O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
quarta-feira, outubro 21, 2009
À MINHA MÃE
BLOGAGEM COLECTIVA
PARA QUANDO O “Dia de Amar o seu corpo?”
A propósito desta proposta do Blogue Duplamente Venusiana, escrever sobre o corpo da mulher numa perspectiva fora do consenso burguês, dos mídea e da publicidade em geral, lembrei-me de uma amiga que muito entusiasmada me contava há dias que a filha lhe tinha dito que se fez uma campanha em favor das mulheres com pouca auto-estima e que se sentiam mal no seu corpo e que se resumia no seguinte: elas despiam-se de preconceitos e eram fotografadas nuas por bons fotógrafos que depois publicavam as fotografias ou faziam placares na rua e os outros homens admiravam e faziam elogios e as tais mulheres subiam logo a sua au-estima…e ficavam cheias de orgulho pelos seus corpos…mesmo sendo feias e gordas, mesmo sendo o contrário dos estereótipos dos fotógrafos…?
Isto é o que se chama cair completamente na esparrela…quer dizer, na armadilha, na ratoeira, na mais baixa propaganda que atribui valor à mulher pelo seu corpo e reconhecimento de si pelo olhar e elogio dos homens… Eu fiquei imediatamente furiosa e nem a deixei acabar por isso é provável que a história até esteja mal contada, mas era essencialmente isso. Então a mulher para se valorizar tem de se despir, exibir o corpo e as mazelas e ser elogiada? Ser como uma actriz ou como o modelo ou como uma qualquer vedeta porno ou que simplesmente posa para a Play Boy?
- É isso que dá auto-estima e valor a uma mulher?
Meu deus! Desculpem o meu espanto e a minha perplexidade mas onde é que chega o atraso e a estupidez? Onde é que chega a alienação da mulher e de quem quer que seja que dá crédito a isto? E como é que as mulheres continuam a ser manipuladas pela imagem e pelos mídea desta forma e não se apercebem que continuam a ser exploradas e reduzidas a simples objectos de consumo?
Já agora aproveito e digo, que também não gostei nada de ver a Marie Claire (francesa) que vinha recheada de mulheres nuas da cintura para cima, ao tamanho da página, em várias páginas, todas com os seios à mostra só para despertar as outras mulheres para o problema do cancro da mama? Mulheres normais, comuns e sem atributos, mais ou menos magras mais ou menos gordas, morenas e louras, sem silicone, de mamas descaídas ou para cima, todas muito dignas, muito orgulhosas do seu esforço da sua dádiva?
A Ideia era de que elas tinham sido muito corajosas em mostrar os seios só para ajudar as outras mulheres a fazerem rastreio ao cancro da mama?
É caso para se dizer mas o que tem a ver “a bunda” com as calças? Neste caso o que é que têm a ver o cancro da mama com o tirar os sutiãs? Não é isto um oportunismo hipócrita, um aproveitamento de parte a parte para aumentar a tal “auto-estima”das mulheres que pousaram para a revista e ficaram famosas no emprego e lá na rua? Um minuto de glória de mamas ao léu e por uma causa nobre?
Estão a gozar comigo ou quê?
É isso que vai consciencializar a mulher do drama do cancro?
Do drama da mulher no mundo? Do drama de ser mal amada? De ser olhada como um objecto? De ser violada, de ser espancada, de ser apedrejada?
Mas onde é que se forma ou nasce o cancro e todas as demais doenças senão na sua repressão de ser humano, na frustração da mulher dentro de si mesma por não se saber, forçada pelos mídia a ser bela e a se expor de acordo com a imagem que os homens querem dela e que toda a propaganda estética e farmacêutica, os filmes e a publicidade em geral, aponta para corpos estilizados, magros e perfeitos e que ela não tem? O drama da mulher ou o cancro que germina em toda a mulher a partir do mal amada que é…do desprezada que é…do ignorada que continua a ser como ser humano e como ser dotado de uma alma e de um coração, de um valor subjectivo, íntimo, e que anda à deriva ou ao sabor do que pensam dela?
A EXEMPLO DISSO em tempos, outra amiga, falava-me justamente que tinha lido numa revista que um médico ou cientista (desconfio de qualquer deles) tinha afirmado que o cancro da mama nas mulheres acontecia porque os seus seios não eram suficientemente acariciados pelos maridos…ou resumindo, digo eu, porque as mulheres não eram amadas pelo seu corpo mas como um mero objecto de prazer, fugaz e incompleto, em que a mulher não tem prazer nem orgasmo e se sente desprezada, como se o sexo fosse pecado e a mulher ainda a culpada…sim é um processo inconsciente mas activo que está latente ou implícito nos filmes e nos livros, na cultura em geral e na religião: não é a Bíblia, a escritura sagrada dos cristãos, uma manual milenar de desprezo e de ódio às mulheres? Não está ainda esse ódio enraizado nos homens, que detestam as mulheres e que são na sua maioria misóginos e sádicos? O que é a violência doméstica senão isso? Ou duvidam que isso ainda acontece em 80 % dos casos ditos amorosos?
*
rosa leonor pedro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
eu também quero ser feio e gordo.
Um dos grandes problemas da mulher é achar q é o falo q faz dela mulher...
Como dizia outro dia, referente a uma banda desenhada, onde a menina se gabava de ter algo, q servia p atrair os machos...
Tá frio, muuuuuuuuuuito frio...
Mas elas chegam lá... ou o mundo se acaba, não sei o q virá primeiro...
Bjins
Enviar um comentário