“ O amor romântico - todo o amor *- é feito de sexo e de poder. Na intimidade, nós penetramos na aura animal do outro. E nisso há magia, tanto negra como branca.”
In personas sexuais - de Camille paglia
DESALMADAMENTE, o sexo…
O facto de se ter separado a sexualidade da espiritualidade cavou um fosso enorme na consciência dos homens e das mulheres modernas e impediu a natureza instintiva de se expressar e evoluir da base para cima, da Terra para o Céu… O ter-se negado à mulher o papel de iniciadora do amor (as sacerdotisas da deusa) e condenadas as mulheres por seduzirem ou tentarem os homens em fuga para deus e o céu, rejeitando assim a natureza e a sua força na mulher - tal como o fizeram com a Grande Mãe que dá a vida, tudo isso alienou completamente o Ser Humano da sua essência sagrada. Assim ao colocar-se o homem e a sua arte e cultura acima da natureza, ao colocar-se o Pai acima da Mãe e impondo a lei da força do homem contra a força da natureza, o equilíbrio dos dois Princípios feminino e masculino ( Yin e Yang), a Terra deixou de ser a fonte e o pilar da vida que nos sustenta e os polos deixaram de ser complementares e equitativos, para serem só opostos.Com a ascenção das religiões judaico cristãs, tornou-se a alma algo abstracto pertencendo apenas ao domínio do “espírito” - apenas como dogma religioso - e o sexo como órgão separado do corpo, apenas pulsão, sem alma, tornou-se uma coisa animal de facto - ora violenta e perversa, ora grotesca e obscena, vista como inferior, sempre rebaixada à escala animal… e proibida, a não ser como norma institucional através do casamento, submissão da mulher ao homem seu dono.
Por tudo isso há uma grande confusão acerca do sexo e como os homens tem medo do seu lado instintivo e animal, sobretudo nas mulheres - esse medo da natureza - faz com que as pessoas se escondam ou denigram a sua vivência sexual sentida como pecado. Neste contexto as crianças são afastadas e enganadas acerca dos seus instintos, carregadas de moral e tabus, impedidas de explorarem a sua sensibilidade e evoluir em campos neutros onde nem o feminino é rebaixado nem o masculino exaltado. Depois, nas escolas, ensinam-lhes um modo de reprodução e uma função orgânica desligada de tudo e até do afecto ou do Amor e a sexualidade torna-se uma coisa experimental, obscena e abjecta. Do outro lado a televisão mostra-lhes a violência por excelência e a pornografia, usando e rebaixando a mulher coisificando-a o que denigre a Mãe e avilta a Mulher.
Foi assim que se separou também o homem da mulher, condenada esta ao pecado e quando não mulher de…é ainda considerada puta…
Deste modo, a sexualidade fora da religião, a única culpada da queda da mulher, e sem a dimensão do sagrado, que é a união pelo verdadeiro amor quando o corpo se une ao espirito por intermédio da alma e não é apenas mera atracção física, essa atracção fatal que a mulher livre exerce sobre o homem livre - para o homem comum, é quase sempre vivida como uma guerra, e a mulher uma posse ou despojo de batalhas, e na vida "a dois" uma sevícia feita a mulher, quase sempre um abuso e daí o termo "foder" que significa violentar, ferir, magoar com violência…
A autora citada de inicio diz, em "Mulheres livres, Homens livres", que "A procura de liberdade através do sexo está condenada ao fracasso. No sexo, o que manda é a compulsão primitiva Necessidade." (...) e nesse sentido tem razão se o Ser Humano não se transcender e não for para lá do materialismo e da fisicalidade...mas concordo quando diz: "Um orgasmo tanto pode representar dominação como e rendição como caminho novo que se descobre", e vou pelo novo caminho que se descobre…
Ela diz ainda, "O amor ocidental é um deslocamento de realidades cósmicas" e neste caso, para além das afirmações anteriores partirem de premissas para mim muito intelectuais, penso que a autora só em parte esteja certa, mas tendo em conta a alma como entidade central e sendo ela a mediadora e não tomada como mera abstracção religiosa e sim uma dimensão do ser inteiro (corpo alma e espirito), talvez faça a diferença, e a relação sexual em vez de ser de "dominação e rendição" (ao mais forte - ao macho dentro deste Sistema), vista apenas como "compulsão primitiva Necessidade", pode ser libertação se houver elevação e entrega amorosa e se a Mulher for a iniciadora, essa Mulher Mágica, inteira, que é não sou só movida pela Natureza instintiva, a Mãe que dá vida como a amante que revela esse poder cósmico do amor, o fogo do seu coração; isso bem para lá do medo do desconhecido e da morte que representa a Natureza Mãe e a Mulher …
A autora citada, diz-se intelectual primeiro e feminista em segundo lugar e de facto ela vê e analisa os factos e a vida de acordo com Freud ou Foucault, assim como outros psicólogos modernos, mas dentro de uma perspectiva meramente intelectual e materialista, patriarcal, separando em partes o ser humano e portanto para quem o corpo é apenas instintivo e animal sem conceber a ideia de alma, a não ser metaforicamente. A verdadeira espiritualidade é uma experiência fora do registo mental intelectual ou conceptual. Ela porém não consegue sair da dualidade e oposição de contrários - e por isso para ela a transcendência do sexo é afirmar ou negar o instintivo…quando na verdade trata-se de ir para lá da oposição, mas penso que esta é uma dimensão - uma verdadeira transcendência - que nos seus livros Camille Paglia não equaciona…e diria se me conhecesse...que eu sou uma mística...
Penso que o drama do nosso tempo é essa vivência desalmada do sexo e a as ideias materialistas que passaram de um dogma religioso do pecado para uma liberdade sem consciência do ser na sua totalidade - precisamente sem transcendência - e que cria seres desalmados…
Nunca este termo foi tão apropriado!!!
rosa Leonor pedro
NÃO HÁ DUVIDA DE QUE “Num mundo desnaturado que confunde genitalidade e sexualidade, depois sexualidade e erotismo, o (verdadeiro) erotismo ou melhor a Erótica permanece reservada, hoje como ontem, hoje mais do que ontem, a uma elite. A Erótica não é este desespero que os humanos confundem com Amor quando eles lançam cegamente uma ponte sobre o seu próprio vazio, para não enfrentar a sua ausência, em relação a uma imagem que eles próprios criaram sem disso terem consciência” J. kelen
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