O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, abril 30, 2020

O AMOR HUMANO



"VÊS A REALIZAÇÃO DO CASAL COMO UMA NECESSIDADE PARA O SER HUMANO?

 - Penso que é uma necessidade, mas eu a destacaria dos problemas da sexualidade. Quanto mais progredimos na compreensão dessas energias, mais nos damos conta de que o aspecto material - tal como é vivido hoje - é uma espécie de degradação do que é verdadeiramente amor. Não digo que essa busca deva fazer-se sem a expressão concreta da sexualidade, mas - nas condições culturais actuais - a sexualidade está pervertida para muita gente. Os mídia desenvolvem insidiosamente a necessidade de sensações fortes, a busca do orgasmo mítico, um “reality-show” da alma."
(...)
A visão material da vida que temos de nos servir unicamente dos cinco sentidos é frustrante. Ela nos mostra apenas uma faceta limitada da realidade, e sua própria estrutura nega a existência eventual de um diamante em bruto a descobrir nos espaço-tempos transcendentes que sempre lhe serão estranhos.(...)

in O HOMEM ENTRE O CÉU E A TERRA - Etienne Guillé



"Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa." F. Pessoa


Há sempre um momento em que essa verdade nos atravessa. Há sempre um momento em que o sonho cessa. Há sempre um momento na vida em que nos tornamos espectadores de nós mesmos e indesejáveis na vida dos outros...
Acontece quando nos sentimos afastados repentinamente do palco de grandes amizades ou amores por nos termos tornado num espelho demasiado incómodo...
Já tive essa experiência algumas vezes na vida, e sempre que aconteceu doeu-me na "carne da minha alma", como diz F. Pessoa.

Na verdade nós soubemos sempre o que realmente a outra pessoa sentia quando nos dizia amar... Deixamo-nos enganar porque queremos. Durante anos podemos até acreditar, mas no fundo sabemos qual o sentimento velado da pessoa, e o nosso, mas não queremos ver e mantemos um pacto de interesses e é num dado momento preciso, inesperadamente, que nos cai em cima a certeza fulminante de que a verdade é mesmo aquela intuíamos e que não queríamos admitir nem ver do início... Ninguém ama realmente quem somos!
Isso coincide quase sempre com uma mentira flagrante ou traição mas na verdade é apenas a queda da ilusão (ou a retirada da projecção), com a qual todos somos coniventes quando pensamos que alguém nos ama ou julgamos amar alguém...
O amor humano é apenas uma projecção ideal do que desejamos...aceitamo-lo por carência ou conveniência...por solidão ou vaidade. Às vezes só por orgulho!
A ilação a fazer ou a lição a tirar é que é mais fácil de facto perdoar e aceitar pessoas que nos mentem e nos traem do que pessoas que nos espelham uma verdade que não queremos ver...Todos queremos viver o sonho e a ilusão e nos custa a face cruel da realidade ou a sua crueza...

Sempre pensei assim no fundo e sempre aconteceu assim na verdade. Apenas como toda a gente embalei da ficção. Agora vão-me dizer que fui eu que co-criei isso e que o amor entre os humanos é possível...mas eu não creio. Só amor incondicional é verdadeiro, o amor que está acima da necessidade ou do desejo e nós estamos muito longe de o viver no nosso quotidiano...Nós somos todos sub-humanos e creio que só agora caminhamos para verdadeiros Humanos.
E como diz o poeta doutra forma:

"Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de que me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhecê-las durezas. Todos os pesos visíveis de objectos me pesam por a alma dentro.
A minha vida é como se me batessem com ela."


F. PESSOA


rosaleonorpedro

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