O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 16, 2020

MAIS UM FILME DE TERROR



"Drogar mulheres, mantê-las em cativeiro e tocá-las sem consentimento não é romance e, sim, abuso, ainda que você tenha um belo corpo e dinheiro."


"Antes de analisar essa problemática, vale a pena mencionar que o roteiro é péssimo, parece colagem de cenas mal feitas com uma sucessão de clichês que cumprem um único propósito: objetificar as mulheres.

Rotulado como filme de romance, estamos diante de uma obsessão doentia. O filme começa com um sequestro, um crime para que a mulher seja obrigada a se apaixonar por ele em 365 dias. Temos clarame...nte a definição do Macho Hetero, que tem autoestima elevada e acha que qualquer mulher ficaria com ele.

Esse estereótipo objetifica mulheres. Percebe-se isso quando o personagem leva a mulher para um dia de compras ao achar que pode comprá-la.

A questão é muito além de aceitar ser submissa na hora do s.ex.o. É uma misoginia explícita ao usar frases como "consigo tudo que quero, na hora que quero, inclusive você", além de reclamar da roupa que ela usa.

Essa violência se estende, pois o personagem obriga outra mulher a fazer s.ex.o oral nele, ou seja, claramente enxerga as mulheres como objetos que só existem para lhe dar prazer, desconsiderando suas emoções e direitos.
Assim como a toxicidade de Grey ["Cinquenta Tons de Cinza"] foi idolatrada, a de Massimo também está sendo.

Por causa dos estereótipos de gênero, se ensinam às mulheres que o homem ideal é superprotetor, que faz tudo por ela e a sustenta. Normalizar esses estereótipos, sequestro, estupro, violência moral, psicológica como a própria Síndrome de Estocolmo, em filmes é propagar a violência contra a mulher como um todo.
Precisamos repensar a cultura pop e seu machismo ao glamurizar o boy lixo. Filmes misóginos e de s.ex.ual.ização da mulher não devem ser ignorados porque glamurizamos uma atitude específica, rostos bonitos, paisagens paradisíacas e e.rot.ismo.

Precisamos analisar criticamente a forma com que os estereótipos de gênero são enraizados. Não dá para querer combater o machismo e, ao mesmo tempo, idolatrar filmes como esse, porque é exatamente assim que se desenvolvem os relacionamentos abusivos quando ignoramos todo um contexto de violência em detrimento de uma atitude especifica.

Drogar mulheres, mantê-las em cativeiro e tocá-las sem consentimento não é romance e, sim, abuso, ainda que você tenha um belo corpo e dinheiro."
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Por Synthya Maia
Advogada criminalista
Direito das Mulheres e LGBT

2 comentários:

Anónimo disse...

Comprei seu livro e estou amando.

rosaleonor disse...

Fico muito contente - então quando quiser diga o que sentiu para eu publicar e se quiser tirar uma foto com o livro...também era interessante. Um abraço