O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 08, 2020

a verdadeira compaixão


"A única maneira de nos ligarmos a alguém em profundidade é ir no sentido do que é mais profundo em nós mesmos. Por outras palavras, seguir o caminho inverso daquele que tomam os espíritos ditos “generosos”." E. Cioran

"A bondade é a delicadeza das almas grosseiras." Fernando Pessoa

"Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa."

F. Pessoa  - Livro do Desassossego
 

A VERDADEIRA COMPAIXÃO~

Há dias falava com uma amiga  sobre a ideia de que nos tomem  por insensíveis pelo facto de ser lucidas e vermos as coisas um pouco cruamente… 
Na verdade eu sei que corro esse risco mais do que ninguém  porque há coisas que não me comovem nem me impressionam por saber que são especulação do sofrimento e aproveitamento da dor alheia para encontrarmos justificação para a nossa própria dor…e ignorância!
Sei que muitas pessoas  não gostam deste meu lado...e ficam chocad@s com a  minha frieza...
Sim, certas coisas são cruéis de se dizer, mas porque eu sei que há tanta gente a aproveitar-se da dor alheia para se afirmar ou valorizar ou esquecer a sua ou porque vejo a falsa compaixão a vir ao de cima ou o sentimentalismo barato que se confunde com simpatia e empatia e até amor… e é opor isso que sou tão realista e implacável com essas manifestações vulgares nas quais embarcamos de imediato e sem discernimento…
Julgamo-nos muito altruistas ou compassiv@s por nos associarmos a dor de alguém mas pouc@s de nós tem noção da sua própria dor e causas… sem percebermos é claro que "A piedade é um reflexo pessoal diante da dor do outro apreciada pelo eu (pequeno); é a reacção do humano (inferior) que receia por si mesmo ter uma dor semelhante, ou então é a condescendência do benfeitor que se desculpa, por esse gesto de ser privilegiado.
Em todos os casos, é a impressão relativa da sua própria sensibilidade, uma apreciação pessoal (egoica).
Como é que o homem ignorante poderia decifrar a multiplicidade das causas e dos efeitos? Os senhores da compaixão que oferecem a sua beatitude para minorar o sofrimento humano, não tirariam a ninguém as provas (lições) necessárias para a sua evolução.
Estas palavras revoltarão aqueles que fazem parte “deste mundo”, porque eles praticam a piedade a fim de eles mesmos beneficiarem dela directamente (paga pelo bem que fazem). É por isso que é importante diferenciar a piedade arbitrária e a falsa caridade do altruísmo compassivo e desinteressado.(…)

Quanto ao altruísmo causado por um sentimento real de solidariedade provocado pelo sofrimento de alguém, pode haver duas fontes. A primeira é a consciência instintiva da solidariedade da espécie (animal e humana): é o altruísmo do animal e o do ser humano que escutam a sua consciência inata. A outra fonte, que é a consciência da solidariedade espiritual da Humanidade, é um grau superior deste altruísmo quando totalmente isenta de egoísmo, e que é a mais alta compaixão, impessoal e desinteressada. A “Via do Coração” é a que conduz directamente a ela.”
(…)
 ISHA SCHWALLER DE LUBICZ – in L’ OUVERTURE DU CHEMIN 

 

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