“A compulsão das mulheres no sentido de “tudo curar, tudo consertar” é uma importante armadilha formada pelas exigências a nós impostas pelas nossas próprias culturas, especialmente as pressões no sentido de que provemos que não estamos por aí sem fazer nada, ocupando espaço e nos divertindo, mas, sim, que temos um valor resgatável. Em algumas partes do mundo, pode-se dizer que o exigido é uma prova de que temos valor e, portanto, deveria ser permitido que vivêssemos.
Essas pressões são inseridas na nossa psique quando somos muito jovens e incapazes de ter uma opinião sobre elas ou de lhes oferecer resistência. Elas se tornam a lei para nós… a não ser que, ou até que, as desafiemos. No entanto, os clamores do mundo em sofrimento não podem ser todos atendidos por uma única pessoa o tempo todo (…) A armadilha exige que as mulheres se esgotem tentando atingir esses níveis fantásticos. Para evitar a armadilha, temos de aprender a dizer “Alto lá” e “Parem a música”, e é claro que temos de estar falando a sério.
A mulher tem de se afastar, ficar sozinha e examinar, para início de conversa, como ficou presa a um arquétipo. É preciso resgatar e desenvolver o instinto selvagem básico que determina os limites “só até aqui e nem um passo a mais, só esse tanto e nada mais”.
É assim que a mulher se mantém norteada. É preferível voltar ao lar por algum tempo, mesmo que isso irrite os outros, em vez de ficar, para se deteriorar e acabar indo embora rastejando, em frangalhos.
Portanto, mulheres que estão cansadas, que estão temporariamente cheias do mundo, que têm medo de tirar uma folga, têm medo de parar, acordem imediatamente! Cubram com um cobertor o gongo estridente que não pára de pedir que vocês ajudem aqui, ajudem ali, ajudem mais acolá. Ele ainda estará ali para que você lhe retire o cobertor, se assim desejar, quando estiver de volta”.
Clarissa Pinkola Estés – Mulheres que correm com os lobos
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