O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, outubro 31, 2019

AS LEIS NÃO MUDAM OS HOMENS


A LEI MUDA, MAS O HOMEM CONTINUA O MESMO...


«LEI, IGUALDADE E VIOLÊNCIA», 2011


«Durante muito tempo, a lei atribuía às mulheres, enquanto seres autónomos, pouco ou nenhum valor. E este variava em função das suas características enquanto objecto de direitos de um homem. Mulher casada ou não, virgem ou não, “séria” ou “desonesta”.

A consideração das mulheres como seres autónomos e livres, e a protecção da sua integridade, através do Direito – em especial do Direito Penal, no campo da integridade física, vida e liberdade sexual – é historicamente muito recente.

A evolução foi lenta e difícil mas, a partir de certa altura, em parte por efeito da pressão dos movimentos defensores dos direitos das mulheres, sofreu aceleração evidente. Neste momento, a lei escrita é satisfatória. Assim ela seja devidamente aplicada.


Mas o desequilíbrio de poder efectivo entre homens e mulheres, omnipresente e particularmente evidente em certas áreas – decisão pública, mercado de trabalho, relações familiares – significa que a lei “sozinha” não conseguirá alterar o que hoje é vulgarmente denominado por “relações sociais de género”. Uma mulher com emprego remunerado, independência económica, auto-estima forte e apoio nas tarefas familiares tem muito maior probabilidade de conseguir sair de uma relação em que é maltratada, ou de sequer nela não aceitar entrar; sobretudo se a sua capacidade de se entender como ser humano livre acompanhar esse estatuto geral de autonomia.


Que a lei não a declare imbecil e incapaz, como fez durante séculos, sujeita à autoridade do marido que substitui o pai, é já um grande avanço.

(...)»


TPB, «LEI, IGUALDADE E VIOLÊNCIA», 2011

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