O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
terça-feira, maio 25, 2004
AS MULHERES AS PRIMEIRAS ESCRAVAS
(...)
“AS mulheres necessitavam de protecção masculina porque muitas das alianças entre homens eram pactos militares, a conjunção de forças para capturar o que é dos outros. E uma das primeiras e preferidas formas de motim eram as mulheres jovens. Quando duas tribos guerreavam, o grupo vitorioso matava os prisioneiros homens e levava as mulheres para fazer delas escravas reprodutoras. A captura de mulheres jovens aumentava o potencial reprodutivo dos homens vencedores e também o seu satus. Sempre que há documentos escritos, estes descrevem a violação e o rapto de mulheres no rescaldo da guerra.
Na Ilíada de Homero, que supostamente reflecte as condições sociais na Grécia por volta do ano de 1200a. C., os guerreiros discutem, por vezes de forma atrevida, a devida distribuição do espólio feminino. No princípio da narrativa o rei Agamémnon concorda, com relutância, em abrir mão da sua concubina favorita, Criseide, uma prisioneira de guerra pertencente a uma família importante, quando o Sacerdote seu pai ameaça levar a questão ao tribunal divino. Como compensação pela perda, Agamémnon exige outra mulher, mas os seus homens dizem-lhe que todas as prisioneiras já foram reclamadas. Sendo rei, Ag. Volta-se e exige a escrava/concubina de Aquiles, Briseide, para si. Este simples acto por pouco não conduz à derrota de Atenas, pois Aquiles passa uma grande parte da guerra de Tróia trancado na sua tenda, a remoer a indignidade e a procurar apoio sexual de uma das suas outras concubinas, “aquela que trouxera de Lesbos, filha de Forba, Diomede, a da tez clara”. Aquiles partilha a tenda com outro guerreiro, Pátrocolo, que na sua cama tem um presente de Aquiles; Ífis, a “da bela cintura”, que Aquiles capturara ao conquistar a cidade de Eneida.(...)
Não se ouve falar muito dessas prisioneiras, é claro, tão pouco ficamos, a saber, como se sentiam, passadas de homem para homem como ingressos para um jogo de basebol. É provável que não tenham levantado problemas. Sentiam-se gratas por estarem vivas. Afina, o livro não faz referência a homens escravizados; os homens de Eneia, Lesbos, Tróia e outras cidades derrotadas eram abatidos. Posteriormente, é claro, os homens aprenderam a escravizar outros homens, como faziam com as mulheres, e a usar os músculos dos homens como se usam mulas e bois, mas, segundo alguns historiadores, e com as evidências claramente o sugerem, os primeiros escravos humanos eram as mulheres e a motivação por trás da escravatura era a posse de ventre núbeis.” (...) (Excerto pag. 290)
in “MULHER – UMA GEOGRAFIA ÍNTIMA”
De Natalie Angier
Prémio Pulitzer (Gradiva)
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