O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

CHAMEM-LHE VISIONARISMO

“As mulheres por vezes ficam histéricas e fazem e dizem as coisas mais estranhas. Mas esta observação vai dar a volta e morder a própria cauda:
talvez a verdade da vida e do viver resida nas estranhas coisas que as mulheres
fazem e dizem quando estão histéricas”


in “As Duas Vozes”- LIVRO de William Golding


CHAMEM-LHE VISIONARISMO...

A minha Visão do Feminino é a visão de um feminismo místico, de essência, na procura da verdadeira identidade da mulher e não apenas das suas lutas e reivindicações de direitos ou de poder económico ou ainda da mera liberdade sexual etc..
A minha Visão, se lhe quiserem chamar visionarismo, é antes de tudo a luta pela consciencialização da mulher-mulher, inteira, aquela que integra as duas mulheres cindidas pela religião, como me farto de repetir aqui, entre a "santa e a puta", e que reduz a mulher a uma histérica quando esta dá vazão ou não consegue conter a sua própria visão interior do mundo e do que a rodeia ou quando se trata de usar a sua intuição ou expressar a sua sensualidade, sempre excessiva para o homem que aprendeu a temê-la e a renegá-la, considerando-a culpada do desejo e do pecado.

O histerismo corresponde portanto, em termos psicológicos, à impossibilidade de a mulher exprimir toda a sua intuição e dar livre Voz ao que sente e a transcende, como penso que a esquizofrenia faz parte do mesmo tipo de repressão: não dar voz ao que realmente sente nem ao que está para além dos conceitos e interesses das sociedades patriarcais, seja das normas dos seus poderes instituídos.
O "histerismo" aparece historicamente após o fim do Mito de Cassandra, a última sacerdotisa da Deusa, cujo culto era ainda praticado em Tróia, último reduto do culto da Mãe - quando da ascensão do patriarcalismo - e da vitória de Apolo sobre a Deusa e porque Cassandra não aceitou submeter-se a ele, este castiga-a votando-a ao descrédito, quando já antes Apolo havia usurpando o Culto da Deusa em Delfos, matado a Piton e apossado do Oráculo. Desta maneira e a partir desse momento até hoje, as mulheres foram condenadas a calarem-se e a não serem ouvidas.

Convém portanto não esquecer, as mulheres ainda não recuperaram a sua verdadeira VOZ!
As duas vozes correspondem à voz da razão e à voz do coração e são atribuídas respectivamente uma ao homem e a outra à mulher, mas a mulher pelo seu dom inato pode e deve usar as duas vozes em sintonia, sem perder a noção das realidades.

É pois muito importante para cada mulher ouvir as duas vozes e seguir a voz do seu coração. Mais do que importante é urgente! Para isso a Mulher tem de ser Inteira, unir as duas partes de si mesma que o patriarcalismo dividiu entre a santa e a puta ser ela mesma, uma Mulher Inteira, o que ainda não aconteceu à luz de uma nova consciência do feminino sagrado;  ela tem de primeiro acordar de um sonho antigo de submissão e dor e dar à luz um Novo Mundo nascida da Deusa que é ela  própria, tal como Vénus saída do Mar.


TODA A MULHER TEM UM DESEJO DE (SER) MULHER

”Ela tem um desejo de mulher. Desejo de quê? Mas do Todo, do Grande Todo Universal.
(…)
A este desejo imenso, profundo, vasto como o mar, ela sucumbe, e deixa-se nele adormecer. Neste momento, sem lembranças, sem ódios nem pensamentos de vingança, inocente apesar de tudo, ela adormece na planície, confiante e entregue tal como a ovelha ou a pomba, descontraída e aberta, e se ouso dizer, apaixonada.
Ela dormiu e sonhou…o mais belo sonho. E como dize-lo? É que o monstro maravilhoso da vida universal, estava nela contido; e para lá da vida e da morte, tudo se mantinha no seu ventre e que ao fim de tantas dores ela deu à Luz a Natureza”


In « LA SORCIÈRE » - O LIVRO de Michelet

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