O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, fevereiro 18, 2006

Azuis as suas vestes da cor do céu...
De mármore os seus corpos talhados
pelo amor da Deusa Artémis

Safo
MULHERES DE HOJE...


MULHERES DE ONTEM...


A Mãe de Todas Nós
Susan B. Anthony,
a feminista que tirou as mulheres da cozinha

por Vange Leonel

"Os homens, disse Susan B., são tão conservadores, tão egoístas, tão enfadonhos(...) são tão ingênuos, qualquer pessoa consegue convencê-los... eles são criaturas infelizes, são tão infelizes... os homens são tão conservadores, chatos, monótonos, traiçoeiros, estúpidos, ignorantes e valentões...
Os homens querem ser metade escravos metade livres. Todas as mulheres querem ser escravas ou livres portanto os homens governam e as mulheres sabem..."

(…)
Vamos lá: as mulheres não tinham direito à propriedade, ou seja, não podiam registrar nenhum bem em seu nome; não tinham direitos sobre os próprios filhos, que podiam ser arrancados de seus braços se os seus maridos assim o desejassem; deviam obedecer aos seus pais, maridos e irmãos, o que significava, na prática, que eram propriedade dos homens de sua família; as operárias ganhavam uma miséria comparada à paga dos homens e geralmente a jornada diária chegava a ter 16 horas; as poucas abastadas que conseguiam estudar cursos superiores não podiam exercer a sua profissão, pois o mercado de trabalho era totalmente fechado a elas e, finalmente, nenhuma mulher, rica ou pobre, branca ou negra, podia votar.
(…)
Um outro aspecto de Susan B. que deve ter atraído G. Stein é evidente na citação inicial: sua aversão aos homens e seu amor pelas mulheres. De tanto odiar a sociedade patriarcal em que vivia, Anthony resolveu que jamais iria se casar e, de fato, permaneceu solteira para o resto de sua vida. Mais que isso, muitos historiadores especulam que Anthony pode ter tido algumas relações lésbicas, principalmente na idade madura. Algumas de suas cartas para a jovem Anna Dickinson, a mais bela e cativante oradora feminista da América, atestam um amor quase carnal: "Anna, querida, quisera pudesse apertá-la forte em meus braços neste exato momento", ou quando a convidava para a sua cama, que dizia ser "grande o bastante e boa o suficiente para acolhê-la". Dickinson, por sua vez, retribuía cada palavra e gesto afetuoso de Anthony, a quem admirava profundamente, escrevendo cartas igualmente apaixonadas: "Eu realmente quero te ver, muito, segurar tuas mãos nas minhas, ouvir tua voz, em suma, eu te quero - será que posso te ter?".
Este tipo de ligação apaixonada entre uma mulher mais velha e uma jovem era bastante comum entre as sufragistas americanas. Muitas delas, assim como Anthony, não se casavam porque julgavam que as obrigações de esposa inviabilizariam sua dedicação à causa. Assim, sem maridos para sustentá-las (ou prendê-las), essas mulheres se apoiavam umas nas outras. Se havia sexo nestas relações apaixonadas era impossível saber, devido à extrema discrição e os perigos de difamação que rondavam estas mulheres, apenas por serem feministas.

Essas associações íntimas entre duas mulheres eram também chamadas de "amizades românticas" ou "casamentos bostonianos" e eram tão fascinantes que muito se escreveu sobre elas. Dizem que Henry James inspirou-se nas próprias Susan B. Anthony e Anna Dickinson para compor as personagens Olive Chancellor e Verena Tarrant, respectivamente, em seu romance "The Bostonians" (não há tradução deste livro aqui no Brasil, mas há um filme, talvez disponível em vídeo nas locadoras mais alternativas, com Vanessa Redgrave no papel de Olive).

Musa inspiradora de gênios como Gertrude Stein e Henry James, sinônimo da emancipação feminina, Susan B. Anthony foi uma mulher controvertida e apaixonante. Não à toa, Stein a eternizou como "A Mãe de Todos Nós". Não seríamos nem metade do que somos não fosse sua raivosa, às vezes equivocada, mas bem sucedida luta por nossos direitos e seu incondicional amor pelas mulheres."

Sem comentários: