O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 26, 2020

A MULHER IDEAL




"A  mulher ideal (a boa* mulher) é colocada num pedestal – um palco pequeno, precário e elevado, frequentemente minado, no qual ela permanece o máximo que pode – até que caia dos saltos altos ou até que exploda. (…)

O modelo antifeminista da superioridade da mulher funciona para manter as mulheres  abaixo da escala social, não acima, no mundo brutal do intercâmbio humano real. Para permanecer adorada, a mulher deve permanecer como um símbolo e deve permanecer "boa". Ela não se pode  tornar meramente humana na sujeira da vida, moralmente defeituosa e lutar moralmente, cometendo atos que têm consequências complexas, difíceis e imprevisíveis (dentro do Sistema). Ela não deve andar pelas mesmas ruas que os homens andam ou fazer as mesmas coisas ou ter as mesmas responsabilidades.

Precisamente porque ela é ideal (boa*), ela é incapaz de fazer as mesmas coisas, incapaz de tomar as mesmas decisões, incapaz de resolver os mesmos dilemas, incapaz de assumir as mesmas responsabilidades, incapaz de exercer os mesmos direitos."

Andrea Dworkin


*Nota

Traduzi a palavra boa por ideal no texto original porque em português boa tem dois sentidos, nãos ser apenas boa pessoa, mas também boa fisicamente o que quer dizer, boazana na giria e tem um sentido algo pejorativo... enquanto que a escolher boazinha tem um sentido de parva...
Em relação a este apontamento contudo, temos já uma atitude contrária hoje em dia, que é as mulheres que se julgavam emancipadas e portanto quase sempre defensoras do feminismo ou  feministas que passaram a fazer tudo o que os homens fazem, enquanto que as raparigas mais novas são bem piores do que os rapazes em todos os sentidos, é o que os jovens dizem. Portanto, este trecho está um pouco ultrapassado mas correspondia exactamente ao que se passou com as mulheres que há 20 ou 30 anos atrás tiveram algumas ascensão social e profissional  até mesmo politica, quando se portavam bem e eram boazinhas...   ou por outra, quando obedientes e cordatas ascendiam...caso contrário são logo afastadas ou esmagadas pelos homens. Eles não brincam em serviço...

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