O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, setembro 11, 2019

O LABIRINTO DA MULHER







A TRAIÇÃO DA MULHER A SI MESMA

A traição da mulher a si mesma reside na sua incapacidade de se ver inteira no verso e no reverso da medalha de si mesma e desse modo ela não sabe interagir com a sua outra parte, normalmente oculta de si porque ela pensa no seu lado masculino Yang e não do seu feminino integral que lhe foi sonegada pela cultura patriarcal. Essa falta de consciência de si enquanto mulher absoluta faz com a mulher negue a sua outra face que se reflecte na outra mulher que ela combate fora e sente como rival, mas que afinal não é senão uma outra parte de si que coexiste dentro dela e da qual não tem essa consciência SEQUER. A mulher dita espiritual acha que basta integrar o seu lado masculino para dinamizar a sua totalidade como mulher, mas o que acontece é que ela não chega a sua mulher instintiva nem a resgata do esquecimento. A mulher moderna e que se julga emancipada e que imita os padrões e comportamentos masculinos, usa um ego masculino e isso não chega nunca a integrar a sua Sombra, a sua subjectiviade feminina, baseada no seu ser instintivo e intuitivo que rejeita como parte negativa - a parte a que a mulher é sempre associada, o lado lunar e escuro da Lua - e acaba inclusive por a negar, ao eleger o lado "positivo", masculino, seja por pura negação-ignorância do seu lado instintivo e telúrico, seja em perseguição do modelo do homem, de um deus e da LUZ ou porque quer "ascender" aos céus ou a outros mundos "prometidos" negando a Terra...

A questão é, enquanto a Mulher não se vir inteira a si mesma e como um Ente com existência própria e sentir que ela vale por si mesma, independentemente de ser a filha do pai, a amante, a mãe ou a esposa de...ou seja ela a escritora a advogada ou a terapeuta, etc. ELA não vai se realizar nunca enquanto ser inteiro. Este é o ponto fulcral de toda a questão! E lamento muito que as mulheres em geral lhe deem tão pouca importância ou nem se apercebam disso e continuem a viver em função da família e dos filhos, das religiões, da profissão, do voluntariado, dedicadas ou em defesa dos cães e dos gatos (e eu adoro animais) ou mesmo em defesa da Natureza, dos Cosmos etc. e podem até defender a existência de extraterrestres ou de mestres ascenços e seguir em missões do espaço...Enquanto não se consideraram a si mesmas importantes ou considerarem a sua própria existência na Terra como tendo a máxima importância...e viver por si e para si, fiel a sua essência, as mulheres não cumprirão a sua missão de mulheres.
E com isto eu não estou "contra" os homens, nem contra o casamento, nem contra os seus propósitos e caminhos espirituais, de maneira nenhuma, são os caminhos e crenças do Homem, eu apenas defendo que a mulher tem de ser ela primeiro livre e autónoma do homem e uma mulher realizada e que tem de seguir  outro caminho, porque o caminho da mulher é diferente do  homem. E no que escrevo e defendo, dou sempre prioridade à mulher em si mesma, vista como um todo e não mais a mulher dividida entre duas mulheres, como sendo a casta esposa sem desejo, fiel ao marido e mãe dos filhos do homem e por outro lado a prostituta condenada a vender o sexo e o corpo e a sua alma à deriva, a mulher tornada um mero corpo objecto de desejo, submetido à ordem e sujeito ao prazer do “outro” e uma mente subjugada...
O que falo aqui e defendo é de um Matrimonio da mulher consigo mesma...um casamento com a Deusa...


Mas porque fogem as mulheres do Seu Labirinto…

Porque fogem as mulheres aos seus espaços íntimos de busca interior e femininos no sentido mais profundo e tudo o que sejam trabalhos de nível espiritual patriarcal, seja a via xamânica, tântrica, cultural ou artística, assim como tudo o que sejam as expressões lúdicas, elas aderem ao modus vivendo masculino. E por vezes, mesmo do feminino sagrado ou as danças orientais, elas aderem com uma certa facilidade ao lado ludico…mas quando se trata de aprofundarem uma consciência do seu lado oculto e da parte essencial de si mesmas, a mais difícil e controversa parte, a parte oculta de si e censurada socialmente, elas fogem e não ousam enfrentar a sua sombra e assim recuam no conhecimento de si mesmas e até, quando em busca da Deusa, elas mantêm-se apenas na superfície de um entendimento qualquer sobre a Deusa ou sobre as deusas na mulher. Há porém um conhecimento-sabedoria da mulher que precisa de um maior aprofundamento em si e que significa ir muito para além de se frequentar Cursos, Círculos e rituais, Workshops, ou irem a um Festival da Deusa. Não digo que não devam fazê-lo, mas não basta isso e mesmo que tenham os chamados poderes de visão, ou serem médiuns ou curadoras, se a mulher não tiver feito a união das duas mulheres em si se ela não tiver resolvido a sua relação com a sua mãe isso também não acontecerá com as suas ancestrais. E esse trabalho que começa na psique feminina começa ao enfrentarem o seu abismo pessoal, ao irem ao mais fundo do seu Labirinto, olharem-se no espelho e verem-se do outro lado, verem o verso e o reverso de si…e então amarem-se como são…aceitarem-se como são e a partir daí começar então o trabalho de escavação psíquica...Sim, ir ao fundo da nossa Psique, resgatar o outro lado de nós...o oculto e o denigrido o apagado e o rejeitado...pela história e a cultura dos homens!

Mas aí elas temem e hesitam, e recuam…fogem do seu labirinto...

"A aprendizagem da realidade sem rosto é dolorosa, assusta (porque destrói o ego) mas é uma aprendizagem que se faz"
- Jung

Sem dúvida porque se trata do mais difícil em nós e que se torna muito doloroso enfrentar o que mais nos feriu. No caso da mulher particularmente ela é um ser demasiado ferido e precisa essencialmente curar-se a si própria antes de querer curar ou ajudar quem quer que seja…e enquanto a mulher exercer o seu Dom - e este é o ponto da minha questão a questão para mim crucial neste tempo de transição de paradigma - que a mulher sem que integre as duas mulheres em si cindidas pelo patriarcado, não pode ser curadora…porque fazer trabalhos os mais incríveis e variados que sejam, sem integrar as duas mulheres cindidas pela religião, que as separe e divide em estereótipos, ela não pode integrar mais nada de forma saudável, porque o medo e o antagonismo entre a “outra” mulher sombra que a ameaça…não permitirá criar essa empatia que cura com a outra mulher ou uma irmandade sonhada e tão desejada. A questão é e o perigo também de a mulher continuar a branquear a sua dor e as causas dela...projectando nas outras mulheres uma cura que em si não se deu e portanto dançam para esquecer...ou convencem-se de que amando a Deusa não se precisam de amar a elas mesmas e as outras mulheres… e ai começa a velha historia do antagonismo das mulheres que reflete a má relação com a mãe, a ferida com a mãe que se encontra por resolver...Há sempre um dia em que a mulher se torna inimiga da outra mulher…mesmo que não o ouse dizer ou mesmo ter disso consciência, ela vai sempre odiar a mulher que, quando menos esperar, a espelhe na sua sombra a mais dolorosa…e quanto mais fugir dela mais ela a perseguirá, mais a fará sofrer e as suas irmãs…


O grande problema da mulher que por sua vez dedica a sua  busca do feminino sagrado é ainda  separar o arquétipo da Deusa como divindade por um lado que não faz parte de si enquanto mulher ou da sua experiência de mulher divina, porque vê o arquétipo fora dela  sem vivenciar as suas emoções. Mas o arquétipo só pode ser entendido quando vivenciado pela emoção e integrado e isso só acontece quando ele é activado de forma numinosa na psique feminina. O mero estudo intelectual da Deusa não acrescenta nada de interior a mulher: não a muda, não a torna efectivamente mais mulher… Por isso é importante que ao estudar o arquétipo da Deusa a mulher integre a sua manifestação em termos vivenciais e substanciais e não teóricos… e é esse creio o problema da separação da mulher mental da mulher interior.   O saber intelectual por um lado e a falta de experiência do mesmo por outro, não conduzem a mulher a uma totalidade.


Eu aposto na descoberta da Mulher integral pelo seu SER INTERIOR, na fusão das duas mulheres cindidas pelo patriarcado, quando unidas em si e já não haja separação entre a deusa e a mulher...e para mim essa é a conquista da Mulher Absoluta! A Mulher Deusa!

Nada mais nem nada menos do que isso…

Texto revisto e acrescentado mas inicialmente escrito em 2012

rosa leonor pedro

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