O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, setembro 18, 2019

"SOU INDEJÁVEL"


Maria Lacerda de Moura


UMA MULHER E ESCRITORA BRASILEIRA


Nascimento em 16 de Maio de 1887 Minas Gerais
Falecimento em Março de 1945 (57 anos) Rio de Janeiro



[…] “A palavra “feminismo”, de significação elástica, deturpada, corrompida, mal interpretada, já não diz nada das reivindicações feministas. Resvalou para o ridículo, numa concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere à mulher.Em qualquer gazela, a cada passo, vemos a expressão “vitórias do feminismo” – referente, às vezes, a uma simples questão de modas! Ocupar uma posição de destaque em qualquer repartição pública, cortar os cabelos “à la garçonne”, viajar só, estudar em academias, publicar um livro de versos, ser “diseuse”, divorciar-se três ou quatro vezes, pelas colunas do “Para Todos”, atravessar a nado o Canal da Mancha, ser campeã de qualquer esporte. – tudo isso consiste “nas vitórias do feminismo”, vitórias que nada significam perante o problema da emancipação integral da mulher.

É a razão por que não posso aceitar nem o feminismo de votos e muito menos o feminismo de caridades. E enquanto isso a mulher se esquece de reivindicar o direito de ser dona de seu próprio corpo, o direito da posse de si mesma. Sou “indesejável”, estou com os individualistas livres, os que sonham mais alto, uma sociedade onde haja pão para todas as bocas, onde se aproveitem todas as energias humanas, onde se possa cantar um hino à alegria de viver na expansão de todas as forças interiores, num sentido mais alto – para uma limitação cada vez mais ampla da sociedade sobre o indivíduo. Que representa uma “creche”, um hospital ou o direito de voto ante a vastidão dos nossos sonhos de redenção humana pela própria humanidade? É subir mais alto o coração e o cérebro, ver horizontes mais dilatados -além do sectarismo religioso ou da superstição social governamental. Isso é feminismo? Dêem o nome que quiserem, pouco importa: o que esse feminismo (não me agrada a expressão tão estreita para ideal tão amplo) reivindica é o “Direito Humano”, o Direito Individual, acima de qualquer outro direito, além dos direitos limitados ao parlamentarismo, além dos direitos de classe.”

"Levará ainda tantos séculos a perceber que as religiões organizadas, política e economicamente, não são senão instrumentos de exploração dos ignorantes, dos desfibrados, dos ambiciosos, dos moluscos, dos que carecem de espinha dorsal… Ninguém cresce na sua individualidade através da consciência ou, talvez, da inconsciência de outrém. Não é demais repetir que a atual organização social baseia-se na ignorância de uns, no servilismo da maioria, na astúcia de outros, no comodismo de muitos, na exploração dos espertos, na felicidade dos “proxenetas” e “souteneur “, desse cafetismo, desse regime de concorrência, em que se compra e vende tudo, inclusive o Amor e a Consciência – as mais altas manifestações do que é nobre e belo e grande, do que tumultua na vibração interior da nossa vida profunda."
Maria Lacerda de Moura



NOTA 

Passados quase um século (1945-2019)... percebemos que a mulher e o voto e o feminismo - por falta de consciência individual e humana, por falta de uma consciência do feminino integrado e a divisão da mulher em duas, a humanidade pouco ou nada evoluiu a não ser exteriormente... tecnicamente. Do ponto de vista da liberdade e consciência individual os seres humanos continuam presos ao Sistema Capitalsita e consumista que nunca mudará a sua face sobretudo em relação as mulheres sem que haja um novo paradigma. As mulheres são a mais valia de mercada  dentro do Sistema Patriarcal. 
Digam o que disserem os politicos e as feministas as mulheres continuam a sofrer o mesmo peso da opressão e exploração só que de forma mais sofisticada e maquiavélica...a cultura transformou-se numa forma de domínio esclavagista da mulher e do seu corpo a nivel geral e  o homem continua no poder a dominar e a escravizar a mulher no mundo inteiro. Aliás aculturando a mulher  da sua historia e alienando-a da natureza profunda, já não confinada ao lar, mas confinada a uma profisão e à Arte e a Cultura moderna, sujeita aos modelos do  cinema e da musica e até da pornografia,  o que fazem agora é como que se prostituissem  gratuitamente… Pensam-se  livres e iguais ao homem e fazem do sexo o unico apanágio da sua vida tal como os eles. Assim, o homem moderno já não precisa casar nem ir ao Bordel ou ao Bar porque as mulheres expõem-se e vivem na pele a maior degradação do seu corpo e sexo. 

rlp

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