(...)
"Sente-se a morte no ar. Sente-se. E só vale a pena morrer em prol da paz. Mas os homens continuam loucos e a assassinar-se. Todos os dias. Brutalmente, no silêncio"
VERACIDADES - excerto da crónica de Vera Roquette
in D.N. de hoje
SÓ PODE TER CONSCIÊNCIA DA VIDA
QUEM TEM DE ALGUM MODO
CONSCIÊNCIA DA MORTE...
"Curiosamente, há muitas pessoas que não conhecem o sentimento da morte, não querem ou não podem pensar nela. Os que compreendem o que significa a morte são uma minoria. Aos demais falta valor e mesmo os filósofos evitam o problema.
Em Baudelaire existe a morte, em Sartre não. Os filósofos têm se esquivado da morte fazendo dela uma questão, ao invés de experimentá-la como algo existente. Não a consideram como algo absoluto, mas entre os poetas é diferente. Eles entram profundamente no fenómeno, rastreando-o. Um poeta sem sentimento de morte não é um grande poeta."
Emile Cioran
(...)
VIII
O animal teme a morte porque vive,
O homem também, e porque a desconhece;
Só a mim é dado com horror
Temê-la, por lhe conhecer a inteira
Extensão e mistério, por medir
O [infinito] seu de escuridão.
Dor que transcende o verbo e o sentimento
Criando um sentimento para si
Do qual o Horror é apenas a aparência
Pensável e sensível do exterior.
Uns têm — e é sofrer — o duvidar:
Há Deus ou não há Deus? Há alma ou não?
Eu não duvido, ignoro. E se o horror
De duvidar é grande, o de ignorar
Não tem nome nem entre os pensamentos.
(...) Fernando Pessoa
"Eu não sou ateu, ainda que não creia em Deus e não reze. Mas há em mim uma dimensão religiosa indefinível, para além de toda a fé. O crente identifica-se com Deus, o que pode compreender, mas eu sinto-me distante de tudo isso. Movo-me na linha divisória. A grande ideia do pecado original do ser humano é compartilhada por mim, mas não do modo como se pensa oficialmente sobre o assunto. Tanto a História como o homem são, queiramos ou não, produtos de uma catástrofe. A ideia do desvio do ser humano é imprescindível para se entender o desenvolvimento da História. Segundo essa ideia, o ser humano é culpado, não no sentido moral, mas por se ter e envolvido nessa aventura. Quando abandonei a minha aldeia, deixei de ser primitivo. Antes, havia pertencido à Criação, como os animais, com aqueles que tinham uma relação pessoal comigo; agora encontrava-me fora, à distância"
EMILE CIIORAN
(Extractos da última entrevista
- dada em 1995, ano da sua morte, ao escritor alemão Heinz-Norbert Jocks e publicado da revista KULTURCHRONIK, de Bonn)
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