"No Caminho da Serpente, Fernando Pessoa disse que ela liga os contrários verdadeiros (os pólos opostos e complementares) porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ela segue um caminho que passa por todos e não é de nenhum."
in PORTUGAL, RAZÃO E MISTÉRIO
António Quadros
in PORTUGAL, RAZÃO E MISTÉRIO
António Quadros
MESTRES (AS) E CAMINHO SOLITÁRIO
Este tema de mestres e solitude do caminho é interessante.
A questão que vejo aqui é que flutuamos entre dois extremos.
Por um lado existem os que se tornam dependentes de mestres e de outro os que negam totalmente isso. Todo extremo é danoso e é sempre útil buscar o saudável caminho do meio. Usaria o exemplo da Arte Marcial para deixar claro como vejo o processo. Não existe arte marcial sem mestre. A essência da Arte Marcial não é essa pancadaria glorificada pelos filmes modernos, é outra coisa. Arte Marcial é um estilo de trabalhar as energias corporais que resultam inclusive em uma habilidade de se defender, mas não é esse seu objetivo focal. Shao Lin, em seus muitos mosteiros e tantos outros centros de aprendizado não tinham na formação de combatentes seu objetivo, isto só acontece mais tarde, quando condições históricas assim obrigam e ainda assim a luta é uma forma de expressão de algo mais amplo.
Taoistas buscam algo mais que lutar, os movimentos, tidos por "experts" ocidentais como excessivos e desnecessários, na realidade tem a função de harmonizar a energia que flui pelos meridianos do corpo, harmonizar e vitalizar os centros orgânicos , é um aprendizado acumulado por gerações e para transmitir na integra tais conhecimentos há a figura de quem ensina. Um conhecimento que durante milhares de anos foi acumulado pode ser transmitido, se fossemos seguir sós no caminho teríamos que ter uma vida de milhares de anos para aprender tudo.
Isso é o "mestre" ou "mestra" embora estes termos sejam tão deturpados que gosto mais do termo que alguns xamãs como o Doutor Carlos Castaneda usa: Benfeitor. Alguém que te ajuda no trabalho, te transmite o conhecimento acumulado por gerações.
(…)
Qualquer sinal de arrogância porém, de pretensa superioridade indica apenas que temos um ego inflado, uma pessoa que incapaz de se colocar no mundo cotidiano usa da magia para satisfazer suas fantasias de prepotência e poder. Títulos pomposos, "senhor" , "senhora" , "cavaleiro" do tal grau, tudo isso é resquício de um tempo que já se foi. Senhor, domine, está ligado a um arquétipo que nada tem a ver com o paganismo, é profundamente judaico-cristão e só ocorre nas sociedades que decaíram profundamente.
A humildade de quem conhece o mistério vem naturalmente, sabe que somos nada perto da eternidade, que somos efêmeros demais, que temos um longo caminho até para nos considerarmos existentes de fato e frente a imensidão da eternidade como considerar-nos "importantes", "onipotentes"?
Eu tenho um critério pessoal para notar quem já presenciou o mistério. Quem já presenciou o mistério brinca com ele. Sim, brinca, tem uma postura leve, pois o mistério é em si tão complexo, tão avassalador em sua transcendência que a única forma de lidar com ele é de uma forma leve, tranqüila, para apaziguar o assombro que a enormidade da questão nos causa.
Já quem nunca presenciou o mistério, nunca se sensibilizou a ele, precisa de ares, de caras e bocas, de aparências, precisa "fazer" mistério para substituir a ausência do verdadeiro contato com a Eternidade.
(…)
Gurdjieff tem uma abordagem muito interessante desse processo. Ele diz que quando duas pessoas que estão no caminho do trabalho sobre si mesmo se encontram elas primeiro conversam e se observam longamente para descobrir quem entre as duas é a mais desperta. Esta tomará o papel de guia, ou seja alguém que pode auxiliar o despertar. Mas o aprendizado não é nunca uma rua de mão única, há sempre troca e tal troca é rica. Acontece que o ser humano está doente. Entre outras coisas, perdeu a capacidade de tomar decisões.
E aí entra a confusão quando se acredita que um (a) mestre (a) vai ser aquela pessoa que tomará todas as decisões morais e intelectuais pelo aprendiz, vai dizer o que ele deve e não deve fazer. Muito pelo contrário. Os (as) mestres (as) da arte que tive a sorte de conhecer agem de forma oposta. Criam ou te expõe a situações onde você terá que por em prática tudo o que te ensinaram e "somem" enquanto dura a prova, justamente para que Vc aprenda a ser autônomo, a tomar suas próprias decisões morais e intelectuais por si.
POR NUVEM QUE PASSA
A questão que vejo aqui é que flutuamos entre dois extremos.
Por um lado existem os que se tornam dependentes de mestres e de outro os que negam totalmente isso. Todo extremo é danoso e é sempre útil buscar o saudável caminho do meio. Usaria o exemplo da Arte Marcial para deixar claro como vejo o processo. Não existe arte marcial sem mestre. A essência da Arte Marcial não é essa pancadaria glorificada pelos filmes modernos, é outra coisa. Arte Marcial é um estilo de trabalhar as energias corporais que resultam inclusive em uma habilidade de se defender, mas não é esse seu objetivo focal. Shao Lin, em seus muitos mosteiros e tantos outros centros de aprendizado não tinham na formação de combatentes seu objetivo, isto só acontece mais tarde, quando condições históricas assim obrigam e ainda assim a luta é uma forma de expressão de algo mais amplo.
Taoistas buscam algo mais que lutar, os movimentos, tidos por "experts" ocidentais como excessivos e desnecessários, na realidade tem a função de harmonizar a energia que flui pelos meridianos do corpo, harmonizar e vitalizar os centros orgânicos , é um aprendizado acumulado por gerações e para transmitir na integra tais conhecimentos há a figura de quem ensina. Um conhecimento que durante milhares de anos foi acumulado pode ser transmitido, se fossemos seguir sós no caminho teríamos que ter uma vida de milhares de anos para aprender tudo.
Isso é o "mestre" ou "mestra" embora estes termos sejam tão deturpados que gosto mais do termo que alguns xamãs como o Doutor Carlos Castaneda usa: Benfeitor. Alguém que te ajuda no trabalho, te transmite o conhecimento acumulado por gerações.
(…)
Qualquer sinal de arrogância porém, de pretensa superioridade indica apenas que temos um ego inflado, uma pessoa que incapaz de se colocar no mundo cotidiano usa da magia para satisfazer suas fantasias de prepotência e poder. Títulos pomposos, "senhor" , "senhora" , "cavaleiro" do tal grau, tudo isso é resquício de um tempo que já se foi. Senhor, domine, está ligado a um arquétipo que nada tem a ver com o paganismo, é profundamente judaico-cristão e só ocorre nas sociedades que decaíram profundamente.
A humildade de quem conhece o mistério vem naturalmente, sabe que somos nada perto da eternidade, que somos efêmeros demais, que temos um longo caminho até para nos considerarmos existentes de fato e frente a imensidão da eternidade como considerar-nos "importantes", "onipotentes"?
Eu tenho um critério pessoal para notar quem já presenciou o mistério. Quem já presenciou o mistério brinca com ele. Sim, brinca, tem uma postura leve, pois o mistério é em si tão complexo, tão avassalador em sua transcendência que a única forma de lidar com ele é de uma forma leve, tranqüila, para apaziguar o assombro que a enormidade da questão nos causa.
Já quem nunca presenciou o mistério, nunca se sensibilizou a ele, precisa de ares, de caras e bocas, de aparências, precisa "fazer" mistério para substituir a ausência do verdadeiro contato com a Eternidade.
(…)
Gurdjieff tem uma abordagem muito interessante desse processo. Ele diz que quando duas pessoas que estão no caminho do trabalho sobre si mesmo se encontram elas primeiro conversam e se observam longamente para descobrir quem entre as duas é a mais desperta. Esta tomará o papel de guia, ou seja alguém que pode auxiliar o despertar. Mas o aprendizado não é nunca uma rua de mão única, há sempre troca e tal troca é rica. Acontece que o ser humano está doente. Entre outras coisas, perdeu a capacidade de tomar decisões.
E aí entra a confusão quando se acredita que um (a) mestre (a) vai ser aquela pessoa que tomará todas as decisões morais e intelectuais pelo aprendiz, vai dizer o que ele deve e não deve fazer. Muito pelo contrário. Os (as) mestres (as) da arte que tive a sorte de conhecer agem de forma oposta. Criam ou te expõe a situações onde você terá que por em prática tudo o que te ensinaram e "somem" enquanto dura a prova, justamente para que Vc aprenda a ser autônomo, a tomar suas próprias decisões morais e intelectuais por si.
POR NUVEM QUE PASSA
Leia na Íntegra em http://pistasdocaminho.blogspot.com/
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