A TRAIÇÃO DA MULHER A SI MESMA
A traição da mulher a si mesma reside na sua incapacidade de se ver inteira no verso e no reverso da medalha de si mesma e desse modo ela não sabe interagir com a sua outra parte, normalmente oculta de si porque ela pensa no seu lado masculino Yang e não do seu feminino integral que lhe foi sonegada pela cultura patriarcal. Essa falta de consciência de si enquanto mulher absoluta faz com a mulher negue a sua outra face que se reflecte na outra mulher que ela combate fora e sente como rival, mas que afinal não é senão uma outra parte de si que coexiste dentro dela e da qual não tem essa consciência SEQUER. A mulher dita espiritual acha que basta integrar o seu lado masculino para dinamizar a sua totalidade como mulher, mas o que acontece é que ela não chega a sua mulher instintiva nem a resgata do esquecimento. A mulher moderna e que se julga emancipada e que imita os padrões e comportamentos masculinos, usa um ego masculino e isso não chega nunca a integrar a sua Sombra, a sua subjectiviade feminina, baseada no seu ser instintivo e intuitivo que rejeita como parte negativa - a parte a que a mulher é sempre associada, o lado lunar e escuro da Lua - e acaba inclusive por a negar, ao eleger o lado "positivo", masculino, seja por pura negação-ignorância do seu lado instintivo e telúrico, seja em perseguição do modelo do homem, de um deus e da LUZ ou porque quer "ascender" aos céus ou a outros mundos "prometidos" negando a Terra...
A questão é, enquanto a Mulher não se vir inteira a si mesma e como um Ente com existência própria e sentir que ela vale por si mesma, independentemente de ser a filha do pai, a amante, a mãe ou a esposa de...ou seja ela a escritora a advogada ou a terapeuta, etc. ELA não vai se realizar nunca enquanto ser inteiro. Este é o ponto fulcral de toda a questão! E lamento muito que as mulheres em geral lhe deem tão pouca importância ou nem se apercebam disso e continuem a viver em função da família e dos filhos, das religiões, da profissão, do voluntariado, dedicadas ou em defesa dos cães e dos gatos (e eu adoro animais) ou mesmo em defesa da Natureza, dos Cosmos etc. e podem até defender a existência de extraterrestres ou de mestres ascenços e seguir em missões do espaço...Enquanto não se consideraram a si mesmas importantes ou considerarem a sua própria existência na Terra como tendo a máxima importância...e viver por si e para si, fiel a sua essência, as mulheres não cumprirão a sua missão de mulheres.
E com isto eu não estou "contra" os homens, nem contra o casamento, nem contra os seus propósitos e caminhos espirituais, de maneira nenhuma, são os caminhos e crenças do Homem, eu apenas defendo que a mulher tem de ser ela primeiro livre e autónoma do homem e uma mulher realizada e que tem de seguir outro caminho, porque o caminho da mulher é diferente do homem. E no que escrevo e defendo, dou sempre prioridade à mulher em si mesma, vista como um todo e não mais a mulher dividida entre duas mulheres, como sendo a casta esposa sem desejo, fiel ao marido e mãe dos filhos do homem e por outro lado a prostituta condenada a vender o sexo e o corpo e a sua alma à deriva, a mulher tornada um mero corpo objecto de desejo, submetido à ordem e sujeito ao prazer do “outro” e uma mente subjugada...
O que falo aqui e defendo é de um Matrimonio da mulher consigo mesma...um casamento com a Deusa...
Mas porque fogem as mulheres do Seu Labirinto…
Porque fogem as mulheres aos seus espaços íntimos de busca interior e femininos no sentido mais profundo e tudo o que sejam trabalhos de nível espiritual patriarcal, seja a via xamânica, tântrica, cultural ou artística, assim como tudo o que sejam as expressões lúdicas, elas aderem ao modus vivendo masculino. E por vezes, mesmo do feminino sagrado ou as danças orientais, elas aderem com uma certa facilidade ao lado ludico…mas quando se trata de aprofundarem uma consciência do seu lado oculto e da parte essencial de si mesmas, a mais difícil e controversa parte, a parte oculta de si e censurada socialmente, elas fogem e não ousam enfrentar a sua sombra e assim recuam no conhecimento de si mesmas e até, quando em busca da Deusa, elas mantêm-se apenas na superfície de um entendimento qualquer sobre a Deusa ou sobre as deusas na mulher. Há porém um conhecimento-sabedoria da mulher que precisa de um maior aprofundamento em si e que significa ir muito para além de se frequentar Cursos, Círculos e rituais, Workshops, ou irem a um Festival da Deusa. Não digo que não devam fazê-lo, mas não basta isso e mesmo que tenham os chamados poderes de visão, ou serem médiuns ou curadoras, se a mulher não tiver feito a união das duas mulheres em si se ela não tiver resolvido a sua relação com a sua mãe isso também não acontecerá com as suas ancestrais. E esse trabalho que começa na psique feminina começa ao enfrentarem o seu abismo pessoal, ao irem ao mais fundo do seu Labirinto, olharem-se no espelho e verem-se do outro lado, verem o verso e o reverso de si…e então amarem-se como são…aceitarem-se como são e a partir daí começar então o trabalho de escavação psíquica...Sim, ir ao fundo da nossa Psique, resgatar o outro lado de nós...o oculto e o denigrido o apagado e o rejeitado...pela história e a cultura dos homens!
Mas aí elas temem e hesitam, e recuam…fogem do seu labirinto...
"A aprendizagem da realidade sem rosto é dolorosa, assusta (porque destrói o ego) mas é uma aprendizagem que se faz" - Jung
Sem dúvida porque se trata do mais difícil em nós e que se torna muito doloroso enfrentar o que mais nos feriu. No caso da mulher particularmente ela é um ser demasiado ferido e precisa essencialmente curar-se a si própria antes de querer curar ou ajudar quem quer que seja…e enquanto a mulher exercer o seu Dom - e este é o ponto da minha questão a questão para mim crucial neste tempo de transição de paradigma - que a mulher sem que integre as duas mulheres em si cindidas pelo patriarcado, não pode ser curadora…porque fazer trabalhos os mais incríveis e variados que sejam, sem integrar as duas mulheres cindidas pela religião, que as separe e divide em estereótipos, ela não pode integrar mais nada de forma saudável, porque o medo e o antagonismo entre a “outra” mulher sombra que a ameaça…não permitirá criar essa empatia que cura com a outra mulher ou uma irmandade sonhada e tão desejada. A questão é e o perigo também de a mulher continuar a branquear a sua dor e as causas dela...projectando nas outras mulheres uma cura que em si não se deu e portanto dançam para esquecer...ou convencem-se de que amando a Deusa não se precisam de amar a elas mesmas e as outras mulheres… e ai começa a velha historia do antagonismo das mulheres que reflete a má relação com a mãe, a ferida com a mãe que se encontra por resolver...Há sempre um dia em que a mulher se torna inimiga da outra mulher…mesmo que não o ouse dizer ou mesmo ter disso consciência, ela vai sempre odiar a mulher que, quando menos esperar, a espelhe na sua sombra a mais dolorosa…e quanto mais fugir dela mais ela a perseguirá, mais a fará sofrer e as suas irmãs…
O grande problema da mulher que por sua vez dedica a sua busca do feminino sagrado é ainda separar o arquétipo da Deusa como divindade por um lado que não faz parte de si enquanto mulher ou da sua experiência de mulher divina, porque vê o arquétipo fora dela sem vivenciar as suas emoções. Mas o arquétipo só pode ser entendido quando vivenciado pela emoção e integrado e isso só acontece quando ele é activado de forma numinosa na psique feminina. O mero estudo intelectual da Deusa não acrescenta nada de interior a mulher: não a muda, não a torna efectivamente mais mulher… Por isso é importante que ao estudar o arquétipo da Deusa a mulher integre a sua manifestação em termos vivenciais e substanciais e não teóricos… e é esse creio o problema da separação da mulher mental da mulher interior. O saber intelectual por um lado e a falta de experiência do mesmo por outro, não conduzem a mulher a uma totalidade.
Eu aposto na descoberta da Mulher integral pelo seu SER INTERIOR, na fusão das duas mulheres cindidas pelo patriarcado, quando unidas em si e já não haja separação entre a deusa e a mulher...e para mim essa é a conquista da Mulher Absoluta! A Mulher Deusa!
Nada mais nem nada menos do que isso…
Eu aposto na descoberta da Mulher integral pelo seu SER INTERIOR, na fusão das duas mulheres cindidas pelo patriarcado, quando unidas em si e já não haja separação entre a deusa e a mulher...e para mim essa é a conquista da Mulher Absoluta! A Mulher Deusa!
Nada mais nem nada menos do que isso…
Texto revisto e acrescentado mas inicialmente escrito em 2012
rosa leonor pedro
rosa leonor pedro
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