Surge dos lados do oriente a luz loura do luar de ouro.
O rastro que faz no rio largo abre serpentes no mar.
DEPOIS DURMO, DEPOIS...
Não durmo. Entressou.
Tenho vestígios de consciência. Pesa em mim o sono sem que a inconsciência pese...Não sou. O vento...Acordo e redurmo, ainda não dormi. Há uma paisagem de som e torvo para além de que me desconheço. Gozo, recato, a possibilidade de dormir. Com efeito durmo, mas não sei se durmo. Há sempre no que julgamos (?) que é um som de fim de tudo, o vento no escuro, e, se escuto ainda, o som dos pulmões e do coração.
O vento levanta-se...Primeiro era como uma voz de um vácuo...um soprar do espaço para dentro de um buraco, uma falta no silêncio do ar. Depois ergue-se um soluço, um soluço do fundo do mundo, o sentir que tremiam as vidraças e que era realmente vento. Depois soou mais alto, urro surdo, um urrar (?) sem ser (...) um ranger de coisas, um cair de bocados, um átomo de fim do mundo
Depois parecia que...
O LIVRO DO DESASSOSSEGO
fernando pessoa
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