O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, setembro 18, 2019

EM BUSCA DA MULHER VERDADEIRA


A MULHER MODERNA: UMA PÁLIDA IMAGEM DA MULHER REAL

É "Esta negação de si mesma (que) esta interiorizada em níveis tão profundos"...da sua psique...que impede a mulher de se realizar na sua plenitude como mulher adulta e realizada.
Não, à mulher de hoje não basta integrar o seu lado masculino, como dizem as mulheres masculinas dentro de uma certa espiritualidade, para realizar a dinâmica dos dois em Um e obter a suprema união do feminino e masculino, porque a mulher moderna está amputada de uma parte significante de si mesma e parte dentro destes moldes, e desde logo, inferiorizada na sua relação com o homem. A mulher moderna está muito longe de ser essa Mulher Yin complemento de Yang e vice-versa, porque a mulher foi afastada da sua natureza primordial e a mulher que vemos por ai e que se pensa emancipada é uma pálida imagem da Mulher ancestral, da mulher telúrica, quando ela representava as forças da Terra e da Natureza Mãe e estava unida ao Principio Feminino à Lua e as suas entranhas…
A mulher moderna é a negação de tudo o que é natural e verdadeiro… ela pensa como os homens e ela obedece a uma imagem estereotipa que o homem construiu de si...

E era aqui, a partir desta consciência que se deveria começar uma nova história para a mulher…mas para isso há que ter em conta este tremendo branqueamento feito à mulher verdadeira, o seu apagamento como ser autónomo e livre, a  negação da mulher inteira, assim como o da Deusa Mãe, ambas banidas da história dos homens e das suas religiões – que mantêm uma “deusa imaculada” e estéril no altar das suas Igrejas misóginas e condenam a mulher real a exploração mais abjecta. Eles dominam o Planeta há milénio submetendo e explorando metade desta humanidade: as mulheres e as Mães…dividindo-as e condenando-as ao descrédito eterno...

rosaleonorpedro

Por isso e para começar um Novo Paradigma,  “É necessário reconstruir a contradição homem-mulher a partir da negação do corpo da mulher, e portanto aquilo que na Psicanálise tradicional aparece como enfermidade, neurose, desadaptação, etc. converte-se numa contradição material.
A mulher encontra-se desde o princípio sem uma forma própria de existir, como se o existir da mulher já se encontrasse numa forma de existência (mulher, mãe, filha, etc.) que a negam enquanto mulher. Ser mãe significa existir e usar o corpo em função do homem, e por isso uma vez mais carecer de sentido e de valor do próprio corpo e da própria existência a todos os níveis.
Esta negação de si mesma esta interiorizada em níveis tão profundos que é como se as mulheres, ao longo de toda a sua história, não tivessem feito mais do que repetir esta história de autodestruição. Por consequência, o discurso sobre a violência masculina, sobre o vexame, a dominação, sobre os privilégios, etc. continuará sendo um discurso abstracto se não tivermos em conta o aspecto interiorizado desta mesma violência, a violência como auto-negação, negação duma existência própria. A negação de si mesma é posta em marcha a partir do nascimento, a partir da primeira relação com a mãe, onde esta já não se encontra presente como mulher com o seu corpo de mulher, estando ali como mulher do homem e para o homem. (…)

O facto da menina viver a relação com a pessoa do seu sexo apenas através do homem, com essa espécie de filtro que existe entre ela e a mãe, é a razão mais profunda da divisão que encontramos entre uma mulher e outra mulher; nós as mulheres estamos divididas na nossa história desde sempre, não apenas porque cada uma de nós está unida socialmente ao marido, às e aos filh@s – este é apenas o aspecto visível da separação – a divisão dá-se a um nível mais profundo, ao não conseguirmos olhar-nos uma à outra, ao não sermos capazes de contemplar o nosso corpo sem termos sempre presente o olhar do homem. (…)
Num artigo em “L’Erba Voglio”… insistia na relação interrompida com a mãe, ou no mínimo deformada desde o começo precisamente porque a mãe não é a mulher, apenas “a mãe”, ou seja, a mulher do homem. Do facto de que a mulher não encontra na relação com a mãe o reconhecimento da sua própria sexualidade, do seu próprio corpo, procede depois toda a história sucessiva da relação com o homem como relação onde a negação de tudo aquilo que tu és, da tua sexualidade, da tua forma de vida, já se produziu.”

Lea Melandri, La Infamia Originaria (excertos),
citada por Cacilda Rodrigañez Bustos em El Assalto al Hades

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