O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 27, 2009

O CRIME BEM-SUCEDIDO CONTRA A RAÇA FÊMEA


A MULHER É RARA


(...)


“As entranhas da Terra estão plenas de florestas tragadas, de restos de animais desaparecidos, de cinzas de raças humanas e sobre-humanas cuja história, se nos fosse revelada, desafiaria a mais louca imaginação. A Nossa verdadeira fêmea, ela também, se misturou com o húmus dos abismos subterrâneos. Porque? Ah, senhores, reflictam! Foi ela quem arcou com os custos da imensa, da implacável luta contra as religiões primitivas do Ocidente. Essa luta é toda a história do mundo civilizado.

*

Os senhores acreditam que nos lugares onde as legiões romanas nunca conseguiram adaptar a sua religião - por exemplo a Gália ou na Grã-Bretanha -, os soldados de Cristo encontraram uma terra inculta e sem deuses? Em inúmeros lugares da velha Europa, nas landes, nas planícies dos menires, no fundo do mato e nas margens dos rios onde Pã cantava, sobrevivia a religião do homem ocidental. Senhores, estou certo de que a Europa viveu, durante milénios, de um elevado pensamento místico, ele mesmo oriundo de outras eras, consagrada ao Deus Cornudo e à exaltação do Princípio Feminino. É evidente que essa espiritualidade original foi afogada com violência, no fogo e no sangue e, por uma religião estrangeira vinda do Oriente: o cristianismo. O Deus Cornudo, protector da antiga humanidade do oeste, foi chamado de diabo e amaldiçoado.


“Os ídolos imemoriais foram derrubados e foi preciso destruir, junto com eles, o seu suporte: a mulher-mãe, a mulher-deusa, a mulher-fêmea, a verdadeira mulher.


“As pessoas cultas denunciam hoje as atrocidades do colonialismo recente; os indígenas aniquilados, os feiticeiros africanos extintos, as civilizações negras martirizadas. Mas não falam dos nossos antigos tótens que foram derrubados! De nosso Deus, que foi aviltado e perseguido! De nossas sacerdotisas, que foram exterminadas! De nossa mulher que foi subtraida! A velha Europa também foi colonizada e desfigurada. Sim senhores, ouso dizê-lo. Do ponto de vista puramente antropológico em que me situo, a história da Igreja católica é a história de uma guerra empreendida pelo estrangeiro contra um culto nativo muito antigo, muito poderoso, muito profundamente arraigado e de um crime bem –sucedido contra toda a raça fêmea. Nós perdemos essa metade senhores.


Como demonstrarei ela foi morta.

(…)

(Publicarei a continuação em breve)

Louis Pauwels - citado em Tantra O culto da Feminilidade, De André van lysebeth

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NOTA À MARGEM - O autor falava de certo só para homens, pois ao longo do texto apenas se dirigiu a “meus senhores”, portanto, deduzo que o autor querendo ser coerente com o seu texto ao dizer que não há mulheres ele também não considerou as senhoras que porventura estivessem na assembleia…? (é só um pormenor de somenos importância…eu estive tentada a corrigir ou a omitir a expressão “senhores”, mas é bom que nos apercebamos das incoerências da própria linguagem em que todos (as) caímos…)

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4 comentários:

Anónimo disse...

A mulher sozinha, autônoma e dona de si, q construiu as primeiras civilizações, enquanto o homem andava errante, caçador, pastor, e criou a agricultura, e plantou a abundância, fertilidade e partilha... nunca teve consorte, sempre foi livre... tanto na europa, como nas américas pre-colombianas... claro tudo foi destruido pela mesma estirpe de vermes q estão sempre no cerne de todas as guerras, e tem a mesma carga genética de ódio da mulher...
realmente os deuses consorte, são um grandíssimo azar...

Nana

rosaleonor disse...

pois é ela existiu e nós lembramos...temos de a trazer de novo... à vida, senão morremos todos...
- cada uma de nós, está grávida dela...

abraço

rosa leonor

Anónimo disse...

E o pior de tudo é que o mal já esta enraizado, uma vez que somos nós mulheres que agora damos suporte ás religiões do deus único. Em qualquer igreja ou templo cristão, somos a maioria a adorar esse deus que nos destruiu. Entre judeus e muçulmanos, eu não sei como se dá, pois parece que as mulheres são proibidas de entrar em seus lugares de culto junto aos homens, tornando assim a sua condição de indignas, mais explícita, mas mesmo fora deles, lá estão elas orando e pedindo por misericórdia a esse deus que as despreza.

Anónimo disse...

E o pior de tudo é que o mal já esta enraizado, uma vez que somos nós mulheres que agora damos suporte ás religiões do deus único. Em qualquer igreja ou templo cristão, somos a maioria a adorar esse deus que nos destruiu. Entre judeus e muçulmanos, eu não sei como se dá, pois parece que as mulheres são proibidas de entrar em seus lugares de culto junto aos homens, tornando assim a sua condição de indignas, mais explícita, mas mesmo fora deles, lá estão elas orando e pedindo por misericórdia a esse deus que as despreza.