O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, janeiro 31, 2021

A nossa historia pode mudar



QUANDO FORES VELHA

"Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas  ..."* aqui a nossa história pode mudar...




A DIFICULDADE QUE AS MULHERES TEM EM ENVELHECER

Sim, a velhice existe...existe de todas as maneiras e feitios e não adianta nega-la...mascará-la, pintar os cabelos, fazer botox ou fingir-se que se não é velha...pois essa fase é importantíssima na vida de uma mulher, quando esta deixa de se guiar pelos valores do patriarcado, do consumo e do mercado, ou seja, pela aparência e pela imagem que a moda e os Midea e os filmes projectaram dela apenas como uma mulher-corpo-objecto-sexo. É o que aconteceu neste ultimo século - a mulher que só tem valor pela sua aparência física e o seu sexo e pouco mais - o chamado sex appeal -, que também hoje está a ser extensivamente difundido no Instagram, e no Facebook, em que as mulheres (até inteligentes) pousam e exibem o seu corpo sob qualquer pretexto.
Pessoalmente nunca me achei bonita nem feia. Ou não serei fotogénica. Mas pensei sempre noutros valores e na força do meu carácter, na minha alma, mais do que no meu corpo ou no meu sexo. Mas sempre adorei roupa e perfumes, echarpes e saris ... menos maquilhagem ou artifícios excessivos. Nunca me pintei muito e jamais os lábios. Penso que as virgens são vaidosas mas circunspectas...ou demasiados modestas para se exporem, depende, mas agora que cheguei a velha, tenho um inusitado prazer em me ver envelhecer e gosto de me ver assim como estou... (e não digo que não custou!)
Mas agora gosto de me ver e assumir como velha e prefiro hoje ser honrada e olhada como a mulher sábia ou Bruxa e expressar o que sinto e acredito de forma sóbria, como seria uma guardiã do Conhecimento ancestral, se eu o fosse, não o afirmo, do que pela minha beleza, sucesso ou fama, pois tudo é efémero e o que fica é sempre é o sentido do eterno....
Claro que nos nossos dias há muito poucas mulheres velhas e sábias ou respeitadas como tal - tirando as velhas xamãs oriundas de países sul americanos - porque nesta realidade, a que vivemos, a grande maioria dessas mulheres são doentes e depauperadas por anos de sofrimento e humilhações, sobrecarregadas de trabalhos ou mulheres fúteis e ignorantes em total negação dos seus corpos e idade, que as leva a agir como se a mulher velha fosse igual à nova - sim também me dizem que eu pareço muito mais nova ao vivo, mas isso pouco me importa já. Vejo de facto tantas mulheres velhas que de costas parecem meninas (a infantilização da mulher até a velhice) de tal maneira estão mascaradas e quando se viram vemos as rugas e a pele toda engelhada...É patético. Sim, sentir-me -ia patética nesse caso, contudo visto-me informalmente e detesto fazer figura ou manter uma aparência de jovem... apesar do ténis ou seja lá o que for que não diz com a minha idade...Porém sinto-me jovem de espirito até porque a alma nunca envelhece, mas o meu corpo está em decadência obvia, assim como as minhas funções e apetites... mas isso não toca a essência da vida nem a força do amor que me move... A minha alma agora livre de apegos e ilusões e vaidades...rejuvenesce no mais intimo do meu ser.
O que eu penso é que a velhice não deveria mais ser disfarçada nem encarada como uma desgraça nem como uma diminuição, mas sim como uma elevação do Ser Mulher a um estatuto quase sagrado porque essa mulher caminhou e viveu uma vida inteira e ela cumpriu a sua vida para ser essa totalidade, para ser essa voz da experiência na família ou na comunidade.
É claro que numa sociedade patriarcal comercial e materialista que só vive do exterior, e onde a mulher foi negada como ente e as fases da sua vida igualmente deturpadas pela obsessão da beleza ou a doença da falsa beleza, esse culto do corpo e da juventude, que deteriorou tudo e o que vivemos hoje é uma catástrofe humana para as mulheres velhas, anónimas, desprezadas e maltratadas e em todos os aspectos. O que se faz com a Mulher mais velha nesta sociedade, assim como o que se faz com a todas as Mulheres em geral e também com a Mãe Terra a Natureza e os animais e as árvores é a mesma coisa, algo de monstruoso a que deviamos por fim, se cada uma de nós se empenhasse em ser apenas aquilo que é, sem complexos...
Gostaria pois de pensar que as mulheres de hoje as mais conscientes de si pudessem libertar-se destes padrões e serem mais naturais ao voltarem-se para a natureza MÃE E ASSIM SEREM HONRADAS PELA SUA BELEZA para lá das idades e das fases da sua vida e assim todas as mulheres poderiam testemunhar a sua experiência de vida em consciência como mulheres consagradas pela Deusa e nas suas diferentes etapas.

rosa leonor pedro

*William Butler Yeats 



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