O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 28, 2021

O AMOR ROMÂNTICO



"O amor romântico entre duas pessoas é algo muito desejado pelo ser humano porque oferece a (ilusória) sensação de libertação de estados de Medo, Carência e Sofrimento.

 
Ao pincelarmos numa tela um cenário de envolvência humana com matiz romântica, imediatamente convocamos miríades de imagens idílicas que traduzem fisicamente uma união de polaridades opostas, concretizada exponencialmente na comunhão sexual. Na base congénita desse físico desejo subjaz inerente um impulso espiritual: o fim da Dualidade.
Todavia, a ligação dos Opostos e das metades que almejam um regresso à Integridade e à Unicidade pela via carnal da fusão sexual consubstancia-se em moldes bastante apertados e fugazes. Pois, a união sexual estimula-nos para viagens astrais fora da dimensão em que nos encontramos e até pode oferecer-nos um vislumbramento etérico do ansiado e platónico Paraíso, mas não nos deixará permanecer nele. Inexoravelmente, continuaremos ancorados num corpo físico, separados do nosso companheiro(a).
Por outro lado, teimamos em identificar-nos com a Mente, a energia tóxica do Medo e a valência endógena das coisas exteriores a nós e à nossa própria Essência (status social, bens materiais, imagem física, objetivos profissionais e convicções pessoais). Nessa baixa frequência vibratória, estamos formatados para buscar incessantemente a nossa satisfação em aspectos que não essenciais e que, em boa verdade, nunca colmatarão as nossas reais lacunas.
Ora, quando o Universo nos cruza com uma "pessoa amada" passamos espontaneamente a identificar-nos com ela e o nosso foco, alterando-se e desviando a sua rota do nosso próprio centro, gravitará depois em torno da existência dela, sendo ela nada mais do que um outro ser humano, exterior a nós.
Navegando nas águas turbulentas dos relacionamentos humanos, ao sentirmos "amor" e "rejeição" numa mesma convivência identificamo-nos com uma atestada confusão entre o Amor e algo que lhe assiste absoluta diferença: o afecto do Ego e o Apego emocional. Uma das verdades universais é que o Amor não tem oposto!
Se o nosso parceiro deixar de satisfazer as necessidades insaciáveis do nosso Ego, regressam novamente os sentimentos do Medo, da Carência e do Sofrimento, porque eles já são parte intrínseca da nossa consciência egóica. Só que agora, de modo premente, tais emoções impelir-nos-ão a atacar o nosso parceiro, porque egoicamente consideramo-lo a causa daquela tóxica sintomatologia e, portanto, responsabilizamo-lo na esperança de que, com esse ataque e postura manipuladora, volte novamente a suprir as nossas desabridas necessidades.
Toda a forma conjuntural de Dependência carrega o pesado fardo do Sofrimento, a montante e a jusante. E na constância do sensível plano relacional, depender de outra pessoa será tão só para mascarar a nossa própria Dor. É por essa substancial razão que nos relacionamentos amorosos existem mesclados momentos de grande euforia e igualmente de Sofrimento e de Infelicidade. Mas não são os relacionamentos humanos que originam a Dor e a Infelicidade, eles apenas ressaltam a Infelicidade e o Sofrimento que já deambulam dentro de nós, seres humanos, por não estarmos (ainda) suficientemente evoluídos e expansivamente conscientes.
Importa retermos que um historial sofrido de convivência amorosa não poderá ser sinónimo de opção pela fuga do Agora, para aguardar diligentemente uma salvação futura (o "Príncipe Encantado"). Do mesmo modo que não devemos evitar ou protelar insistentemente relacionamentos com outras pessoas para não passarmos por novos sofrimentos (traumas anteriores).
A solução clarividente para um sucesso duradouro nas interações pessoais passará sempre por deixarmos de julgar (afastarmos o Ego) e por aceitarmos o Outro como ele é. O Amor não é, nem nunca foi, selectivo. Ele é como um Sol que brilha para todos, sem distinções. Está enraizado no interior da nossa Essência, pelo que nunca se separará de nós, não depende de qualquer outro corpo físico nem de qualquer forma exterior. Supera o Medo, a Carência e o Sofrimento. Não julga, perdoa e aceita!
Quando, na quietude mágica e solitária da nossa presença, conseguirmos transcender as intenções egóicas da Mente e visualizarmos conscientemente além do véu da matéria, da forma e da separação, sentiremos nessa altura a natureza intemporal e sem forma do Amor, em nós, no interior de todos os seres humanos e de todas as outras criaturas, alcançando assim a almejada meta da Unicidade com tudo e da frondosa nutrição do Amor em relação a todos...!!"

Nuno Peixe

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