O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, fevereiro 07, 2009

ÍNFIMOS VESTÍGIOS...


Receio-te, próxima; amo-te, distante; quando me foges, atrais-me; quando me procuras, paralisas-me: sofro, mas por ti que não sofreria eu de bom grado?

Ó tu, cuja frieza inflama, cujo ódio seduz, cuja fuga prende, cujo escárnio comove:

Quem não te odiaria, ó grande atadora, enroladora, tentadora, buscadora, achadora? Quem não te amaria, ó pecadora inocente, impaciente, rápida como o vento, com olhos de criança?

Para onde me levas, agora, tu que és um modelo e um diabrete? E, agora, foges-me outra vez, encantadora traquina e ingrata!

Vou atrás de ti a dançar, sigo-te até por ínfimos vestígios.
(…)
Os meus calcanhares erguiam-se, os meus dedos dos pés escutavam, para te compreender; pois o dançarino, afinal, tem o ouvido nos dedos dos pés! Saltei em direcção a ti, mas tu fugiste, recuando perante o meu salto, e a língua do teu cabelo fuginte, esvoaçante, estendeu-se para mim.

Saltei para longe de ti e das tuas serpentes, mas aí estavas tu já, meio voltada, com os olhos cheios de desejo.

Com olhares tortuosos, ensinas-me caminhos tortuosos; por caminhos tortuosos, o meu pé aprende... insídias.

Friedrich Nietzsche

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