Escrito por Luisa Semedo
(via facebook)
A propósito do artigo que anda a circular sobre violência sexual (já escrevi anteriormente porque me recuso a utilizar a palavra abuso) na Academia e o, no mínimo, insípido subsequente comunicado interno do CES, que ainda por cima normaliza a violência contras as mulheres "sempre foi assim/é assim em todo o lado":
Na Sorbonne, quando tínhamos de escolher os nossos orientadores/diretores de Maîtrise/DEA/ Master/Doutoramento (em Filosofia a esmagadora maioria dos “Star Professor” eram/são homens) falávamos entre raparigas do critério “homem sério”. É também isto ser uma mulher, ter de ter em conta para além de todos os outros critérios, este critério suplementar. Critério que não é, de forma alguma, secundário. Um Star Professor, ou um Professor tout court podia ser um perigo não somente para as nossas “carreiras”, mas a vários outros níveis como facilmente se pode imaginar.
As mulheres conhecem bem as reações dos homens com algum tipo de poder que não toleram “levar um não para casa”. Pouco importa o meio onde se movimentam. Só para dar dois exemplos (fora da academia, porém homens de poder), entre tantos outros, que são emblemáticos, um que me disse todo meloso que me “podia ajudar” (sem que eu lhe pedisse) e tornou-se agressivo logo a seguir mal compreendeu que “daqui não levava nada” e outro que me perseguiu num evento público e ameaçou-me (com o dedo na minha cara) só porque não respondia às suas “simpáticas” mensagens. Sabendo, que de uma forma ou de outra todos os homens, num sistema patriarcal são homens com poder. A diferença é que há alguns homens com o poder de estragar diretamente a nossa vida profissional. E, por isso, para além dos medos do costume existe ainda este, e somos obrigadas a colocar na balança a possibilidade de perder tudo aquilo para o qual trabalhámos.
O mundo académico é pequeno, e ainda mais em Portugal, ter problemas com um Star Professor, pode querer dizer ter problemas com uma grande parte da sua rede de influência. Neste contexto, como em muitos outros do mesmo tipo, as mulheres são obrigadas a aprender a proteger-se e a tentar, o melhor que podem, gerir os humores machos, para não melindrar muito os “senhores”. Por vezes, a coisa vai bem mais longe. No caso do artigo sobre o CES, há até um graffiti que fala de violação. Como é que as tutelas não se acapararam disto? Incompreensível.
As investigadoras falam de um sistema, significa isto que poderemos estar diante de um problema bem mais amplo, e que pode continuar até hoje? “Abuse of power is not incidental to these men’s ‘greatness’; it is central to it.” Este “sistema” vive também de cumplicidades, vive de medos, vive de silêncios. Mas, atenção, as raras vezes em que se faz justiça, também podem ser responsabilizados os que sabiam e não fizeram nada.
Apesar de achar importantes os mecanismos postos em prática no CES, nomeadamente de denúncia, como em tantas outras instituições, parece-me essencial refletir sobre o paradigma de uma relação única interpessoal hierárquica. Uma só pessoa não pode ter nas suas mãos o destino académico e profissional de outra. Esta posição de grande poder coloca em posição de imensa vulnerabilidade, em primeiro lugar as mulheres, num mundo em que a grande maioria daqueles que detêm o poder são homens.
A propósito do artigo que anda a circular sobre violência sexual (já escrevi anteriormente porque me recuso a utilizar a palavra abuso) na Academia e o, no mínimo, insípido subsequente comunicado interno do CES, que ainda por cima normaliza a violência contras as mulheres "sempre foi assim/é assim em todo o lado":
Na Sorbonne, quando tínhamos de escolher os nossos orientadores/diretores de Maîtrise/DEA/ Master/Doutoramento (em Filosofia a esmagadora maioria dos “Star Professor” eram/são homens) falávamos entre raparigas do critério “homem sério”. É também isto ser uma mulher, ter de ter em conta para além de todos os outros critérios, este critério suplementar. Critério que não é, de forma alguma, secundário. Um Star Professor, ou um Professor tout court podia ser um perigo não somente para as nossas “carreiras”, mas a vários outros níveis como facilmente se pode imaginar.
As mulheres conhecem bem as reações dos homens com algum tipo de poder que não toleram “levar um não para casa”. Pouco importa o meio onde se movimentam. Só para dar dois exemplos (fora da academia, porém homens de poder), entre tantos outros, que são emblemáticos, um que me disse todo meloso que me “podia ajudar” (sem que eu lhe pedisse) e tornou-se agressivo logo a seguir mal compreendeu que “daqui não levava nada” e outro que me perseguiu num evento público e ameaçou-me (com o dedo na minha cara) só porque não respondia às suas “simpáticas” mensagens. Sabendo, que de uma forma ou de outra todos os homens, num sistema patriarcal são homens com poder. A diferença é que há alguns homens com o poder de estragar diretamente a nossa vida profissional. E, por isso, para além dos medos do costume existe ainda este, e somos obrigadas a colocar na balança a possibilidade de perder tudo aquilo para o qual trabalhámos.
O mundo académico é pequeno, e ainda mais em Portugal, ter problemas com um Star Professor, pode querer dizer ter problemas com uma grande parte da sua rede de influência. Neste contexto, como em muitos outros do mesmo tipo, as mulheres são obrigadas a aprender a proteger-se e a tentar, o melhor que podem, gerir os humores machos, para não melindrar muito os “senhores”. Por vezes, a coisa vai bem mais longe. No caso do artigo sobre o CES, há até um graffiti que fala de violação. Como é que as tutelas não se acapararam disto? Incompreensível.
As investigadoras falam de um sistema, significa isto que poderemos estar diante de um problema bem mais amplo, e que pode continuar até hoje? “Abuse of power is not incidental to these men’s ‘greatness’; it is central to it.” Este “sistema” vive também de cumplicidades, vive de medos, vive de silêncios. Mas, atenção, as raras vezes em que se faz justiça, também podem ser responsabilizados os que sabiam e não fizeram nada.
Apesar de achar importantes os mecanismos postos em prática no CES, nomeadamente de denúncia, como em tantas outras instituições, parece-me essencial refletir sobre o paradigma de uma relação única interpessoal hierárquica. Uma só pessoa não pode ter nas suas mãos o destino académico e profissional de outra. Esta posição de grande poder coloca em posição de imensa vulnerabilidade, em primeiro lugar as mulheres, num mundo em que a grande maioria daqueles que detêm o poder são homens.
2 comentários:
É isso mesmo. Eu tenho um exemplo recente com dois homens na área da saúde, outro noutra área recusei me a beber cafe e outras coisas passam o tempo a seguir me nas ruas até só pq eu disse não até a um café
E insistiam com mensagens e telefonemas com ameaças etc..
É mesmo lamentável o comportamento das pessoas.
Bom dia Rosa
Eu tenho tanto para partilhar... Corri tantos perigos em menina, adolescente e já depois de ser mãe... quando pedia ajuda a homens influentes... tenho tantas cicatrizes !
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