POR JOÃO CÉU E SILVA e ORLANDO ALMEIDA, IN dn
Livros. A escritora espanhola María Pilar Queralt del Hierro esteve em Lisboa a promover o seu último livro sobre a Rainha Santa Isabel. Feminista, quer recentrar o papel da mulher na história
Livros. A escritora espanhola María Pilar Queralt del Hierro esteve em Lisboa a promover o seu último livro sobre a Rainha Santa Isabel. Feminista, quer recentrar o papel da mulher na história
Este livro torna-a a mais portuguesa das escritoras espanholas!
É capaz de ser verdade, mas não acontece por acaso, é que tenho um interesse especial em Portugal, devido à sua história interessantíssima e complexa.
Quase todos os seus livros são sobre mulheres.
É capaz de ser verdade, mas não acontece por acaso, é que tenho um interesse especial em Portugal, devido à sua história interessantíssima e complexa.
Quase todos os seus livros são sobre mulheres.
Porquê essa opção feminista?
A única excepção foi Balaguer, porque era a minha tese, mas o meu interesse é dar voz à mulher na história, porque é a grande esquecida. Até porque quando aparece retratada é convertida em mito, desfigurada ou passou despercebida porque não participou nas grandes batalhas nem tomou parte nos grandes tratados. Por isso, como mulher, interessa-me dar voz a quem não a teve.
Com tanto interesse, não sobrevaloriza o papel?
Já me coloquei várias vezes essa questão... Poderia acontecer, mas penso que não se verifica, até porque o que tento é valorizar a sua parte mais humana, aquela que lhes dá uma transcendência que não tiveram. No caso da Santa Isabel, preocupa-me a forma como pensava a mulher no século XIII, como vivia situações tal como ter casado aos 12 anos com um homem mais velho e como se sentia ao ver marido e filho a confrontarem-se. Quanto a ser uma grande monarca? Como esposa de D. Dinis, não teve essa dimensão.
Não é o caso de uma grande mulher atrás de um grande homem?
Não, porque D. Dinis foi um rei muito importante mas muitas das actuações poderiam ser menores se Isabel não existisse ao seu lado.
Consegue, então, deixar de lado o feminismo como escritora e historiadora?
Custa-me. Pertenço a uma geração de mulheres que teve de lutar muito pelos direitos e tenho como obrigação pôr o grãozinho de areia.
Mas são retratos verdadeiros?
É o que tento, mas quando um biógrafo se mete na pele de uma personagem acaba por criar uma simbiose e entender coisas que quem a desconhece não compreende. Evito, no entanto, o elogio fácil e até ponho a rainha não como a santa mas como mulher.
Os únicos homens que surgem no livro ficam fascinados com a sua história!
É uma tentativa de pôr a falar dois pólos ideológicos diferentes. O frei é um homem do campo, como aqueles que a rainha favoreceu, enquanto o Papa simboliza a intriga, o poder e a ostentação. Ou seja, coloco num o ideal do inalcançável e, no outro, a questão de poder ser afectado nas comodidades.
O leitor receberá bem a história de uma rainha canonizada por exigência espanhola durante a ocupação do seu país?
A canonização da Santa Isabel parte do claro interesse do rei de Espanha em mostrar aos portugueses que havia vínculos comuns, e uma das reflexões que o Papa faz é sobre as razões que teriam levado os portugueses a deixarem-se ocupar. É um momento muito importante para mim porque eu sou de Barcelona e Portugal e a Catalunha revoltaram-se ao mesmo tempo. Como as tropas foram reprimir-nos, Portugal ficou menos resguardado.
O anterior livro, sobre Leonor Teles, foi um sucesso em Portugal apesar de não ser uma figura querida cá!
São mistérios do mercado... Penso que Leonor teve êxito em Portugal porque se lhe pôs sempre uma etiqueta e a demonizou mesmo sem saber a razão. O que eu quis foi fazer uma trilogia com três arquétipos femininos: Inês de Castro, o mito romântico; Leonor Teles, a mulher poderosa; e a rainha Isabel, a mística.
Três retratos quase sempre trágicos...
Existe essa condição trágica da mulher quando se olha para a história, porque se encontram sempre mulheres que, apaixonadas por um ideal ou um homem, têm esse destino.
A mulher está condenada ao trágico?
Creio que não, mas no passado, quando uma mulher tinha um propósito claro, era muito difícil conseguir realizá-lo.
Até porque as mulheres foram sempre silenciadas pela história oficial.
Creio que o romance histórico tem um grande papel neste esclarecimento porque, se o público tem dificuldade em entrar num livro de história, isso não acontece num romance tratado com rigor.
Acredita no milagre das rosas da Rainha Santa?
No meu romance prefiro optar por o qualificar como um sonho da rainha. Milagre é tema para a Igreja, e não serei eu que me meterei em terrenos que não me pertencem.
Mas seria possível?
Quem ler o meu livro verá. De qualquer modo, toda a mulher que seja mãe levará sempre uma rosa no regaço...
A mulher tem sido muito usada na propaganda oficial dos governos. Porquê?
É difícil encontrar o verdadeiro perfil da mulher porque o mito envolve de tal modo o real que, em parte, no caso de Isabel ela foi canonizada para ganho político de Filipe IV, que assim tentou mostrar aos portugueses que não era um ocupante. Em casos mais recentes, os governos utilizam as mulheres para propagandear os seus ideais, porque a história é como um caramelo que se manipula e é vendida ao povo conforme quem está no poder. art. na integra
A única excepção foi Balaguer, porque era a minha tese, mas o meu interesse é dar voz à mulher na história, porque é a grande esquecida. Até porque quando aparece retratada é convertida em mito, desfigurada ou passou despercebida porque não participou nas grandes batalhas nem tomou parte nos grandes tratados. Por isso, como mulher, interessa-me dar voz a quem não a teve.
Com tanto interesse, não sobrevaloriza o papel?
Já me coloquei várias vezes essa questão... Poderia acontecer, mas penso que não se verifica, até porque o que tento é valorizar a sua parte mais humana, aquela que lhes dá uma transcendência que não tiveram. No caso da Santa Isabel, preocupa-me a forma como pensava a mulher no século XIII, como vivia situações tal como ter casado aos 12 anos com um homem mais velho e como se sentia ao ver marido e filho a confrontarem-se. Quanto a ser uma grande monarca? Como esposa de D. Dinis, não teve essa dimensão.
Não é o caso de uma grande mulher atrás de um grande homem?
Não, porque D. Dinis foi um rei muito importante mas muitas das actuações poderiam ser menores se Isabel não existisse ao seu lado.
Consegue, então, deixar de lado o feminismo como escritora e historiadora?
Custa-me. Pertenço a uma geração de mulheres que teve de lutar muito pelos direitos e tenho como obrigação pôr o grãozinho de areia.
Mas são retratos verdadeiros?
É o que tento, mas quando um biógrafo se mete na pele de uma personagem acaba por criar uma simbiose e entender coisas que quem a desconhece não compreende. Evito, no entanto, o elogio fácil e até ponho a rainha não como a santa mas como mulher.
Os únicos homens que surgem no livro ficam fascinados com a sua história!
É uma tentativa de pôr a falar dois pólos ideológicos diferentes. O frei é um homem do campo, como aqueles que a rainha favoreceu, enquanto o Papa simboliza a intriga, o poder e a ostentação. Ou seja, coloco num o ideal do inalcançável e, no outro, a questão de poder ser afectado nas comodidades.
O leitor receberá bem a história de uma rainha canonizada por exigência espanhola durante a ocupação do seu país?
A canonização da Santa Isabel parte do claro interesse do rei de Espanha em mostrar aos portugueses que havia vínculos comuns, e uma das reflexões que o Papa faz é sobre as razões que teriam levado os portugueses a deixarem-se ocupar. É um momento muito importante para mim porque eu sou de Barcelona e Portugal e a Catalunha revoltaram-se ao mesmo tempo. Como as tropas foram reprimir-nos, Portugal ficou menos resguardado.
O anterior livro, sobre Leonor Teles, foi um sucesso em Portugal apesar de não ser uma figura querida cá!
São mistérios do mercado... Penso que Leonor teve êxito em Portugal porque se lhe pôs sempre uma etiqueta e a demonizou mesmo sem saber a razão. O que eu quis foi fazer uma trilogia com três arquétipos femininos: Inês de Castro, o mito romântico; Leonor Teles, a mulher poderosa; e a rainha Isabel, a mística.
Três retratos quase sempre trágicos...
Existe essa condição trágica da mulher quando se olha para a história, porque se encontram sempre mulheres que, apaixonadas por um ideal ou um homem, têm esse destino.
A mulher está condenada ao trágico?
Creio que não, mas no passado, quando uma mulher tinha um propósito claro, era muito difícil conseguir realizá-lo.
Até porque as mulheres foram sempre silenciadas pela história oficial.
Creio que o romance histórico tem um grande papel neste esclarecimento porque, se o público tem dificuldade em entrar num livro de história, isso não acontece num romance tratado com rigor.
Acredita no milagre das rosas da Rainha Santa?
No meu romance prefiro optar por o qualificar como um sonho da rainha. Milagre é tema para a Igreja, e não serei eu que me meterei em terrenos que não me pertencem.
Mas seria possível?
Quem ler o meu livro verá. De qualquer modo, toda a mulher que seja mãe levará sempre uma rosa no regaço...
A mulher tem sido muito usada na propaganda oficial dos governos. Porquê?
É difícil encontrar o verdadeiro perfil da mulher porque o mito envolve de tal modo o real que, em parte, no caso de Isabel ela foi canonizada para ganho político de Filipe IV, que assim tentou mostrar aos portugueses que não era um ocupante. Em casos mais recentes, os governos utilizam as mulheres para propagandear os seus ideais, porque a história é como um caramelo que se manipula e é vendida ao povo conforme quem está no poder. art. na integra
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A MULHER TEM SIDO E CONTINUA A SER UTILIZADA PELOS gOVERNOS EPELOS PARTIDOS PARA USO QUASE EXCLUSIVO DOS INTERESSES DOS MESMO. QUANDO SE TRATA DA REALIDADE DA MULHER EM SI ELA DEIXA DE SER CONSIDERADA OU RESPEITADA, PELO MENOS EM PORTUGAL. Basta ver com um pouco de atenção a misoginina declarada dos membros dos partidos quando alguma mulher é eleita ou se destaca por qualquer motivo...
3 comentários:
Gosto muito de romances históricos. Gosto também da história da península, em particular a de Portugal, que nos remete, em remotas eras, como se sabe, aos neanthertais. Também Viriato, os reis e rainhas povoam minha imaginação. Esta trilogia com Inês, Leonor e Isabel parece muito interessante.
Já percebi que o meu amigo gosta de mulheres históricas...Eu ainda não li mas estou curiosa...
um abraço
rleonor
Já percebi que o meu amigo gosta de mulheres históricas...Eu ainda não li mas estou curiosa...
um abraço
rleonor
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