O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 06, 2008

GOSTE-SE OU NÃO...

O PRETO DESLAVADO
Fernanda Câncio - jornalista
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Não é fácil, claro, perceber por que razão não temos mais negros entre as elites políticas, culturais e económicas do país. Por que motivo não há um único pivot negro na TV portuguesa, por que há apenas um negro no parlamento (Hélder Amaral, do PP), por que há tão poucos jornalistas e comentadores negros, ou, mais prosaicamente, por que razão um grupo de negros num centro comercial sobressalta os seguranças.

Mas, uma semana depois de uma mulher chegar enfim à liderança de um dos dois grandes partidos portugueses, um filho de um queniano perfila-se como candidato democrata à presidência dos EUA. Goste-se ou não de Barack Obama e de Manuela Ferreira Leite, este é um momento para celebrar. Porque prova que é possível, porque derruba preconceitos e combate estereótipos e porque mostra que o tecto de vidro pode estilhaçar-se. Não impede, claro, que tanta gente continue a achar que "o lugar das mulheres é em casa" ou que "os pretos devem ir para a terra deles", ou que uma professora faça uma piada insultuosa sobre a cor da pele de um aluno. Mas permite que o aluno possa perguntar à professora se não quer chamar isso ao homem que pode vir a ser o próximo presidente dos EUA. Daquela que costuma ser descrita como a mais poderosa nação do mundo - e que, por acaso, é também um dos lugares onde o racismo é mais discutido e denunciado, e onde os movimentos de emancipação étnica e de género são mais assertivos e vigilantes. Nos EUA, esta professora dar-se-ia muito mal (como se dariam os que usam, para referir Ferreira Leite, epítetos relacionados com o seu aspecto físico). E doravante, dar-se-ão também mal os que vivem de desculpas e ressentimento, os que repetem "para os pretos não há hipótese": Obama conseguiu. Pode não mudar mais nada, mas isso já mudou.

IN DN FERNANDA CÂNCIO


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