"A grande maioria dos homens no nível cultural presente nunca avança além do significado maternal da mulher e esta é a razão pela qual a alma raramente nele se desenvolve além do nível infantil, primitivo da prostituta. Como consequência, a prostituição é um dos principais produtos do casamento civilizado." - C. G. Jung
Casamento e Prostituição
"Na tradição europeia, os homens tentaram impedir as mulheres de trabalhar por dinheiro, exceto como prostitutas. Tal como acontece com tantos ideais ocidentais que ainda perduram, as raízes desse modelo social podem ser encontradas na cidade-estado ateniense. A mulher mais protegida era a mulher casada, uma prisioneira em sua própria casa, exceto, é claro, que a casa era tanto dela quanto uma gaiola pertence ao pássaro aprisionado. Ela não tinha direitos nem dinheiro. Ela, no entanto, tem responsabilidades. Era seu dever se submeter à relação sexual, ter filhos e administrar a casa. Sua virtude era mantida mantendo-a em cativeiro isolado. Ela estava fisicamente confinada à casa para garantir ao marido que seus filhos legais eram o direito biológico dele.
Qualquer mulher menos isolada era mais propriedade coletiva. Mulheres estrangeiras tomadas como pilhagem eram escravas. As mulheres atenienses adultas que não eram casadas eram, em sua maioria, prostitutas de alta classe, companheiras sociais e sexuais de uma elite masculina ou prisioneiras de prostíbulos. As prostitutas de alta classe eram as únicas mulheres com alguma educação real ou qualquer liberdade de movimento. A classe das cortesãs em muitas sociedades era o local social de realização das mulheres e prenunciava a mulher profissional do capitalismo avançado: altamente educada em comparação com outras mulheres, altamente qualificada, trabalhava por dinheiro e parecia exercer escolhas.
A esposa era a mulher privada na esfera privada (doméstica), protegida por dentro, legalmente amarrada ali. Interior significava confinamento, cativeiro, isolamento; valor alto; uma função reprodutiva e sexual; uma propriedade privatizada. A prostituta era a mulher pública – de propriedade pública. Ela morava fora de casa. Fora significava a quebra do corpo de alguém por mais de um, quantas e sob quais circunstâncias dependiam da proximidade ou distância da elite masculina – a pequena e rica classe dominante. A prostituta de baixa classe, mantida em um bordel, estava fora dos limites do reconhecimento humano: um orifício, uma não-entidade, usada para uma função de massa. Lá fora, dinheiro pago por atos e acesso. Lá fora, as mulheres estavam à venda. O interior significava que uma mulher estava protegida do comércio de sua espécie; o valor de uma mulher só era alto quando ela estava imune à contaminação de uma troca de dinheiro. Uma mulher que podia ser comprada era barata. Esse baixo preço significava seu baixo valor e definia a sua capacidade moral. Uma mulher era a sua função sexual; ela era o que ela fazia; ela se tornava o que era feito a ela; ela era o que ela era. Qualquer mulher nascida do lado de fora ou deixada do lado de fora ou chutada para o lado de fora merecia o que tinha porque era o que havia acontecido com ela.
Por exemplo, o estupro de uma senhora roubou o seu valor dela, mas ela não era a parte ofendida. Seu marido ou seu pai haviam sido ofendidos, porque o valor de sua propriedade havia sido destruído. Uma vez usada, ela podia se tornar a esposa do estuprador, ou ela era expulsa, exilada para as margens, propriedade comum recém-criada.
Estupro poderia criar um casamento, mas mais frequentemente criava uma prostituta. Quanto mais profundo o seu exílio, mais acessível aos homens ela era – quanto mais acessível, mais barata. Este era um fato econômico e um axioma ontológico, status e caráter determinados pelo grau de sua vulnerabilidade sexual. No domínio público, em virtude do uso masculino, ela se tornava venal pela definição e pelo design masculinos, de acordo com o poder e a percepção masculinos.
- Andrea Dworkin em “Mulheres no Domínio Público: O Paradigma da Prostituição”
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