O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, novembro 21, 2004

A FACE VISÍVEL DESTE MUNDO
OU A INVERSÃO DAS FACES...


O que antes era mentira e falsidade, é agora “verdade e realidade”...

Não são só os políticos que invertem os valores e os termos da nossa realidade. Toda a gente o faz à força do virtual e da corrupção da palavra que em vez de significar o que se pensa e sente, serve apenas para enganar e mentir para salvaguardar UM QUALQUER poder pessoal, seja ele pequeno ou grande.

Quando olho para este estado de coisas e a mentira que impera neste mundo de aparências, nada resta à superfície da terra que não tenha sido infectado desse vírus. Desta maneira não há nada à superfície do planeta que suscite o meu interesse ou me dê esperança num “mundo melhor”. Não conheço nenhum ser humano que não esteja mais ou menos infectado deste mal e é raro ou quase impossível encontrar um ser humano capaz de ser sincero e verdadeiro consigo mesmo ou com o próximo. Nenhum ser humano à partida tem qualquer interesse nesse próximo ou na sua verdade, assente neste princípio. Estamos todos prisioneiros de um modo alienado de estar...

Ora como toda a consciência ou evolução depende exclusivamente do sentimento de verdade, sinceridade e transparência absoluta do ser interior, na busca de si próprio, neste intrincado de mentiras labirínticas, não encontro eco ou qualquer apoio como forma de sobrevivência interior. Soçobro ao dia a dia sem alento. Em que verifico ser impossível qualquer verdade íntima entre dois seres humanos. Chegámos a um ponto em que ninguém ousa ser ou dizer ao outro o que é realmente no lado bom ou mau, olhando a sua totalidade ou a encarando a sua própria dualidade. Ninguém arrisca já a despir-se da máscara ou das “marcas”, da cosmética, dos seus conceitos ludibriantes ou fantásmáticos com que se cobre do medo de não ser...
Tudo são disfarces, mentiras e simulacros. Todos mentimos e queremos parecer o que não somos. Já nem sequer sabemos efectivamente quem somos, se nós se o outro que inventamos...As palavras perderam todo o seu sentido e não há respeito por ninguém nem por nada. A máscara colou-se ao rosto do ser humano e o teatro passou a ser a “Verdade”...na política, na sociedade e em casa...

Durante séculos criamos uma ficção moral e religiosa e agora cai o pano e a farsa sobe à ribalta. Em todos os domínios da vida nos deparamos com a nova “Reality Show” que tanto entusiasma "o povo" - as massas anónimas e alienadas de um sentido verdadeiro de ser - e que nos apresenta o aspecto mais deplorável e miserável da vida humana. Na Quinta das celebridades ou na Quinta dos partidos, já não há ética, nem palavra, nem classes, nem sexos...tudo luta por poder pessoal e dinheiro, num nauseabundo tráfico de interesses.

Agora só nos resta a farsa de manhã à noite onde quer que estejamos.
Não admira as depressões, o stress e as doenças terminais provenientes desse vírus da mentira de nós mesmos e que infectam a humanidade de cima a abaixo da pirâmide, em todo o mundo. Não, não admira a fome a violência e guerra nem o assassínio em directo...

O palhaço pobre transformou-se no palhaço rico e vice-versa e o esgar de dor tornou-se um sorriso malévolo...com que todos nos olhamos uns aos outros!

Rosa Leonor Pedro

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