O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, março 19, 2021

A mulher verdadeira não existe...



AS FILHAS DO PAI...

"O retorno à deusa, para renovação numa base de origem e num espírito feminino, é um aspecto vitalmente importante na busca que a mulher moderna empreende em direcção à totalidade.
Nós, mulheres que alcançamos sucesso no mundo, somos, via de regra, “filhas do pai” , ou seja, somos bem adaptadas a uma sociedade de orientação masculina, e acabamos por repudiar nossos instintos e energias mais integralmente femininas, rebaixando-as e deformando-as da mesma forma que a nossa sociedade o fez. Precisamos retornar a esse mundo e redimir o que o patriarcado frequentemente considera apenas como uma ameaça perigosa, chamando-a de mãe terrível, dragão ou bruxa."*



Não! A mulher verdadeira não existe, porque a mulher moderna não consegue, apesar da sua pretensa liberdade e da sua instrução ou cultura, entrar em contacto com a mulher ancestral, com a mulher eterna, a mulher substancial, a mulher visceral que toda a mulher é. Ela está tão longe da sua verdadeira história como da sua origem. Ela não sabe que a Mãe e a Filha, que foram outrora as protagonistas da História como culto Grego da Grande Deusa Mãe durante milénios, e que com o evento do patriarcado perderam completamente a sua autonomia e liberdade de serem e exercerem não só as suas capacidade como os seus poderes; elas foram paulatinamente destronadas das suas funções de sacerdotisas e de mulheres curadoras e inspiradas, e ignoram que esse culto da Mãe e da Filha, se perdeu nos confins da historia do Homem para reinar apenas o culto do Pai e o Filho…

Desse modo, as mulheres ao longo dos séculos, foram afastadas completamente dessa essência feminina e da ligação as mães para se tornarem gradualmente apenas filhas do pai e e assim se perderem nos conceitos e religiões masculinas. Afastaram-se de tal modo da sua ancestralidade e linha matrilinear que o que ficou arraigado na mente e no corpo da mulher foi a opressão e o medo de tudo o que a lembra dessa origem. Sofreram de tal modo ofensas, violências e perseguições que se afastaram de tudo o que as pudesse fazer reviver esse passado. Por tudo isto as mulheres de hoje, que sofreram na pele ainda o resultado de todos esses preconceitos e medos e tabus, acabaram por se moldar ao pensamento masculino e favorecer o Sistema e estar do lado dos opressores.

Portanto a mulher comum, a dita mulher moderna, que não se lembra sequer desse passado, não quer agora perder o controlo e a autonomia que pensa que já adquiriu na sociedade patrista; ela não quer perder o emprego e a pequena independência do carro e das compras, ou das viagens, agarrada ao poder do pai, do poder do marido, do filho ou do patrão…ela não quer sequer perceber que teria de caminhar por si só sem esse medo de perder a protecção que homem lhe prometeu e cujo medo incutiu na sua mente para melhor a dominar e manter servil…
É subtil a forma como a mulher emancipada e que se julga livre, que trabalha e tem o seu ordenado, as vezes superior ao do homem, está ainda presa dele sexual e emocionalmente, sem perceber que continua a agir e a viver como as mães controladas e dependentes dos maridos quando ainda eram só as "domésticas" e fechadas em casa e que repetem os mesmos padrões em todos os aspectos da sua vida. Muitas vezes, mesmo mal no seu corpo, ferida na sua alma e dignidade, e ainda que independente economicamente, ela não sai de casa do marido nem deixa o filho…e mesmo quando é espancada ou violentada na sua liberdade e integridade, ela fica presa à casa como se fosse incapaz de desfazer a teia com medo das consequências…e elas existem! A sociedade patriarcal e machista não perdoa…uma mulher separada ou divorciada é continuamente assolada pela matilha dos predadores, dos homens casados, dos patrões, dos amigos do marido inclusivo…”mulher que não pertence a um homem não é séria”… e pode usar-se e deitar fora, é só insistir porque mesmo que a mulher diga não, o homem não quer saber e continua o assédio…
E o que está a acontecer no mundo ocidental e civilizado no ataque às mulheres sós quando elas ousam usar a mini-saia ou o decote…são agredidas e chamadas de putas… Sim, no Irão ou Iraque é “norma” onde, recentemente, as raparigas oprimidas e expostas a uma sociedade fanática e machista e onde não tem quaisquer direitos, recentemente umas jovens que foram violadas acabaram mortas pelos pais e irmãos como culpadas de não serem recatadas o suficiente… mas na Europa e América e no Brasil? Na China e no Japão? Será diferente? Não, e se atentarmos melhor vemos como a violência sobre as mulheres está a crescer exponencialmente no mundo inteiro e de acordo com a violência e abuso continuado dos homens, elas continuam a ser o seu bode expiatório como foi sempre a mulher nas sociedades patriarcais em todo o mundo… e mesmo no caso das ditas mulheres modernas, que são intelectuais e escritoras, advogadas e médicas e até ministras e deputadas, esse horror permanece no seu horizonte diário ainda que branqueado ou disfarçados de lutas politicas e ideologias de género etc. 
Por isso eu digo que não, a verdadeira mulher livre e senhora de si não existe. Porque enquanto a mulher não se enfrentar e a esta realidade e descer de novo aos seus abismos ela nunca será uma mulher inteira.

rosaleonorpedro

*in CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA :
De SYLVIA B. PERERA

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