O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, fevereiro 21, 2006

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR
ÀS MULHERES DO MUNDO INTEIRO...


Há uma estranha dor no meu peito que se confunde com amor. Um Amor que é compaixão profunda pelas mulheres do meu país e não só. Compaixão pelo destino de todas as mulheres que há milénios sofrem na pele a mais dura miséria e escravidão…As mulheres desde sempre tão expostas, tão delicadas, tão vulneráveis e tão sujeitas à agressão dos homens e tão abandonadas pelo Sistema Patriarcal.
Ninguém quer ver isso, como se fosse um fantasma ou como se algo conspirasse para branquear esta realidade através de sistemas alienatórios como o são os Midea em geral. E é branqueado pelas próprias mulheres que têm lugar nesta sociedade e estão protegidas e são integradas pelo Sistema e a maioria delas são suas porta-vozes, médicas, professoras, jornalistas e deputadas e no fundo e no futuro serão conhecidas como as traidoras do Género…
Dói-me o coração pela traição das mulheres ao Feminino e ao seu próprio Ser, à Deusa e à Terra… Dói-me as mulheres que se odeiam e lutam entre si como inimigas, em disputa pelo macho ou por um lugar no seu mundo que as deforma e reduz a pouco mais do que um corpo-objecto. Ou a uma voz morta sem alma…
Enquanto que as mulheres que não estão dentro das “normas” sociais, são tão votadas ao descrédito e abandonadas à sua “sorte”…São as mulheres simples ou pobres, as que não casaram ou enviuvaram cedo, as solteiras e as divorciadas ou mesmo as prostitutas que a sociedade ainda olha com desprezo e até as quer legalizar.

Dizem-me que não é assim, as mulheres bem situadas nas suas profissões, que têm bons ordenados, carros ou maridos…Dizem-me que não é assim, as mulheres instruídas, jornalistas, professoras e outras, que eu generalizo demasiado e sou perigosa…Dizem-me as minhas amigas que estão bem na vida, as intelectuais do Partidos e que são deputadas ou as artistas e poetas, dizem essas que eu exagero e até sou fanática de uma causa perdida… Sempre foi assim, dizem todas em coro…

Mas eu olho e vejo, se calhar com outros olhos as mulheres que sofrem à minha volta e no mundo…Vejo as empregadas mal tratadas e subalternas, as mulheres-a-dias e as domésticas, as velhas que já nada são e as imigrantes brasileiras ou de leste que não vão para a prostituição e servem ao balcão e são médicas ou engenheiras…
Vejo-as a estas mulheres e não as modelos de corpos esquelético nas passerelles obedecendo ao imaginário masculino ou as que têm sucesso e são formadas nas suas faculdades, ou as famosas artistas travestis de realizadores gays…
Vejo as “outras”, todas as outras, porque as sinto iguais a mim e não me distancio por não ser mais do que a MULHER em mim e em essência e que quer ver cada mulher inteira e porque sei que todas as mulheres que não vêm isto ou se querem esconder de si ou têm medo de assumir essa “outra” que em si renegam…Esse seu outro lado sempre renegado, escondido da sociedade e dos maridos…Essa outra mulher atávica, prisioneira do príncipe encantado sem ver o sapo que ele se tornou, que sonha e anseia sempre mais, mas que não sabe o que é, que se sente incompleta e frustrada com tudo, por mais que tenha dinheiro e finja que é “bem” ou feliz, compre malas e sapatos na Estivália e vá ao Brasil ou a Paris fazer plásticas ao nariz…

Dói-me o coração de um amor estranho saber essa Mulher Inteira e ver apenas metades mulheres, todas divididas e fragmentadas, vistas apenas como um “corpo-objecto médico e mediático”…

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