Convivo com assassinos
Não são intelectuais: são apenas profissionais eficazes.Dado um fim, alcançam-no muitas vezes
com a máxima economia de meios.
Mesmo quando o fim consiste, tantas vezes assim é,
na máxima delapidação de meios
conseguem sair-se bem com elegância.
Convivo com assassinos.
Cheiram muito bem. É agradável
o seu humor profissional.
Praticam o beija-mão com alegre ferocidade.
Nos lábios sempre um sorriso
que poderia passar por autêntico
e por certo é.
Convivo com assassinos.
Adoram Bruckner ou Moramdi.
O seu sentido estético está tão desenvolvido
quanto a sua profissão exige, pois eles
são bons profissionais. Capazes
de começar a chorar diante de uma orquídea.
Depois regressam à sede do conselho de administração
para planearem a próxima operação comercial.
(Poesia espanhola de agora, vol II, Relógio D' Água, Lisboa, 1997, p. 653 e 659, tradução de Joaquim Manuel Magalhães)
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