"Apesar dos discursos que se pretendem feministas, apesar de importantes concessões feitas ao apostolado das mulheres, a regra é sempre masculina: só um homem pode representar Jesus, e, portanto, Deus pai, pois admitir as mulheres à função sacerdotal seria voltar aos cultos julgados escandalosos anteriores ao cristianismo." - Jean Markale
A CONFUSÃO DOS SEXOS...
Voltando à Profundidade da Mulher...
Sem a Mulher das profundidades não pode haver compreensão do verdadeiro feminino, nem da essência, logo do papel da Anima …e mais uma vez, não só nas velhas religiões como na psicanálise moderna, os homens do “conhecimento racional” inverteram o sentido das essências masculino e feminino atribuindo o animus à mulher e à anima ao homem…
A NATUREZA DESCONHECIDA DA ANIMA É A NATUREZA OCULTA DA MULHER, é a sua natureza escondida e negada nos séculos de religião e cultura e ideias masculinas, de filosofias e da arte apolíneas, que provocaram um branqueamento da mulher original, da mulher ctónica; séculos de desmembramento e desfragmentação do ser mulher em si, da mulher inteira - a partir do momento em que a mulher foi dividida em duas a do lar e a da rua, e se tornou uma função mais do que um ser individual, esse apagamento e essa aculturação causaram uma ausência total do sentido do que é ser mulher como ente, projectando uma metade mulher, “ideal”, “moral” religiosa, artística, romântica, a mulher fragmentada que sobrou das muitas divisões seculares entre Eva, cada vez mais asséptica e vazia de entranhas …e Lilith, completamente esquecida e relegada para os infernos, pelo único deus reinante dos patriarcas, suprimidas todas as deusas, assim como o poder vivificante e destruidor das forças ctónicas a elas associadas. É dessa mulher anima varrida do consciente humano, soterrada nas memórias mais arcaicas que os homens da psicanálise e da psicologia das profundidades buscaram sem compreender que a mulher que eles conheciam era uma pálida imagem dessa mulher anterior ao paleolítico, da Mulher sacerdotisa, da Mulher Musa, da Rainha, da Mulher da Origem…
Assim, os melhores autores, e os mais conceituados, abordaram o tema da Anima como o feminino do homem e o Animus como o masculino da mulher sem perceber que a verdadeira Anima, o seu feminino profundo, estava completamente desligado da mulher dos nossos dias…e que tanto homens como mulheres não poderiam sequer equacionar a questão do feminino/masculino sem que a mulher resgatasse o seu eu profundo das profundezas do seu ser, do mais abissal da sua memória…e esse é um trabalho da Mulher e não do homem! Penso que por isso mesmo estamos completamente e culturalmente confusos/as com a identidade do ser humano e a função de cada um dos sexos.
Os homens da psicologia e da psicanálise tentaram resolver o seu problema do feminino em si sem nunca entender a própria mulher, essa, dividida e fragmentada pelos imensos estereótipos que lhes eram atribuídos pela cultura secular, ou por persistirem em ver apenas a mulher que a sua cultura e a “ciência” em que foram beber o seu conhecimento, lhes permitia ver; não entenderiam nunca que sem essa percepção da divisão interna e secular da mulher em dois estereótipos fundamentais, os homens não entenderiam nunca uma METADE DA HUMANIDADE, relegada para um plano funcional, dado que a mulher assim abordada não é senão uma metade de uma metade…e por isso incompreensível a nível da psique e do intelecto.
Por outro lado, a mulher cindida não pode compreender a sua própria natureza a verdadeira dimensão do seu ser, sem se fundir à sua natureza instintiva e inicial, associada as deusas primordiais, a grande Deusa e as sacerdotisas de outrora. Ela não pode ser inteira sem se unir à "outra" mulher...que é ela mesma!
Esse desconhecimento da Mulher de si mesma e da sua essência, levava o homem e o psicólogo a encontrar um vazio na mulher (dividida) chamando-o de Animus não realizado, (a sua própria experiência de vazio de anima) quando afinal o que sucede nas nossas sociedades foi ter-se "fabricado" uma mulher gravemente "animus" pelas ideias dos homens, as mulheres por si idealizadas, as puras e as perversas as fatais e as inocentes etc., as duas mulheres que conviviam nas suas sociedades, uma esposa e outra a prostituta basicamente, ou a concubina, com um animus que hoje é ainda mais mais acentuado e um yang elevadíssimo. O que nos falta de facto é a mulher Anima, a mulher essência, uma mulher inteira que inclusive possa reflectir ao homem a sua própria Anima e então sim poder ela realizar o seu animus de forma equilibrada e vice-versa.
(...)
SÃO ESSES DOIS LADOS DA MULHER DIVIDIDA EM SI QUE OS HOMENS NÃO CONSEGUIRAM PERCEBER AS RAZÕES NEM AS MULHER IDENTIFICARAM AS CAUSAS. E ASSIM CRIARAM ESTA GRANDE CONFUSÃO...
Precisamente, “James Hillman, traz uma pedra importante à nossa construção afirmando que a fenomenologia da anima não se restringe ao sexo masculino e que existem “mulheres anima” que encarnam para o outro e para elas mesmas esses valores. Ele diz: “As mulheres também perdem contacto com elas e podem ser levadas a meditar no seu destino, na sua morte, na sua imortalidade. Elas também fazem a experiência da alma e sofrem do seu mistério e da sua confusão.”
E acrescenta um pouco mais adiante: “Porque é que o mesmo comportamento se chama “anima” num sexo e no outro e natureza feminina” ou “Sombra” no outro.?”
Para Hillman, as mulheres têm “a profundidade da alma ou elas são alma (…) e psique, mas o sentimento íntimo de alma, não é dado à mulher pelo simples facto de ela ser uma mulher.” (…)
Se Jung vê a Anima como um “vazio”, Hillman precisa: “Nós não podemos explicar esse vazio em termos de sombra inconsciente ou de Animus não desenvolvido (…) esse vazio devia ser considerado como uma autêntica manifestação arquetípica da Anima. (…)
Mas ao mesmo tempo, nós veremos mais longe, ela (Anima) como sendo a única via possível para a hiper-consciência verticalizante.
O desconhecido é também aquilo que torna evidente a natureza enigmática, inalcançável, e inacessível de Lilith. Ela é, seja “à distância”, seja “velada” como Ísis ou se descobrindo pelo abandono dos numeroso véus – como Humbaba ou Salomé, sempre instigante de fantasmas e de projecções múltiplas.
Citemos ainda Hillman: “É a este inconsciente fundamental arquétipo, ausência de luz, de moralidade, de sentido de conflito, de intenção (…) que Jung faz alusão em certas passagens sobre a natureza desconhecida da “Anima”.*
Rosa Leonor pedro
* In Le Retour de Lilith de Joellle de Gravellaine
A CONFUSÃO DOS SEXOS...
Voltando à Profundidade da Mulher...
Sem a Mulher das profundidades não pode haver compreensão do verdadeiro feminino, nem da essência, logo do papel da Anima …e mais uma vez, não só nas velhas religiões como na psicanálise moderna, os homens do “conhecimento racional” inverteram o sentido das essências masculino e feminino atribuindo o animus à mulher e à anima ao homem…
A NATUREZA DESCONHECIDA DA ANIMA É A NATUREZA OCULTA DA MULHER, é a sua natureza escondida e negada nos séculos de religião e cultura e ideias masculinas, de filosofias e da arte apolíneas, que provocaram um branqueamento da mulher original, da mulher ctónica; séculos de desmembramento e desfragmentação do ser mulher em si, da mulher inteira - a partir do momento em que a mulher foi dividida em duas a do lar e a da rua, e se tornou uma função mais do que um ser individual, esse apagamento e essa aculturação causaram uma ausência total do sentido do que é ser mulher como ente, projectando uma metade mulher, “ideal”, “moral” religiosa, artística, romântica, a mulher fragmentada que sobrou das muitas divisões seculares entre Eva, cada vez mais asséptica e vazia de entranhas …e Lilith, completamente esquecida e relegada para os infernos, pelo único deus reinante dos patriarcas, suprimidas todas as deusas, assim como o poder vivificante e destruidor das forças ctónicas a elas associadas. É dessa mulher anima varrida do consciente humano, soterrada nas memórias mais arcaicas que os homens da psicanálise e da psicologia das profundidades buscaram sem compreender que a mulher que eles conheciam era uma pálida imagem dessa mulher anterior ao paleolítico, da Mulher sacerdotisa, da Mulher Musa, da Rainha, da Mulher da Origem…
Assim, os melhores autores, e os mais conceituados, abordaram o tema da Anima como o feminino do homem e o Animus como o masculino da mulher sem perceber que a verdadeira Anima, o seu feminino profundo, estava completamente desligado da mulher dos nossos dias…e que tanto homens como mulheres não poderiam sequer equacionar a questão do feminino/masculino sem que a mulher resgatasse o seu eu profundo das profundezas do seu ser, do mais abissal da sua memória…e esse é um trabalho da Mulher e não do homem! Penso que por isso mesmo estamos completamente e culturalmente confusos/as com a identidade do ser humano e a função de cada um dos sexos.
Os homens da psicologia e da psicanálise tentaram resolver o seu problema do feminino em si sem nunca entender a própria mulher, essa, dividida e fragmentada pelos imensos estereótipos que lhes eram atribuídos pela cultura secular, ou por persistirem em ver apenas a mulher que a sua cultura e a “ciência” em que foram beber o seu conhecimento, lhes permitia ver; não entenderiam nunca que sem essa percepção da divisão interna e secular da mulher em dois estereótipos fundamentais, os homens não entenderiam nunca uma METADE DA HUMANIDADE, relegada para um plano funcional, dado que a mulher assim abordada não é senão uma metade de uma metade…e por isso incompreensível a nível da psique e do intelecto.
Por outro lado, a mulher cindida não pode compreender a sua própria natureza a verdadeira dimensão do seu ser, sem se fundir à sua natureza instintiva e inicial, associada as deusas primordiais, a grande Deusa e as sacerdotisas de outrora. Ela não pode ser inteira sem se unir à "outra" mulher...que é ela mesma!
Esse desconhecimento da Mulher de si mesma e da sua essência, levava o homem e o psicólogo a encontrar um vazio na mulher (dividida) chamando-o de Animus não realizado, (a sua própria experiência de vazio de anima) quando afinal o que sucede nas nossas sociedades foi ter-se "fabricado" uma mulher gravemente "animus" pelas ideias dos homens, as mulheres por si idealizadas, as puras e as perversas as fatais e as inocentes etc., as duas mulheres que conviviam nas suas sociedades, uma esposa e outra a prostituta basicamente, ou a concubina, com um animus que hoje é ainda mais mais acentuado e um yang elevadíssimo. O que nos falta de facto é a mulher Anima, a mulher essência, uma mulher inteira que inclusive possa reflectir ao homem a sua própria Anima e então sim poder ela realizar o seu animus de forma equilibrada e vice-versa.
(...)
SÃO ESSES DOIS LADOS DA MULHER DIVIDIDA EM SI QUE OS HOMENS NÃO CONSEGUIRAM PERCEBER AS RAZÕES NEM AS MULHER IDENTIFICARAM AS CAUSAS. E ASSIM CRIARAM ESTA GRANDE CONFUSÃO...
Precisamente, “James Hillman, traz uma pedra importante à nossa construção afirmando que a fenomenologia da anima não se restringe ao sexo masculino e que existem “mulheres anima” que encarnam para o outro e para elas mesmas esses valores. Ele diz: “As mulheres também perdem contacto com elas e podem ser levadas a meditar no seu destino, na sua morte, na sua imortalidade. Elas também fazem a experiência da alma e sofrem do seu mistério e da sua confusão.”
E acrescenta um pouco mais adiante: “Porque é que o mesmo comportamento se chama “anima” num sexo e no outro e natureza feminina” ou “Sombra” no outro.?”
Para Hillman, as mulheres têm “a profundidade da alma ou elas são alma (…) e psique, mas o sentimento íntimo de alma, não é dado à mulher pelo simples facto de ela ser uma mulher.” (…)
Se Jung vê a Anima como um “vazio”, Hillman precisa: “Nós não podemos explicar esse vazio em termos de sombra inconsciente ou de Animus não desenvolvido (…) esse vazio devia ser considerado como uma autêntica manifestação arquetípica da Anima. (…)
Mas ao mesmo tempo, nós veremos mais longe, ela (Anima) como sendo a única via possível para a hiper-consciência verticalizante.
O desconhecido é também aquilo que torna evidente a natureza enigmática, inalcançável, e inacessível de Lilith. Ela é, seja “à distância”, seja “velada” como Ísis ou se descobrindo pelo abandono dos numeroso véus – como Humbaba ou Salomé, sempre instigante de fantasmas e de projecções múltiplas.
Citemos ainda Hillman: “É a este inconsciente fundamental arquétipo, ausência de luz, de moralidade, de sentido de conflito, de intenção (…) que Jung faz alusão em certas passagens sobre a natureza desconhecida da “Anima”.*
Rosa Leonor pedro
* In Le Retour de Lilith de Joellle de Gravellaine
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