O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, setembro 13, 2019

A DICOTOMIA DA MULHER


O ETERNO FEMININO OU A ANULAÇÃO DA MULHER REAL


"Woman are sublimated into something symbolic without presence"

(Susana Sidhe Aguilar, Ancient Roots of Goddess Culture)



Referência ao conceito de Eterno Feminino introduzido por Goethe:

“Empurra para o alto poetas e filósofos, ideal de pureza contemplativa, de mulher passiva e vazia de poder, compêndio de nobre feminilidade e canonização do “anjo do lar”, dedicada integralmente a ser a intercessora do homem entre ele e o seu bem-estar, encarnada numa santa ou numa obra de arte, condenada à abnegação, carente de história ou morta em vida. e como se não bastasse, enfrentando eternamente a dicotomia anjo ou monstro, pomba ou serpente, Branca de Neve ou madrasta, em definitivo, “a principal criatura gerada pelo homem, “a mulher criada por, a partir de e para o homem, as filhas dos cérebros, costelas e engenhos masculinos*.”



UNIR AS DUAS MULHERES EM CADA MULHER...



A divisão secular  da mulher na imagem  de Maria, a Virgem Mãe que representa a casta esposa e a Maria Madalena, como a amante e pecadora, são os dois modelos iniciais que o cristianismo pregou, separando assim a natureza instintiva e sexual da mulher da sua função maternal. Foi deste modo que o patriarcado criou uma cisão na mulher,  criando essa divisão  dentro de cada mulher: para atingir esses fins, e colocar a mulher ao serviço da espécie,  apresentou de um lado a mulher pecaminosa como se ela fosse apenas um objecto de prazer, enquanto que do outro, elogiava  a santa e casta esposa. É assim que encontramos as duas mulheres opostas cada uma de um lado da vida, sempre ao serviço do homem, uma como reprodutora a outra como mero objecto do prazer aleatório. Temos assim duas espécies de mulheres na nossa sociedade: uma como sendo a puta no bordel  ou na rua de um lado e  do outro, em casa,  a esposa santificada, a mulher frigida e sem desejo, fiel ao senhor e dono.



A polarização extrema destas duas mulheres na psique de cada mulher  gerou ao longo dos séculos uma fragmentação do seu ser Mulher como individuo e tornou a mulher comum que vive essa dicotomia permanente dentro de si a vítima dos maiores distúrbios, quer a nível psíquico, quer a nível físico e fisiológico...  foi essa mulher descompensada e histérica que os psicanalistas viram e tentaram tratar no início do séculos XX. A grande maioria dessas mulheres foram internadas e cosniderads loucas...

Mas mais grave ainda é a forma como nos nossos dias essa divisão da mulher atingiu proporções de calamidade social e humana  ao vermos como hoje ainda a mulher é prostituída, continuadamente explorada e violentada pelos homens em geral como mero objecto sexual, violada ou abusada e explorada por Mafias que fazem tráfico de meninas e mulheres  em todo o mundo. 


A mulher viveu assim seculos dentro dessa dicotomia e foi sempre julgada de acordo com a sua "escolha" de vida ou circunstâncias. Sempre privada da sua liberdade individual, como ente, ou julgada como prostituta caso não casasse ou não obedecesse portanto a um marido ou ao pai. Toda a violência doméstica, abusos e violações e o feminicídio são provenientes desta linha de pensamento judaico-cristão que impera no mundo católico e patriarcal e em que a mulher é ainda tida como pertença do homem e lhe deve obediência, caso contrário  é excluída e condenada a ser "a puta"...

ALGUMA COISA MUDOU DESDE ENTÃO?
Nas ultimas décadas e através dos Movimentos feministas as mulheres modernas tentaram mudar o rumo dos acontecimentos e alterar assim  o panorama das suas vidas  para poderem ter alguma liberdade, apelaram a direitos e igualdades, porém,  nunca se preocuparam com "a mais velha profissão do mundo" como se isso não fosse parte de si,  aceitando tacitamente essa divisão do seu Ser Mulher como uma coisa inevitável e eis que nos nossos dias AGORA, depois de tantas supostas conquistas e liberdades...toda essa realidade cai em cima delas.... afinal a emancipação da mulher não só foi uma batalha perdida como arrisca a perder tudo do pouco que se consolidou nestas décadas...Podemos constatar isso na forma como as mulheres estão a ser de novo perseguidas e caluniadas, julgadas como adulteras por tribunais e juízes fundamentalistas... assediadas no trabalho e na rua, abusadas e violadas por migrantes nos países de acolhimento, em risco de vida permanente nas grandes cidades e a terem de voltar a vestirem-se moderadamente ou mesmo a usar Burkas, quem sabe, daqui a uns dez anos...

Hoje não há só essas Máfias organizadas, que as exploram mesmo na nossa cara, mas o toda a industria do cinema, agora denunciados os tubarões da cena que abusavam e assediavam ou violavam  usando o seu poder as atrizes assim com actores assediavam jovens etc. como também vemos a ”arte” e a própria publicidade que usam a imagem da mulher de forma abusiva e degradante e ninguém faz nada...

rosa leonor pedro

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