O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, março 15, 2021

HÁ QUEM PENSE...




UMA VSÃO LUCIDA...


Não sou masoquista e se analisar as coisas de um ponto de vista do interesse próprio - e só esse - os confinamentos beneficiam-me claramente: gasto menos, ganho o mesmo, o trabalho é diferente o que não me chateia já que nunca fui propriamente um adepto de nenhuma rotina.
Também não vivo só, mantenho contacto com amigos por outras vias e tenho diante de minha casa uma vasta área verde por onde deambular. Não corro nenhum risco de entrar em depressão, nem há historial de problemas mentais na minha família. E ao longo destes anos tenho sido um contribuinte líquido para a Segurança Social: quase nunca vou ao médico, nunca fracturei um osso nem tive nenhuma doença crónica.
Simplesmente e ao contrário de muita gente que me vem acusando de egoísmo, tenho visto os efeitos devastadores desta crise fabricada nos seus vários níveis e sei que estamos muito longe de bater no fundo. Arrepia-me que tanta gente que eu considerava informada e inteligente tenha deixado tudo isso ''pra lá''.
Nada do que aí venha será surpresa para mim e tentarei conter-me para não estar constantemente a repetir, cada vez que algum optimista, apanhado de surpresa, se queixar de coisas muito previsíveis:

- Onde andavas quando os primeiros sinais de alarme soaram? por que razão tu, que até nem costumavas confiar muito nos media, desta vez te rendeste completamente a uma narrativa esburacada, contraditória e - sim, também - totalmente anti-científica?''
O tempo esgota-se e quanto mais se avança sem sinais de uma inversão de marcha nesta loucura, piores serão as consequências. Muitas pessoas perderam já toda a consciência social mas, pior que isso, deixaram de entender também o quanto precisamos uns dos outros, além do contacto virtual: o quanto as máscaras nos desumanizam, a que ponto o distanciamento social nos atomiza e transforma cada um de nós no seu próprio gheto, havendo sempre quem assuma a posição de kapo do campo de concentração em que a nossa sociedade se vem tornando.
Quem acha que assim se defende a saúde não absorveu bem as lições do passado sobre higienismo, estados totalitários e o esgaçar do tecido social que se anuncia para breve, a menos que se abandone este pânico insano e profundamente suicida, individual e colectivamente falando.

António Gil - professor

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