O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 29, 2004


“VOCÊ ESTÁ SEMPRE A TEMPO DE MUDAR A HISTÓRIA”

Sem dúvida que as mulheres estão mais do que nunca a tempo de mudar a sua história. A sua história pessoal e colectiva e ainda a história do Mundo. Antes de tudo e do mais cabe a Mulher recuperar a “CONSCIÊNCIA DO FEMININO” perdida algures no tempo e não à polícia, ao juiz ou ao Estado que de si mantém uma estrutura de dominação e portanto é uma contradição esperar ou querer que um governo - seja de esquerda ou de direita - restitua à mulher aquilo que lhe é negado como valor intrínseco, e mesmo que as suas leis de repressão e domínio se alterem no papel, continua na mentalidade como registo colectivo e é esse registo que actua à superfície. Só a própria mulher e ao nível da sua consciência ontológica poderá resgatar essa dimensão do seu ser, ou a sua liberdade de SER, como um valor inalienável em si mesma e que corresponde ao despertar para a sua totalidade - não aceitar ser mais dividida em duas - e que lhe permitirá lutar ou sair do ciclo de violência de que é alvo há milhares de anos e que nenhuma mudança social e política teve em conta. Quase sempre a violência doméstica passa por suspeita de “traição” da mulher quando não é meramente o “bode expiatório” da inferioridade do homem e da sua miséria social.

Desde que a mulher começou a sua luta por um lugar na sociedade e pelo respeito do homem, nunca lhe foi concedido esse direito a partir de uma compreensão efectiva da sua condição real, mas de uma condição “inferior” sofrida na pele pela sisão milenar de um velho cisma que originalmente dividiu o mundo. Desse modo a mulher sempre permaneceu dividida em dois “géneros” - independentemente de ser pobre ou rica, inculta ou instruída - e essa divisão foi aceite como sendo a sua condição natural e esse é que o grande drama da mulher e do homem no mundo.



A LIBERDADE DA MULHER

Aquilo que se chama “prostituição sagrada” nunca existiu como tal, pois correspondia, primeiro, a uma sacralização do amor ritualizada e depois a uma liberdade sexual e humana da mulher que lhe foi retirada ao tornar-se “propriedade do homem” legitimada pelo casamento e pela Igreja, passando aí sim a existirem duas mulheres distintas, fragmentadas, a que se casa e obedece ao marido e a que vai para o prostíbulo ou para a rua e era apedrejada...
É dessa divisão principalmente que recai sobre ela o estigma da “santa e da puta”, dando corpo um à Virgem católica e a “outra”, Maria de Magdala, renegada pelos apóstolos de Cristo, mas mais tarde “regenerada e perdoada” pelos padres da Igreja, para dar exemplo de perdão às mulheres não convertidas ou insubmissas.

Na continuidade dessa divisão, social e psicológica, a violência doméstica é tão só a consequência “natural” de uma sociedade machista e patriarcal cujo domínio secular através da Igreja e do Estado sempre dominou e manipulou a mulher segundo os seus interesses e preconceitos. Ao reivindicar de novo a obediência da mulher ao marido como chefe de família, a Igreja continua a explorar psicologicamente e a querer usar o grande manancial que são as mulheres para a Igreja (sem elas o patriarcado não seria nada... nem sequer teriam nascido!) e corremos de novo o risco de os Governos continuarem coniventes com o Vaticano – questão do aborto e da pílula - e em defesa dos seus interesses e dogmas, manipularem as mulheres agora de forma mais subtil, como sempre fizeram de forma brutal ao longo dos séculos.

Apesar das sociedades ou ideologias modernas, os estados comunistas e democráticos que pregaram por direitos e igualdades, nada fizeram em essência pelas mulheres pois a “igualdade” das mulheres foi serem masculinizadas e mesmo assim continuaram subalternas e a ganhar menos do que os homens, tal como continuam a ser instrumentalizada para servir o macho, enquanto procriadoras-operárias e objectos de prazer através dos meios mais sofisticados - moda, cinema, pornografia, etc .

Podemos olhar “os frutos” podres do comunismo russo e ver as Mafias de Leste que negoceiam as suas mulheres e filhas sem qualquer escrúpulo.
Nada mudou de profundo e relevante no mundo desde há 50 anos ou mesmo um século, início da tomada de consciência das mulheres no plano social e económico. O que vivemos nestas últimas décadas é uma falsa emancipação das mulheres que corresponde à sua masculinização - e dentro da masculinização o travestiamento ou seja a mulher vestida (para matar?) segundo o imaginário do homem - e que pouco ou nada tem a ver com uma verdadeira consciência do feminino que a ser verdade dignificaria o mundo e por isso nunca aconteceu verificamos a crescente violência e guerra, as desigualdades e a fome, as doenças e o terrorismo, que passam, todos a meu ver, por efeitos da falta desse Princípio Feminino - tanto nos homens como nas mulheres - e isso à custa das religiões fundamentalistas que negaram um valor intrínseco à mulher e a retiraram da face da terra para expansão bélica dos seus instintos viris e fálicos. Não é um acaso que em todas as guerras a violação das mulheres como primeiros “bodes expiatórios” acontece e é sistemática. Está escrito no Corão que assim deve ser tal como na Bíblia dos velhos patriarcas que são os mesmo que dividiram o mundo e o dominaram submetendo as mulheres e explorando-as até aos nossos dias em que é muito evidente a calamidade persecutória à liberdade da mulher no mundo islâmico e católico. Lembremos a recente carta do tal cardeal “Rato-zinger”...Se ele ou outro portento como ele for eleito Papa vamos ficar tramadas...não seremos queimadas na praça pública mas nos Media...reduzidas a ínfima espécie!



PRINCÍPIO FEMININO

“Pela repressão a alegria do feminino foi rebaixada como mera frivolidade; a sua sensualidade expressa foi diminuída como coisa de prostituta, ou então ridicularizada pela seu sentimentalismo ou reduzida exclusivamente a instinto maternal; a vitalidade da mulher foi submetida ao peso das obrigações e da obediência. Foi essa desvalorização que gerou filhas desenraizadas e subterrâneas do patriarcalismo, separando a força feminina da paixão, tornando-a imagem dos seus sonhos e ideais de um céu inatingível mantidos pomposamente por um espírito que soa a falso quando comparado com os padrões instintivos simbolizados pela rainha do céu e da terra”.

Foi essa desvalorização que aconteceu também ao princípio feminino em geral em todo o mundo. Depois de negarem a Deusa Mãe, e destruirem todos os vestígios de Matriarcado, perseguirem as sacerdotisas, chegando mesmo a assassinar barbaramente mulheres sábias, como foi o caso de Ipácia de Alexandria, a Igreja e o Patriarcalismo em geral que negaram a natureza profunda e alegria da mulher acabaram por “elevá-la” paradoxalmente ao altar da sua Igreja condenando-a em simultâneo ao prostíbulo...Este foi o maior crime cometido pelo patriarcalismo contra a Mulher. Ao dividi-la entre a “santa e a puta” estabeleceu as suas leis e condenou metade da humanidade a uma segregação e fragmentação que custa à própria humanidade todo o seu infortúnio. Foi assim que os homens também se dividiram entre “os filhos do pai” e “os filhos da puta” que violam e matam mulheres e fazem as guerras em nome de Deus e da Pátria.
R. L. P.

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