O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 13, 2018

O AMOR...


"E eis que sinto que em breve nos separemos. Minha verdade espantada é que sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Que as vezes extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que a solidão pode se tornar em dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em silêncio. Preciso de segredos para viver."  

 in ÁGUA VIVA - Clarice Lispector


O AMOR A PRIMEIRA VISTA


“O amor à primeira vista, irresistível vaga pulsional, transporta o individuo para fora de si mesmo, provoca o êxtase, um orgasmo mental, de certo modo. Irrupção angustiosa, em certa medida, sem duvida, desdobramento de exaltação, criador de prazer e de alegria, por outro lado, sem dúvida também. Impressão de se ser levado por qualquer coisa de mais poderoso que nós e que nos ultrapassa. Ao mesmo tempo o sentimento de uma coincidência inesperada, de um... encontro milagroso entre o real e o imaginário. Impressão, finalmente, de uma espécie de predestinação, como se, desde sempre, aquele individuo nos estivesse prometido ou destinado. Dir-se- á que se trata de uma repetição, de uma redescoberta, que a longa preparação imaginativa do amor elaborou pacientemente a partir de determinado modelo ou substituto edipiano – que se trata de uma imagem, de um protótipo inconsciente do objeto, a descobrir, a seduzir, e pelo qual se será descoberto, seduzido?”


Christian David

O estado amoroso, ensaios psicanalíticos 1971
Publicada por cristina simões

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