"...um artigo lido por uma mulher para mulheres deve terminar com algo particularmente desagradável..."
(aleksandra nowak)
(...)
Neste ponto eu me deteria, mas as pressões da convenção o determinam que todo discurso deve terminar com uma peroração. E uma peroração dirigida às mulheres deve ter algo, voces hão de convir, de particularmente exaltador e nobilitante. Eu lhes imploraria que se lembrem de suas responsabilidades, que sejam mais elevadas, mais espirituais; eu lhes lembraria quanta coisa depende de vocês e que enorme influência podem exercer no futuro. Mas essas exortações, penso eu, podem ser tranqüilamente deixadas a cargo de outro sexo, que as colocará, e a rigor as tem colocado, com muito maior eloqüência do que posso alcançar. Quando vasculho minha própria mente, não encontro sentimentos nobres sobre sermos companheiras e iguais e influenciarmos o mundo para fins mais elevados. Descubro-me dizendo, breve e prosaicamente, que é muito mais importante se ser o que se é do que qualquer outra coisa. Não sonhem influenciar outras pessoas, eu diria, se soubesse fazê-lo de forma mais brilhante. Pensem nas coisas como são.
E mais uma vez vem-me à lembrança, mergulhando em jornais e romances e biografias, que, quando uma mulher fala com mulheres, deve ter algo muito desagradável escondido na manga. As mulheres são duras com as mulheres. As mulheres não gostam das mulheres. As mulheres - mas será que voces não estão completamente fartas da palavra? Garanto-lhes que eu estou. Concordemos, então, em que um artigo lido por uma mulher para mulheres deve terminar com algo particularmente desagradável.
Mas como é isso? Em que posso pensar? A verdade é que freqüentemente gosto das mulheres. Gosto de sua informalidade. Gosto de sua inteireza. Gosto de seu anonimato. Gosto... Mas não devo prosseguir desta maneira. Aquele armário lá... Vocês dizem que ele contém apenas guardanapos limpos, mas e se Sir Archibald Bodkin estiver escondido entre eles? Permitam...
VIRGÍNIA WOOLF
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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