O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, setembro 02, 2018

O MEDO DE LILITH


O MEDO DE LILITH

“A guerra entre Eva e Lilith alastra-se e atinge outro nível.
Eva pode ter suas necessidades satisfeitas numa relação. Lilith não pode. Ela tem de fugir. Ela não aceita a dependência nem a submissão. Ela não será acorrentada nem enjaulada. Ela precisa de ser livre, mover-se e mudar. Ela é o aspecto do ego feminino individualizado que só pode desenvolver-se no deserto, sem relacionamentos, sem eros e sem filhos.” (...) 


Os homens temem a Mulher autêntica...a mulher integral...mas as mulheres por sua vez  temem Lilith, a revelação da mulher inteira dentro delas…
O medo de Lilith pode de algum modo ser Reverência... o medo inicial de destapar o véu que nos esconde a nossa Mulher - Mulher, a mulher primordial ou  porque querermos continuar crianças, filhas do Pai...infantis e desprotegidas…ou a agradar e servir o homem. Mas também pode ser o medo cobarde e a rejeição da Mãe que se nos negou na sua autoridade por a ter perdido para o Pai e nós a negamos também nessa essência a mulher que somos e desconhecemos que sonos e de que estamos desconectadas! Renegamos a nossa herança materna e vamos perseguir o mito homem (pai -filho) como salvador da nossa Eva…

Esse Pai é um Mito - é o poder que as mulheres nunca tiveram e tanto desejaram para se afirmarem diante do Homem. Mas o que falta ao mundo é a Mãe, a Mãe Mulher que foi anulada na sua essência e identidade - e sem mãe não há linhagem nem consciência de ser mulher.
O pai, volto a dizer é apenas a representação da autoridade-deus, não tem consistência psicológica, só peso material e social na cultura e na tradição patriarcal, que se  baseia na  negação da mãe e da mulher e foi assim que ele encontrou domínio. Uma mulher por si pode ter filhos sem saber quem é o pai - dai o casamento ser a forma criada pelos Sistema patriarcal para  lhe dar poder sobre a mãe e garantindo que a mulher é propriedade sua e os filhos também. 
O homem na realidade comum e o homem primário quando a fêmea deixa de ser uma presa ou já não lhe serve para dar prazer separa-se da mulher ou mata-a e desliga-se dos filhos - ele não quer saber dos filhos para nada...todos os dias assistimos a esses crimes.
Mas olhe-se esta realidade e vê-se que o pai e o padre não passa de um abusador, um predador e no sentido mítico uma ficção montada pela religião história e cultura do Homem que se dá a ele próprio esse valor tirando todo o valor à mulher a filha e a mãe - é um cenário frequente assim como nos filmes todos os filmes americanos projectam esse mito o do herói enquanto a mãe é uma bêbeda, negligente com os filhos, uma histérica ou uma vagabunda...e a filhinha perdida vai em busca de papai bonzinho...e na verdade é ele quem tem mais peso e o controlo na família mas baseado do domínio legal e no dinheiro. As mulheres perdidas de si e sem essência invejam esse poder e reflectem-no no poder que tem sobre os filhos machos, anulando muito na sua virilidade.
Para mim pai não existe senão geneticamente ou culturalmente...é como digo um mito e um acaso na fecundação e se a Mulher fosse livre e senhora de si como o já foi outrora … o seu papel seria vago ou nulo. Tudo o mais é inventado e forçado…

 Mas voltemos a Lilith para dizer que ela não é uma deusa e menos ainda uma deusa lenitiva e protectora, nem é uma boa mãe a quem se apela, a que se pede alivio ou se reza - ela não é nutritiva e benéfica, mas é...apenas  libertadora de todas as amarras e mitos…E embora hajam deusas que evocam as forças  de destruição, da raiva e até da cólera, nenhuma deusa representa Lilith porque ela está antes de tudo, no principio de tudo, criada originalmente "igual ao homem e a deus"...

Portanto façamos esta distinção importante entre a Primeira Mulher  e a Mãe do mundo.

Há de facto uma consciência inteira do ser mulher integral que a mulher comum, a mulher Eva desconhece - a história da mulher é a historia de uma mulher dividida entre a má e a boa, ou seja, Eva é a parte boa (costela de Adão, obediente) e Lilith é a parte má que o abandonou e foi considerada um demónio tendo sido castiga ou punida por ser livre...e não aceitar se submeter a Adão…
Portanto todas as mulheres do mundo patriarcal proveniente das religiões judaico ou cristãs dividiram a mulher sucessivamente em duas espécies de mulher …

Agora e o tempo urge,  a mulher para voltar a ser uma totalidade em si, não sendo uma nem a outra, quanto a mim, tem de passar pela união dessas duas mulheres divididas entre as diferentes variações da "santa e a puta" e só depois de compreender esta divisão e o porquê dela é que  podemos aperceber-nos de quem é Lilith bem no nosso amago; Lilith não é porém uma terceira mulher substituta de ambas, nem um outro aspecto  ou um outro lado complementar da mulher entre outros equivalentes dentro dessas variações… Lilith é um  voltar a uma essência una, a uma energia que é a Mulher Integral  e cujo registo está nas células de cada mulher, - não é por acaso que é Lilith que dá a comer a maça do Conhecimento a Eva - mas Lilith não é a deusa na mulher, ela é a mulher inteira em si mesma, a Mulher que ela era antes da Queda…

O trabalho da mulher agora além de unir essas duas mulheres cindidas em si - para isso é preciso resgatar esse poder que lhe foi roubado -, é lembrar  tudo o que lhe foi oculto para que a mulher volte a ser a  intermediária entre a  terra e o céu, e isso implica primeiro integrar a sua sombra e  abranger a sua psique como uma totalidade e só depois ela poderá aflorar a sua alma onde os outros mundos e dimensões se tocam, não antes… mas esse é um outro assunto porque nos remete para um outro plano. Somos de facto um corpo alma e espírito, que unificados dão o ser total, mas os processos iniciáticos levam-nos todas a um trabalho de consciência mais elevado e que pertencem a vários níveis...e a partir da encarnação… enquanto que Lilith tem a ver com a manifestação da Mulher na Terra exclusivamente...
E neste caso enquanto ela não for uma experiência viva no nosso ser, tudo o mais que façamos  pode ser uma forma de alienação e de desvio dessa totalidade em busca de sucedâneos que mais nos afastam do que nos aproximam dessa essência e como nós bem sabemos as pessoas hoje em dia misturam tudo num imenso caldeirão que nada nos acrescenta.
Se há coisa com que eu embirre - é a ideia das faces e facetas e deusas na mulher ou das deusas em cada mulher...como se a mulher fosse de faces e tivesse muitas caras; nem se trata das faces da Lua, que essas sim,  têm a ver com as diferentes idades da mulher e os seus  processos hormonais e químicos e não podem ser facetas divergentes ou opostas entre si pois fazem parte de uma evolução...Mas como as coias são olhadas é como se a mulher estivesse sempre sujeita a humores imprevisíveis e fosse sempre uma histérica ou coisa que o valha... que é como a veem os homens em geral.


rlp


*CITAÇÃO  “O Livro de Lilith” – Bárbar a Black Koltuv

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