Nenhum ser humano pode, à partida, neste plano de consciência, fugir à sua dualidade e à manifestação dos contrários em si mesmo...
Quadro de Lena Gal
Não há prazer sem que a dor não se manifeste depois, nem dor que dure sempre...
Sem ambos os lados dessa manifestação não poderiamos reconhecer uma sem a outra, assim como acontece com a luz e a escuridão, com o positivo e negativo, com o masculino e o feminino...
O ser humano só pode atingir a visão única (pela actividade dos dois hemisférios cerebrais) e assim a sua integralidade como ser humano para lá dessa dualidade, na integração dos polos opostos complementares - ao aprofundar da sua experiência humana - que tem como resultado o acesso a um estado de consciência superior, de equanimidade ou o êxtase...É o estado da paz e contentamente interior que não dependem de um objecto exterior...como acontece com o prazer passageiro, por mais intenso que seja acaba sempre em dor face à ausência do objecto amado etc.
É na síntese desses dois lados do ser que se encontra a verdadeira harmonia e o prazer verdadeiro, que é júbilo e não apenas um prazer passageiro. É na união dos dois lados do ser, masculino e feminino, que correspondem aos dois hemisférios cerebrais em actividade que o ser humano transcende a dualidade dos opostos antagónicos.
O PRAZER E A DOR EM ARISTÓTELES
Ramiro Marques
Aristóteles define prazer como "um certo movimento da alma e um regresso total e sensível ao estado natural" (1). A dor é o seu contrário. O que produz a disposição para o prazer é agradável e o que a destrói é doloroso. É agradável e, portanto, dá prazer, o que tende para o estado natural e os hábitos também são igualmente agradáveis porque o que é habitual assemelha-se ao que é natural. É, também, agradável o que não resulta da coacção.
Por outro lado, é doloroso o que obriga ao esforço não querido ou não habitual e, de uma maneira geral, tudo o que traz preocupações ou envolve a necessidade e a coacção.
(...)
Por que razão o prazer e a dor são tão importantes na ética aristotélica? É que amar e odiar as coisas certas constitui o aspecto mais importante da virtude do carácter: "o prazer e a dor prolongam-se por toda nossa vida, e são de grande importância para a virtude e a vida feliz, uma vez que as pessoas decidem fazer o que lhes é agradável e evitam o que lhes é penoso" (4).
- Ora, a verdade é que não podemos nem exagerar a bondade nem a maldade do prazer. Se é certo que a dor deve ser evitada e aquilo que dá prazer deve ser procurado, importa, num caso e noutro, combinar as nossas escolhas com a inteligência, a compreensão e a sabedoria. Por outro lado, embora o prazer seja um elemento da vida feliz, a felicidade não se confunde com o prazer. Além disso, quando os prazeres provêm de fontes vis, não podem ser procurados pela pessoa virtuosa. É o caso da riqueza, que é um bem desejável, mas que o deixa de ser se resulta de uma traição. Decorre de tudo isto que "o prazer não é o bem, que nem todo o prazer merece ser escolhido, que alguns prazeres são intrinsecamente dignos de escolha, diferindo em espécie ou nas sua fontes dos que o não são" (5).
Aristóteles identifica diferentes espécies de prazer. Quanto mais prazer temos com uma actividade, mais aumenta a nossa vontade de continuar a actividade. Cada prazer aumenta a actividade que lhe está associado. E pode, inclusivamente, torná-la mais longa, exacta e melhor. É o caso do músico que tira prazer a fazer música e que, quanto mais prazer tem na actividade, melhor músico se torna. O mesmo poderíamos dizer do romancista, do poeta, do filósofo ou do matemático.
(...)
Ramiro Marques
Aristóteles define prazer como "um certo movimento da alma e um regresso total e sensível ao estado natural" (1). A dor é o seu contrário. O que produz a disposição para o prazer é agradável e o que a destrói é doloroso. É agradável e, portanto, dá prazer, o que tende para o estado natural e os hábitos também são igualmente agradáveis porque o que é habitual assemelha-se ao que é natural. É, também, agradável o que não resulta da coacção.
Por outro lado, é doloroso o que obriga ao esforço não querido ou não habitual e, de uma maneira geral, tudo o que traz preocupações ou envolve a necessidade e a coacção.
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Por que razão o prazer e a dor são tão importantes na ética aristotélica? É que amar e odiar as coisas certas constitui o aspecto mais importante da virtude do carácter: "o prazer e a dor prolongam-se por toda nossa vida, e são de grande importância para a virtude e a vida feliz, uma vez que as pessoas decidem fazer o que lhes é agradável e evitam o que lhes é penoso" (4).
- Ora, a verdade é que não podemos nem exagerar a bondade nem a maldade do prazer. Se é certo que a dor deve ser evitada e aquilo que dá prazer deve ser procurado, importa, num caso e noutro, combinar as nossas escolhas com a inteligência, a compreensão e a sabedoria. Por outro lado, embora o prazer seja um elemento da vida feliz, a felicidade não se confunde com o prazer. Além disso, quando os prazeres provêm de fontes vis, não podem ser procurados pela pessoa virtuosa. É o caso da riqueza, que é um bem desejável, mas que o deixa de ser se resulta de uma traição. Decorre de tudo isto que "o prazer não é o bem, que nem todo o prazer merece ser escolhido, que alguns prazeres são intrinsecamente dignos de escolha, diferindo em espécie ou nas sua fontes dos que o não são" (5).
Aristóteles identifica diferentes espécies de prazer. Quanto mais prazer temos com uma actividade, mais aumenta a nossa vontade de continuar a actividade. Cada prazer aumenta a actividade que lhe está associado. E pode, inclusivamente, torná-la mais longa, exacta e melhor. É o caso do músico que tira prazer a fazer música e que, quanto mais prazer tem na actividade, melhor músico se torna. O mesmo poderíamos dizer do romancista, do poeta, do filósofo ou do matemático.
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Uma vez que as actividades diferem na decência e na maldade, há algumas que são dignas de escolha e outras que se devem evitar; o mesmo é verdade para os prazeres, já que o prazer é uma actividade. O prazer adequado a uma actividade excelente é um prazer digno e o prazer próprio de uma actividade vil é vicioso. Da mesma forma, os apetites de coisas boas são dignos de escolha e os apetites de coisas vis são indignos de escolha. No essencial, podemos afirmar que há prazeres do pensamento e prazeres dos sentidos e que há prazeres dignos e prazeres vis. Os prazeres do pensamento são sempre dignos e os prazeres dos sentidos são dignos apenas quando andam associados com a virtude do carácter.
Na verdade, há coisas que dão prazer a certas pessoas, enquanto provocam dores noutras. Algumas pessoas consideram-nas agradáveis e estimáveis, enquanto outras pessoas as consideram lastimáveis. "(...)
Na verdade, há coisas que dão prazer a certas pessoas, enquanto provocam dores noutras. Algumas pessoas consideram-nas agradáveis e estimáveis, enquanto outras pessoas as consideram lastimáveis. "(...)
Quadro de Lena Gal
2 comentários:
E eu que postei tbm a respeito da dor hj bruxinha...
Sobre a dor e o prazer muitos pontos de vista há... e ainda bem... mas é inegável que o sequestro do prazer ou a deturpação do seu real sentido é um dos pilares do patriarcado, sobretudo a negação ao prazer feminino...
Beijinhos cheios de prazer...
Estamos de acordo no essencial mas eu sou uma nostálgica e inteiorista... O prazer nunca me entusiasmou muito, mas sim o êxtase...mas percebo o que você quer dizer!
abraço
rleonor
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