A MULHER, A VIDENTE PRIMORDIAL,
A SENHORA DAS ÁGUAS E DAS FONTES, O "OM"...
- ECO QUE RESSOA NAS NOSSAS VEIAS...
"A mulher é, assim, a vidente primordial, a Senhora das águas disseminadoras da sabedoria, oriundas das profundezas; das Fontes murmurantes e das nascentes, pois "o om" pronunciamento primordial da vidência é a linguagem da água".
Não obstante, a mulher também conhece o sussurro das árvores e todos os sinais da natureza, a cuja vida está tão fortemente ligada. O rumor das águas das profundezas é somente um aspecto externo do murmúrio interior do próprio inconsciente, que nela se eleva espiritualmente como água a um gêiser.
Ela é o centro da magia, do cântico mágico e enfim da poesia, pois a situação extática da vidente resulta de ela ser dominada por um espírito que irrompe dentro dela, o qual se pronuncia a partir dela , ou melhor, que nela se denuncia e se manifesta, em forma de invocação rítmica e intensa. Ela é a fonte de onde Odin obteve as runas da sabedoria, bem como a Musa, a origem das palavras que fluem do âmago do poeta e sua anima inspiradora. Como força inspiradora ela pode se manifestar isoladamente, na forma tríplice que já conhecemos, e ainda num contexto plural indeterminado.
As Cárites, as ninfas, as sereias, as musas, as três graças, as moiras e outras inúmeras figuras, são as forças melodiosas, dançantes e proféticas dessa mulher inspiradora e inspirada na qual o masculino, muito mais distante das origens, busca sabedoria quando impelido pela necessidade. E vezes e vezes seguidas, encontramos essa mulher mântica ligada aos símbolos do caldeirão e da caverna, da noite e da lua. Com efeito, o caldeirão não é o só vaso da vida e da morte, da renovação e do renascimento, mas também da magia e da inspiração. O caráter de transformação que lhe é inerente passa pela decomposição e pela morte, para chegar à intensificação extática e ao nascimento do espírito eloquente, o qual conduz sob inspiração extática à palavra, ao cântico e à profecia, como sintomas do renascimento. (...)
ERICH NEWMAN in "A GRANDE MÃE"
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