Fernanda Câncio - jornalista
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Não é fácil, claro, perceber por que razão não temos mais negros entre as elites políticas, culturais e económicas do país. Por que motivo não há um único pivot negro na TV portuguesa, por que há apenas um negro no parlamento (Hélder Amaral, do PP), por que há tão poucos jornalistas e comentadores negros, ou, mais prosaicamente, por que razão um grupo de negros num centro comercial sobressalta os seguranças.
Mas, uma semana depois de uma mulher chegar enfim à liderança de um dos dois grandes partidos portugueses, um filho de um queniano perfila-se como candidato democrata à presidência dos EUA. Goste-se ou não de Barack Obama e de Manuela Ferreira Leite, este é um momento para celebrar. Porque prova que é possível, porque derruba preconceitos e combate estereótipos e porque mostra que o tecto de vidro pode estilhaçar-se. Não impede, claro, que tanta gente continue a achar que "o lugar das mulheres é em casa" ou que "os pretos devem ir para a terra deles", ou que uma professora faça uma piada insultuosa sobre a cor da pele de um aluno. Mas permite que o aluno possa perguntar à professora se não quer chamar isso ao homem que pode vir a ser o próximo presidente dos EUA. Daquela que costuma ser descrita como a mais poderosa nação do mundo - e que, por acaso, é também um dos lugares onde o racismo é mais discutido e denunciado, e onde os movimentos de emancipação étnica e de género são mais assertivos e vigilantes. Nos EUA, esta professora dar-se-ia muito mal (como se dariam os que usam, para referir Ferreira Leite, epítetos relacionados com o seu aspecto físico). E doravante, dar-se-ão também mal os que vivem de desculpas e ressentimento, os que repetem "para os pretos não há hipótese": Obama conseguiu. Pode não mudar mais nada, mas isso já mudou.
IN DN FERNANDA CÂNCIO
PARA LER NA ÍNTEGRA: http://dn.sapo.pt/2008/06/06/opiniao/o_preto_deslavado.html
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