busca da Deusa e de um novo feminismo e que escreveram livros magníficos.
Por isso peço a vossa ATENÇÃO para o que eu quero dizer:
Eu não vou nem estou a defender a autora em causa acusada pela filha de pedofilia. Eu sei bem o peso que isso hoje tem e ainda que legitimamente exacerbado, é repulsivo e eu pessoalmente tenho uma profunda aversão e condenação da pedofilia, mas ao saber qual é a religião da filha...e a sua luta (não li o seu livro), vejo como os católicos e as seitas cristãs americanas se podem valer deste testemunho como forma de arremesso contra as mulheres feministas e ateias. Sim, ele pode ser uma forma de derrubar o paganismo, e de um só golpe destruir a força arquetípica dos livros sobre a Deusa e o resgatado paganismo da ultimas décadas, assim como do feminismo sob o qual milhares de mulheres se ergueram e assim sendo, sabemos como ambos são um perigo cada vez maior para o cristianismo. Com este derrube quer-se apagar décadas de trabalho feito por milhares de mulheres à sombra destes livros…
Portanto para mim, há muitos aspectos a ter em conta para além destas acusações. Ninguém aqui nega o abominável que é a pedofilia, mais uma vez o afirmo, pois um acto semelhante da parte de uma mãe ou pai é inconcebível. Mas isso serve também para a vitima defender o que ela afinal acredita e crê e querer vingar-se da mãe – ainda que calculemos a sua dor e sofrimento e nos revoltemos – e derrubar como crente católica, toda a perspectiva e ideias pessoais da mãe atingindo a sua vida e obra . E é isso que estamos a ver fazer com muitos autores e pessoas que deram muito a sociedade e que por comportamentos paradoxais viriam a ser condenados por práticas ilícitas e monstruosas como sem qualquer dúvida alguma o são a pedofilia e o abuso sexual e a violação.
Como disse não estou a defender a autora, estou apenas a querer ver e a mostrar como se pode destruir todo um trabalho de consciência do feminino – independentemente de ser um testemunho fiável e credível, o da filha – que julgo que é – mas que pode muito bem estar a ser aproveitado para destruir também o avanço das mulheres e a reabilitação da sua história que a autora evoca nos seus livros, num sistema e sociedade patriarcais que não quer perder o controlo sobre as mulheres pois são elas e a sua ignorância e dependência que sustentam o catolicismo bacoco há séculos.
Eu li e tenho uma dezenas de livros dela - não me vou desfazer deles nem se pode apagar assim um legado tão importante como este foi para a mulher durante mais de 30 anos. Sei a importância que eles tiveram na minha vida e não vou negar a sua obra. Por mais que me choque a ideia da sua negligência como mãe e a sua perversidade sexual…
O grande drama do autor é muitas vezes na sua vida ficar muito aquém da sua obra - se fossemos escrutinar a maioria dos autores e génios seria um caos. As épocas e as circunstâncias podem ser atenuantes a muitas vidas são e foram paradoxais, e não podemos ver tudo com a visão que temos hoje das coisas. Não há desculpas se foi o caso assim narrado, mas lembro que a sexualidade é sempre uma hidra de 7 cabeças e muito mal resolvida na sua essência. É como uma maldição em que a mulher é sempre maldita e condenada. A Matrix não perdoa as mulheres, digo, Jeová não perdoa as mulheres e mesmo Cassandra ou Lilith foram vistas e condenadas por crimes horrendos que não sabemos se cometeram tal é o ódio católico à mulher…
E hoje seria será diferente??
Aos homens sempre se perdoa tudo...
Lembro-me que Gandhi, um homem de paz e amor... obrigava as suas sobrinhas adolescentes a dormir nuas na sua cama para provar o seu ascetismo... Assim como Einstein se tornou amante de uma prima da mulher e a esta considerou como criada sua e a instigou a limpar-lhe o quarto sem lhe falar - isto escrito numa carta dele - quando se sabe que ela o ajudou desde jovem nas suas teses... Enfim, é muito complexo julgar os que julgamos grandes e que tiveram uma influência na nossa vida, uma influência positiva, mas que afinal mostram que não foram mais do que simples seres humanos, sempre com pés de barro... ou cheios de lama bem pegajosa... black goo...
rosa leonor pedro
Texto de Mariana Inverno:
"Gostei muito de ler a reflexão da Rosa Leonor sobre o escândalo que se abateu sobre a memória da Marion Zimmer Bradley; desfrutei muito também da maturidade patente no diálogo das mulheres acima. Saúdo-vos a todas!
No mundo de superfície em que a humanidade terrestre vive, muito pouco se aprofunda porque aparentemente a consciência do ser humano terrestre está ainda na infância e não sabe lidar com a verdade já passível de ser alcançada. Histórias e mitos, conceitos, modas, alienação, mentiras, aparência e meia dúzia de tretas de encantar formataram a nossa patética percepção da realidade. As religiões também fizeram o seu papel e o resultado é esta ingénua humanidade, apanhada por uma tecnologia que em breve a dominará completamente. Uma humanidade que carece de discernimento, a quem falta auto-conhecimento e que insiste em "divertir-se", esquecer... É nisso que nos tornámos e é por isso que este tipo de notícias "cola" tão facilmente e causa terramotos injustificados face a uma obra a todos os títulos icónica e referencial e que tanto contribuiu para a expansão da consciência feminina, como acima ficou dito.
Não vou aqui reafirmar o óbvio: que condeno a pedofilia, que, a ser verdade, apresenta-se como monstruoso o agora denunciado. Também não vou decidir se a filha mente ou deixa de mentir, se a conversão ao cristianismo pela MZB já no final da vida foi um acto de cobardia, de coragem ou de iluminação mística.
A questão é que pouco sabemos sobre nós e, dentro de cada um, vivem muitas nuances, tendências, mistérios, incoerências. Acredito que em cada ser encarnado coexistem muitos registos, anomalias, talentos, falhas e omissões. Que cada um de nós é um monte de mistérios com pernas e que só a luz interior ocasional - num gesto, num comportamento, numa obra - pode elevar-nos acima do lodaçal em que o colectivo chafurda.
Num dos seus livros ("The Cloud of Evil"), MZB escreveu:
"The horror genre—which I define as perfectly horrible things happen to perfectly nice people for no reason at all.“
Pois não sei se é verdade ou mentira, ou se é relativamente alguma dessas coisas o que agora veio a lume mas eu, que toda a minha vida tenho apoiado com dedicação a mais pequena réstia de luz ou grandeza que detecte no outro, quero manter-me afastada dessa grande arena de condenação (muitas vezes arbitrária) em que o mundo se tornou e continuar a reconhecer o contributo que a obra de MZB trouxe ao mundo, em especial às mulheres.
Se a sua grandeza não se conseguiu afirmar noutras áreas, se da sua sombra surgiram actos miseráveis e anti-naturais, tenho pena, muita pena.
Infelizmente, temos TODOS muito que caminhar ainda.
Abraço carinhoso"
Mariana Inverno
No mundo de superfície em que a humanidade terrestre vive, muito pouco se aprofunda porque aparentemente a consciência do ser humano terrestre está ainda na infância e não sabe lidar com a verdade já passível de ser alcançada. Histórias e mitos, conceitos, modas, alienação, mentiras, aparência e meia dúzia de tretas de encantar formataram a nossa patética percepção da realidade. As religiões também fizeram o seu papel e o resultado é esta ingénua humanidade, apanhada por uma tecnologia que em breve a dominará completamente. Uma humanidade que carece de discernimento, a quem falta auto-conhecimento e que insiste em "divertir-se", esquecer... É nisso que nos tornámos e é por isso que este tipo de notícias "cola" tão facilmente e causa terramotos injustificados face a uma obra a todos os títulos icónica e referencial e que tanto contribuiu para a expansão da consciência feminina, como acima ficou dito.
Não vou aqui reafirmar o óbvio: que condeno a pedofilia, que, a ser verdade, apresenta-se como monstruoso o agora denunciado. Também não vou decidir se a filha mente ou deixa de mentir, se a conversão ao cristianismo pela MZB já no final da vida foi um acto de cobardia, de coragem ou de iluminação mística.
A questão é que pouco sabemos sobre nós e, dentro de cada um, vivem muitas nuances, tendências, mistérios, incoerências. Acredito que em cada ser encarnado coexistem muitos registos, anomalias, talentos, falhas e omissões. Que cada um de nós é um monte de mistérios com pernas e que só a luz interior ocasional - num gesto, num comportamento, numa obra - pode elevar-nos acima do lodaçal em que o colectivo chafurda.
Num dos seus livros ("The Cloud of Evil"), MZB escreveu:
"The horror genre—which I define as perfectly horrible things happen to perfectly nice people for no reason at all.“
Pois não sei se é verdade ou mentira, ou se é relativamente alguma dessas coisas o que agora veio a lume mas eu, que toda a minha vida tenho apoiado com dedicação a mais pequena réstia de luz ou grandeza que detecte no outro, quero manter-me afastada dessa grande arena de condenação (muitas vezes arbitrária) em que o mundo se tornou e continuar a reconhecer o contributo que a obra de MZB trouxe ao mundo, em especial às mulheres.
Se a sua grandeza não se conseguiu afirmar noutras áreas, se da sua sombra surgiram actos miseráveis e anti-naturais, tenho pena, muita pena.
Infelizmente, temos TODOS muito que caminhar ainda.
Abraço carinhoso"
Mariana Inverno
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