O QUE SÃO OS HOMENS SENÃO TIRANOS DAS MULHERES E FILHOS, TIRANOS UNS DOS OUTROS, CONSOANTE O GRAU E EXERCÍCIO DO SEU PODER?
Eles nunca cederão o pequeno ou grande poder que possam exercer uns sobre os outros e que exercem há milénios sobre metade da humanidade, as mulheres!
"SE NO LIMITE É POSSÍVEL GOVERNAR SEM CRIMES, EM CASO NENHUM É POSSÍVEL GOVERNAR SEM INJUSTIÇAS. Trata-se porém de dosear os primeiros e as segundas, de as cometer apenas por fases. A fim de que no-lo perdoem, teremos de saber fingir a cólera ou a loucura, dar a impressão de sermos sanguinários por inadvertência, visar arranjos atrozes com uma aparência exterior de despreocupação. O poder absoluto não é coisa fácil: só se destinguem dentro deles os cabotinos ou os assassinos de grandes proporções. (...)
“E o povo?”, dir-se-á. O pensador ou o historiador que usar este termo sem ironia ficará desqualificado. O “povo” - sabemos demasiado bem a que está destinado o povo: sofrer os acontecimentos, e as fantasias dos governantes, prestando-se a desígnios que o afectam e oprimem. Toda a experiência política, por “avançada” que seja, se desenrola a expensas suas, dirigindo-se contra ele: o povo carrega os estigmas da escravidão por mandamento divino e diabólico. Inútil apiedarmo-nos da sua sorte: a causa não tem remédio. As nações e impérios formam-se graças à complacência do povo diante das iniquidades de que é alvo. Não há chefe de Estado nem conquistador que não o despreze, e dele viva. Deixasse o povo de ser apático ou vítima, deixasse de assistir simplesmente aos seus destinos, que a sociedade se dissiparia, e, com ela a história sem mais.(...)
NA ESCOLA DOS TIRANOS
E. M. CIORAN
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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