Não sou masoquista e se analisar as coisas de um ponto de vista do interesse próprio - e só esse - os confinamentos beneficiam-me claramente: gasto menos, ganho o mesmo, o trabalho é diferente o que não me chateia já que nunca fui propriamente um adepto de nenhuma rotina.
Também não vivo só, mantenho contacto com amigos por outras vias e tenho diante de minha casa uma vasta área verde por onde deambular. Não corro nenhum risco de entrar em depressão, nem há historial de problemas mentais na minha família. E ao longo destes anos tenho sido um contribuinte líquido para a Segurança Social: quase nunca vou ao médico, nunca fracturei um osso nem tive nenhuma doença crónica.
Simplesmente e ao contrário de muita gente que me vem acusando de egoísmo, tenho visto os efeitos devastadores desta crise fabricada nos seus vários níveis e sei que estamos muito longe de bater no fundo. Arrepia-me que tanta gente que eu considerava informada e inteligente tenha deixado tudo isso ''pra lá''.
Nada do que aí venha será surpresa para mim e tentarei conter-me para não estar constantemente a repetir, cada vez que algum optimista, apanhado de surpresa, se queixar de coisas muito previsíveis:
- Onde andavas quando os primeiros sinais de alarme soaram? por que razão tu, que até nem costumavas confiar muito nos media, desta vez te rendeste completamente a uma narrativa esburacada, contraditória e - sim, também - totalmente anti-científica?''
O tempo esgota-se e quanto mais se avança sem sinais de uma inversão de marcha nesta loucura, piores serão as consequências. Muitas pessoas perderam já toda a consciência social mas, pior que isso, deixaram de entender também o quanto precisamos uns dos outros, além do contacto virtual: o quanto as máscaras nos desumanizam, a que ponto o distanciamento social nos atomiza e transforma cada um de nós no seu próprio gheto, havendo sempre quem assuma a posição de kapo do campo de concentração em que a nossa sociedade se vem tornando.
Quem acha que assim se defende a saúde não absorveu bem as lições do passado sobre higienismo, estados totalitários e o esgaçar do tecido social que se anuncia para breve, a menos que se abandone este pânico insano e profundamente suicida, individual e colectivamente falando.
O tempo esgota-se e quanto mais se avança sem sinais de uma inversão de marcha nesta loucura, piores serão as consequências. Muitas pessoas perderam já toda a consciência social mas, pior que isso, deixaram de entender também o quanto precisamos uns dos outros, além do contacto virtual: o quanto as máscaras nos desumanizam, a que ponto o distanciamento social nos atomiza e transforma cada um de nós no seu próprio gheto, havendo sempre quem assuma a posição de kapo do campo de concentração em que a nossa sociedade se vem tornando.
Quem acha que assim se defende a saúde não absorveu bem as lições do passado sobre higienismo, estados totalitários e o esgaçar do tecido social que se anuncia para breve, a menos que se abandone este pânico insano e profundamente suicida, individual e colectivamente falando.
António Gil - professor
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