O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, junho 23, 2022

The Eternal Fire of a Pure Love





Não me recordo quando a Poesia fugiu de mim. Talvez nunca habituou estes lugares lúgubres de que sou feita. Estes cabelos, qual ninho de pássaros, cujos habitantes são Corvos. Nunca lhes deitaram a sorte aos meus nervos e lhe serviram a boa comida dos escolhidos. Deixei-me adormecer algures, sem prosas e poesias. As narrativas se perdem. Será Alzheimer jovem que adormece estes neurónios tão marcadamente juvenis e inspirados? Temo que me matei, sem saber que me matava. Debrucei os olhos e o coração na tua miragem e esqueci-me. Apenas me lembro daquele poço, do fundo dele, e como os seus braços longos e afiados me abraçaram e levaram-me!! Não, ninguém foi ao fundo e pegou o diabo que me levou, e curtiu a sua pele e me entregou nas mãos, libertando-me! Não!! Fiquei sim, mais morta. Morta de tão morta, impossível. Se algum dia passarem por lá, pelos poços, e se o acharem muito negro, recordem-se, sou eu a gritar num mergulho fundo de solidão. É a minha prisão, a minha perdição a chamar. É a minha mais profunda agonia humana, a minha mais profunda lágrima de dentro a olhar-vos. Não me recordo quando deixei de escrever a poesia. Ela adornava o meu coração com coroas de rosas e os espinhos eram apenas o sal vital que vitalizava a terra da minha alma. Deixei de ver aquele núcleo, uma neblina espessa envolveu-a... aquele movimento nebuloso a distanciar-me, a petrificar-me... grito, e é um grito de impotência... nem os poetas ancestrais me ouvem, e pior que isso, o meu próprio espírito, vira-me as costas!!! Que humilhação!!! ouço berrar. «Como ousas dizer isto? Com que direito tens de escrever tais coisas?» Quedo quieta, e digo, « quero voltar à vida?! » Vão-se abutres!!! Vão-se!!! Enxotem-se daqui!! Enxotem-se-se-se-se-se-se-se enxxxxoootem-SE!!! 

NãoSouEuéaOutra 
in O Nada com que a Vida se Fez


Ana Maria Fernandes 


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