O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, junho 16, 2018

AS ALMAS NÃO TEM SEXO

"A rosa foi comparada à alma do homem por causa do seu desabrochar gradativo, do seu doce perfume e da sua exuberante coloração e manifestação de maturidade." - Harvey Spencer Lewis

"Enquanto que existimos no nosso corpo terreno, estamos sujeitos à lei da Natureza que é dualidade; e esta dualidade cria a afinidade entre os complementos separados.
Esta dualidade, que é a base e o mal inicial da Natureza, é também a base da nossa experiência terrestre cuja finalidade é ultrapassar esta mesma Natureza na procura do retorno à Unidade.
Ela é a base da nossa cultura de consciência, uma vez que lhe damos a possibilidade da escolha entre as qualidades opostas, entre o que é real ou relativo, bom ou mau para a nossa consciência actual.
A dualidade sendo a causa da sexualidade -- portanto, a afinidade entre os complementos -- é a causa do desejo que o ser humano chama amor.
O erro está em confundir amor, desejo e necessidade."*


AS ALMAS NÃO TEM SEXO, MAS A ANIMA É MULHER...

Precisamos perceber “que a masculinidade e a feminilidade são sempre relativos nos planos internos, e tal como o vigor físico dos indivíduos que formam um par oscila num sentido ou noutro, o mesmo se pode dar com a sexualidade; assim, um homem pode ser puramente masculino em suas relações com uma mulher e puramente feminino, ou negativo, em suas relações com outra. A forma determina o sexo do indivíduo no mundo físico, porém a força relativa é a que determina nos planos internos; e este facto serve de chave para muita coisa”.**

Independentemente desta visão esotérica acerca da ambivalência sexual do ser humano, só a um nível da estrutura do par, eu não entendo como é que eles os homens poetas e sábios, não compreenderam ou ainda não enxergaram, que o facto da mulher se manter ignorada e ignorante do seu papel na sua dimensão ontológica, na manifestação dos princípios, feminino e masculino, não pode expressar nem dar corpo à sua parte integrante se os homens continuam a omití-la como o faz o poeta sobre a rosa e portanto sem dar significado espiritual a mulher nem humano, sem respeitá-la e continuando a depreciá-la como o fizeram os doutores da igreja, os filósofos e até os poetas que não elegem a Deusa e a Musa como fonte de inspiração. E que não há verdadeira Mística sem a Mulher e a Rainha tal como é dito e apresentado na obra alquímica, como não há espiritualidade sem a mulher integrada!
Ela a Rosa ...
Eu pergunto-me como é que tantos autores de renome e de valor subestimaram ou nem se lembraram que a mulher ao ser minimizada e a sua natureza dividida mantendo-se cativa dos preconceitos religiosos seculares que se reflectem nos nossos dias em sentimentos bastante vastos e empedernidos de misoginia, do qual nem sei se Fernando Pessoa também não padecia…mas era fruto do seu tempo, (depois ele mudou).
Quase todos os escritores, historiadores, antropólogos, psicanalistas e cientistas em geral padeceram deste mal ao ponto dos antropólogos julgarem que as deusas de Willendorf, encontradas nas suas escavações e outras estatuetas de deusas, encontradas ás centenas, representantes do princípio feminino e maternal, símbolos de fecundação e do sagrado tal como era vivido e encarada a Deusa Mãe na antiguidade, serem para eles meros objectos eróticos à imagem do que hoje se fará com as mulheres na pornografia e na publicidade. Aí se percebe a mente tacanha do Homem em relação à mulher e se não fossem as antropólogas feministas dos meados do século XX tudo continuaria na mesma! Também algumas psicanalistas abordaram a questão, como Marie-Louize Von Fraz np seu livro Alquimia que diz:

"A experiencia da anima para o homem e do animus para a mulher está de facto, inteiramente fora de uma experiência real com um parceiro humano. A extensão em que o parceiro humano desempenha um papel – apenas como uma imagem longínqua ou como uma conexão genuína – varia de caso para caso, mas essa experiência é a suprema experiência, que culmina na experiência de Si – mesmo. (…)
A Igreja não encorajou esse género de literatura mística e religiosa, que, portanto, afectou profundamente a literatura semi-religiosa dos romances medievais, sobretudo a poesia do ciclo do Santo Graal e as suas lendas.”

- Precisamente por causa desta sua atitude a igreja provocou o afastamento da mulher, que por isso mesmo, com o passar do tempo, deixou de ser a musa inspiradora dos poetas e a Dama para os cavaleiros. Não só a mulher foi privada da sua essência como também toda a humanidade se perdeu da sua matriz. Nessa medida temos o homem isolado, rejeitando o seu próprio feminino.
E eu pergunto estupefacta, como é que ainda hoje os homens não vêem que essa separação da mulher e a sua cisão em duas no ocidente (sexualidade por um lado e maternidade por outro) priva a mulher da sua totalidade e idoneidade como pessoa e que ao privá-la da sua sexualidade sagrada e capacidade mediúnica, a mulher tornou-se um ser amorfo e subalterno, obediente ao homem sem discernimento próprio e sem capacidade sequer para ser mãe nem amante.

(republicando)
rosa leonor pedro
* in "L'OUVERTURE DU CHEMIN" DE ISHA SCHWALLER DE LUBICZ
* Dion Fortune

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