O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, fevereiro 01, 2021

OS SERES FEMININOS



A MULHER ANIMA

" Á medida que o arquétipo feminino consciente se desdobra na consciência, o seu arquétipo aliado muda também. Tão pouco conhecemos ainda o verdadeiro masculino consciente. Confundimos o princípio de poder patriarcal, que controla e altera a natureza a qualquer custo, com o masculino. Assim, o masculino sofreu um desequilíbrio pela perda do feminino, e também ele pode ser renovado, esclarecer-se e renascer em nós. Com a sua aparição, temos uma grande oportunidade para fazer alquimia espiritual, para encontrar o mistério do outro no casamento sagrado." - Connie zweig

"Não se esqueçam de que os seres femininos, literalmente, trazem vida ao planeta pois a vida sai do corpo feminino."

Para as mulheres, a constante entre espiritualidade como caminho, e a busca da sua identidade profunda, coloca-se muitas vezes em oposição ou em alternativa. E não é uma coisa nem outra. Mas continuamos a confundir o processo dito espiritual como uma finalidade em si, comum a todos os indivíduos e a não ver este ponto crucial da realidade da mulher que é ela estar cindida...que é ela ter uma ferida do tamanho do Mundo: Que é Ela ser a visada, diria mesmo a vítima, (e a causadora da “Queda”) dentro do Sistema patriarcal e que o caminho espiritual da mulher possa ser diferente do caminho do homem porque – e isto é algo que não se quer ver ou sequer pensar - parte da sua espiritualidade está ligada à sua Natureza intrínseca, ontológica, ao sangue e as luas, portanto ao Utero e aos ovários e ao dar à Luz – tudo o que faz essa diferença e é a sua essência. A Mulher, não estando ligada à sua fonte interna como mulher - o que acontece regra geral na nossa sociedade, totalmente alienada da sua profundidade primordial e por outro lado presas dessas funções ...e é ai que todas as mulheres vivem essa divisão intrínseca na sua psique, sendo apenas uma metade de si ora santa ora puta sempre uma espécie de “utensílio” ao serviço dos homens, “amantes” maridos e filhos - e portanto não unindo essas suas partes de si a mulher abissal e a mulher psíquica pois não tendo acesso a essa mulher das profundezas, a mulher estará sempre sujeita ao fracasso de ser apenas uma metade e consequentemente o homem também porque não tem acesso à verdadeira mulher, a mulher da origem, a mulher ontológica, ou seja à sua Anima ou ao seu verdadeiro feminino que a mulher lhe espelha. Essa divisão-cisão na mulher não só a impede a ela de ser uma totalidade em si com de ser Mulher, assim como impede o próprio homem de chegar a si mesmo pois ele chega à Deusa através da deusa e da Mulher...o homem toca a anima através da Mulher e vice versa, em realção a mulher tocar o seu animus.
Para mim, a razão de Jung ter qualificado a anima como parte integrante do masculino e o animus parte integrante do feminino, associando esse princípio ao yin e ao yang, embora estes dois aspectos estejam em simultâneo em ambos os seres, e isso ser efectivamente uma verdade, eu não considero que nem um nem outro, homem ou mulher, estejam ou possam estar na plenitude dessa consciência da sua integralidade ou vivendo a integração desses dois lados do ser Um, e dai a ideia da necessidade de “completude” nascer do vazio de ambos, embora havendo um apelo à união do par dentro e fora, mas só poderá acontecer se a mulher representar antes de mais a ANIMA. Quanto a mim, a Mulher será sempre a Anima, a Dama e a Rainha, a Musa...e é ela que dá corpo ao Graal é ela que dá corpo a vida e a Luz o homem...
Por isso parece-me um total absurdo (embora compreensível na época...) qualificar a anima como o aspecto interior no homem e o animus na mulher. Confunde-se a alteridade de feminino-masculino em ambos os sexos. O facto é que na época de Jung e Freud etc. se dava por natural essa cisão na mulher - era natural haver as esposas legitimas e as filhas do papá e as putas e os filhos da puta...era dentro desses contextos haver as meninas educadas...e as gajas ordinárias, sem educação paternalista, que se prostituíam , como era natural haver os ricos e os pobres. Portanto tudo o que a mulher da altura reflectia das suas lutas em família e contra os costumes e o que ela reflectia dessa cisão e conflito profundo dentro de si e que se reflectia fora, era tomada como um distúrbio psíquico, uma doença, era considerado como uma patologia por falta de homem e de sexo apenas, neurose, sendo a mulher uma histérica ou um mistério, para eles etc. sendo muitas vezes internada cem Hospícios como é o caso da famosa discípula de Jung….
Na verdade o drama da mulher ao longo de séculos tem sido uma Psique dividida e ferida profundamente, separadas nela a função maternal e a do prazer… forçada pelas regras de uma sociedade paternalista e das leis do homens que a relegaram a uma inferioridade humana e social e atribuindo-lhe um duplo papel, o de esposa ou de amante ao instituir o casamento como via única para a mulher nobre e séria e assim manter a descendência e o nome do Pai e portanto a mulher que não fosse casada e pertença do Homem, mãe dos seus filhos, seria pelas circunstâncias obrigada a se prostituir…e t ão apenas isto…
Esta mitologia do Pai e de Deus e do filho, afastou completamente a mulher da Mãe e da Deusa levando a mulher a sofrer essa separação da mãe e a rejeitar o seu feminino à imagem da mãe sofrida ela por sua vez também sacrificada ao mito Homem.
Esta divisão da mulher em duas espécies, está tão inculcado nas cabeças das pessoas, tão enraizado na mente colectiva, que nem os homens mais espertos e estudiosos ou os mais inteligentes nunca deram por nada…e vemos assim psicólogos, filósofos e sexólogos completamente alheios a uma questão tão óbvia e premente como exta. Mas o mais grave é haver mulheres e psicologas a enveredar pelo mesmo erro e sem qualquer consciência de si e do seu trauma-cisão.
E portanto quando eu falo de Mulher Inteira, não falo do par animus-anima equilibrado, ou integrado, mas antes de tudo, de uma Mulher que já não sofre essa cisão, uma mulher que une em si as duas mulheres divididas pelo patriarcado não sendo uma nem outra mas o somatório das duas… e que elege a Mãe e a Deusa como suporte da sua inteireza, conscientes da sua história e como foram sonegadas e relegadas para um plano de inferioridade e subalternidade ao longo da história dos homens.
Será interessante ler e pensar no se pode ler mais abaixo neste texto que se segue,

"As mulheres começaram a abrir sua garganta há cerca de trinta anos, passando a ter a oportunidade de falar sempre. O problema é que muitas mulheres acabaram fechando o centro do sentimento ao abrirem o da fala. Começaram a parecer homens. É necessário equi­líbrio. A mulher agora está sentindo a necessidade de despertar o princípio feminino dentro dela. Vive num corpo feminino e controla o uso da vibração masculina no seu interior.

Saiu para o mundo, sente-se poderosa. Pode andar pelas ruas sem um véu a esconder-lhe o rosto e decidir se deseja, ou não, se casar. É dona de si. É responsável por suas próprias decisões. Está começando a se tornar mais suave, despertando seu lado fe­minino que a nutre e vitaliza. Ao se tornar inteira, com suas porções masculina e feminina, e se permitir vivenciar o DNA evoluído, ela transmite uma frequência. E esta será a frequência predominante no planeta. É inevitável que os homens abram o centro do sentimento. É o próximo passo que precisam dar para estabelecer o equilíbrio com as mulheres. Isto vai acontecer muito depressa para os homens."*
(...)
*In Mensageiros do Amanhecer – Barbara Marciniake

rleonorpedro 
escrito em 2018


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