”A carruagem da masculinização, que trouxe numa mesma braçada o racionalismo religioso e o positivismo científico, provocou a dessacralização da sexualidade e a redução do eros a festim da corporal – se é que ainda é festim!”**
A “pilhagem dessacralizante da Mater”, como disse Natália Correia*, aconteceu há muito, desde os primórdios da nossa civilização; tudo aconteceu em detrimento da mulher e do Princípio Feminino. E é essa pilhagem do seu ser a que assistimos ainda hoje, neste tempo dito moderno…
O Espírito que era a Mãe, a Matriz ou “A raíz do verdadeiro unificante”* perdeu-se e desde então a mulher foi tratada como uma “espécie” inferior. Desde então a mulher passou a perseguida e explorada pelos patriarcas do deserto e pelos padres cristãos, pelos líderes de todas as ideologias e chefes religiosos de todas as seitas e quase sempre objecto de escárnio e ódio por parte dos homens em geral.
A mulher foi ancestralmente classificada como fonte do mal e do pecado, sendo “suja” a sua natureza e fraca e consciente ou inconscientmente é essa perseguição milenar que a torna ainda vítima ou o “bode expiatório” dos homens em todo o mundo e em todas as escalas socias…
E quando os homens “fazem amor” é para descarregar a sua raiva ou a sua frustração sobre a mulher como se o seu corpo fosse um contentor de lixo. Se o “fazer amor” é apenas o extravasar de uma espécie de ódio e frustração social e humana, a mulher é duplamente vítima…É por serem tratadas dessa maneira que as mulheres sofrem das mais variadas doenças nomeadamente o cancro.
Se bebem e ganham mal batem na mulher e nos filhos. Se o seu Club preferido perde é a mulher que paga e paga se corre mal o dia no trabalho e o patrão o afronta...é culpada a mulher se ele é impotente ou se é desgraçado ou pobre. Em todo o mundo é generalizado de uma forma ou de outra, a mulher como culpada dos vícios do homem e é sempre ela quem paga a factura da sua frustração, seja porque a deseja seja porque a odeia. É presa por ter cão e por não ter…
“Reina tanto mais a confusão quanto uma clivagem se cava no coração da humanidade; está em ressonância quase completa com aquela que eu exprimia mais atrás, separando o homem da mulher: de um lado estão aqueles, homens e mulheres, que por enquanto só olham para fora (…), a seu ver normativa em si mesma; do outro estão os que se viram para o oriente. Os primeiros debatem-se num dilúvio de violência e não sabem mais do que sobreviver radicalizando ao extremo, no terror de uma perda de segurança, os velhos esquemas masculinizados das éticas religiosas, políticas, sociais, etc; os segundos, começam a aceitar morrer para esses valores passados, porque aceitam morrer para esses valores passados começam a viver.”**
**Annick de Souzenelle
imagem: artemísia g.
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