O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 22, 2022

O SILÊNCIO DAS MULHERES...






E A NECESSIDADE DE UMA ESCRITA DE MULHER.


"Enquanto as mulheres permanecerem em silêncio, estarão excluídas do processo histórico. Mas, se começarem a falar e a escreverem como os homens, entrarão na história subjugadas e alienadas; trata-se de uma história que, logicamente falando, o seu discurso deveria desintegrar
Aquilo de que nós precisamos, tal como propôs Mary Jacobus, é uma escrita de mulher que funcione dentro do discurso "masculino", mas que trabalhe "ininterruptamente para o desconstruir: para escrever o que não pode ser escrito"; e, de acordo com Soshana Felman, " o desafio com o qual a mulher é hoje confrontada é nada menos do que o de "reinventar" a linguagem...o de falar, não só contra, como também fora da estrutura falocêntrica especular, o de estabelecer um discurso cujo estatuto não seja definido pela falácia do significado masculino" *



A MULHER UM SER COM INDIVIDUALIDADE

A Chave que se perdeu é a mulher. A mulher que foi apagada da história dos homens como ser individual e senhora da sua vontade…
Durante milénios a mulher esteve submetida e incapaz de se erguer na sua natureza obedecendo aos padrões e leis do mundo apolíneo estritamente masculino na sua negação do ctnónico e do princípio feminino.
A mulher que durante milénios cumpriu o pesado fardo de servir exclusivamente a humanidade homem na negação da sua individualidade ao serviço da espécie como mãe, mas em total sujeição ao homem. Cumpriu séculos de sujeição ao pai e ao filho. Agora é tempo de a mulher retomar as rédeas e voltar a servir a Terra e ser fiel à Deusa Mãe e a Natureza.
Por isso é urgente que a mulher acorde para si mesma, que desperte para uma nova consciência do seu SER , um ser em plenitude das suas faculdades, e para isso tem de se resgatar do fundo de si mesma e sair do caos em que os homens a projectaram a si e à terra.
A Mulher tem de recuperar a sua memória celular, recuperar a sua identidade esquecida, a identidade que perdeu ao ceder ao homem o seu poder de cura e amor, o seu poder de amar e ser livre…o seu dom de visão e profecia, a sua alegria a mais genuína.
É inconcebível que a mulher só por ser mulher seja ainda castigada e estropiada, violada e morta nas guerras pelos homens em todo o mundo.
E fosse o que fosse que tivesse sido acordado pelas esferas superiores em relação à Mulher, nos céus ou na terra, pelos mitos ou nas histórias do mundo, nos eons, na roda das civilizações, ou nos ciclos da evolução da Humanidade, é tempo de a mulher ser respeitada por si mesma como ser individual e não colectivo e realizar o Matrimónio sagrado com a Deusa Mãe e consigo mesma, unindo-se à outra mulher-metade de si e da qual foi separada há milénios…
É tempo da mãe e da filha se unirem em vez de competirem entre si e lutar pelo homem. É tempo de a mulher se libertar das algemas do património e da escravidão do sexo e até da maternidade.
É tempo de a mulher olhar para dentro de si mesma e descobrir o seu tesouro escondido, o seu tesouro sem fim, o “manancial fechado” que ela se tornou e abrir essa Caixa de Pandora, que ao contrário dos mitos que a anunciam como desgraças maiores causada pela Mulher – não pode haver maior desgraça do que a que os homens semearam na Terra – e que mais não fazem do que reflectir a misoginia e medo ancestral da mulher, da sua força sensual e sexual, da seu poder magnético como fêmea, tal como o medo à força indomável da Natureza e que tanto assusta ainda os homens. Foi por esse medo e desejo de controlar o mundo ctónico que os homens reprimiram e condenaram a mulher, e a fecharam nessa Caixa de Pandora sob a ameaça de perigos medonhos...
E assim, quer na religião quer o mito, fizeram pesar sobre a mulher a culpa do erro ou do pecado e dos males da humanidade, para a manter encerrada em si e calada, para a manter agrilhoada e incapaz de se defender ou agir por si mesma.


in Lilith, a mulher primordial livro da Rosa Leonor Pedro


*in "GÉNERO, IDENTIDADE E DESEJO"
*Antologia Crítica do Feminismo Contemporâneo
Organização de ANA GABRIELA MACEDO

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